Atritos com Congresso, disputa por poder e poucos resultados marcaram o primeiro semestre de Bolsonaro no comando do país. Para analistas, natureza impulsiva do presidente é contraproducente.Vídeos duvidosos, grandes provérbios, muitos tuítes e pouca política de verdade. Em seis meses turbulentos como presidente, Jair Bolsonaro desperdiçou capital político e decepcionou as expectativas. O troco: apenas 32% da população considera seu trabalho ótimo ou bom, segundo pesquisa divulgada na última semana. E a tendência é cair ainda mais.
A queda de popularidade não é de admirar, o projeto favorito do líder, e principal promessa durante sua campana, a liberação de armas de fogo, fracassou até agora diante da resistência do Congresso.
E também a luta contra a corrupção, seu segundo cavalo de batalha, não avançou. Seu próprio partido, o PSL, teria desviado financiamento de campanha. E seu filho Flávio Bolsonaro está envolvido em transações imobiliárias duvidosas e é suspeito de empregar funcionários fantasmas em seu gabinete – incluindo membros do submundo carioca.
A economia também deixa a desejar. O Banco Central acabou de reduzir a previsão de crescimento da economia para 2019 de 2% para 0,8%.
O ministro Guedes também anda insatisfeito com o fato do Congresso ter modificado sua reforma da Previdência, fazendo seu próprio esboço. Nesse contexto, os parlamentares mostram mais interesse na reforma previdenciária do que o próprio presidente.
Recentemente, os antiglobalistas em torno de Olavo de Carvalho, guru da nova direita brasileira e inspiração intelectual de Bolsonaro e seus filhos, ganharam a dianteira, alertando contra a conspiração mundial marxista, que há muito tempo teria se infiltrado em instituições globais como as Nações Unidas, inventando mentiras como as mudanças climáticas.
Devido a isso, uma série de militares altamente condecorados e defensores de um governo mais sóbrio teve que deixar o governo. Politicamente inexperientes, eles se envolveram em disputas de poder desnecessárias com o entorno mais próximo de Bolsonaro.
Isso inclui também o ministro da Justiça, Sergio Moro, visto como estrela do gabinete ministerial em Brasília. Como juiz federal, Moro pôs atrás das grades o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, arqui-inimigo e adversário de Bolsonaro. Mas depois da recente divulgação de supostas conversas entre Moro e procuradores da Operação Lava Jato, o futuro político do ministro parece incerto.
Paradoxalmente, para Bolsonaro, a fraqueza de Moro é bastante positiva, já que assim o presidente pode se destacar da antes dominante figura do ex-juiz. E, ao mesmo tempo, ele se livra do provável maior desafiante para a reeleição em 2022.
Dada as dissonâncias no gabinete de governo, Bolsonaro aposta agora cada vez mais na ocupação de postos importantes com figuras de seu “círculo interno”, velhos amigos e pessoas da família.
Política Externa
Na política externa, também há embates, como recentemente entre a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e Bolsonaro sobre a questão do desmatamento na Amazônia. Apenas alguns anos atrás, havia uma cooperação construtiva nessa área.
Da mesma forma que seu ídolo Donald Trump, Bolsonaro parece funcionar melhor em modo de campanha do que na rotina diária do governo e já está falando sobre sua reeleição em 2022.