
Pré-candidato a governador do RN, o senador Rogério Marinho (PL) defendeu nesta sexta-feira 1º que o Governo do Estado busque revisar a distribuição dos recursos públicos entre os poderes, especialmente em momentos de crise fiscal. Para ele, o Judiciário, a Assembleia Legislativa e o Ministério Público devem devolver parte dos duodécimos ao Executivo, responsável direto por manter os serviços essenciais à população.
“Não é possível que, no final do ano, sobre dinheiro no Judiciário, MP, Assembleia e eles, ao invés de devolverem para o RN, repactuem com seus membros ou façam outras ações. O Executivo, que seria aquele que iria ter a responsabilidade de prover políticas públicas para o conjunto da sociedade, é o primo pobre dessa partilha de recursos”, afirmou, em entrevista à Jovem Pan News Natal.
Ele criticou a falta de enfrentamento por parte dos governadores nas últimas duas décadas. Segundo ele, falta liderança para abrir diálogo com os chefes dos demais poderes sobre a situação financeira do RN.
“Há 20 anos não tem um governador com a coragem e legitimidade de sentar-se numa mesa e – não é impor – conversar com os presidentes dos poderes e dizer: ‘cada um de vocês tem que dar a sua cota de responsabilidade’. Porque o RN depende de todos nós”, enfatizou.
Para ele, é preciso coragem para ser disruptivo, com medidas que, mesmo impopulares, garantam o funcionamento mínimo do Estado. E citou a precariedade da estrutura pública para justificar a urgência dessas mudanças. Entre outras medidas, ele citou a necessidade de não conceder aumentos reais a servidores públicos – o que representaria uma espécie de congelamento de salários.
“Não dá para todos os anos um governador posar de bonzinho fazendo plano de carreiras para funcionários públicos e faltar esparadrapo em hospitais regionais. […] Não dá ter estruturas inservíveis, que custam dinheiro ao contribuinte, e ter estradas sucateadas. Ter escolas sem condição de proporcionar uma educação de qualidade”.
“RN está em coma”
Marinho traçou um quadro de colapso da gestão estadual, dizendo que o RN “não está em um estado ruim, mas catastrófico. Eu diria em coma”. Segundo ele, o RN ocupa o último lugar em cinco dos sete indicadores nacionais de proficiência estadual, sendo o 22º nos demais.
Ele fez críticas diretas à governadora Fátima Bezerra (PT), a quem reconheceu como uma figura respeitável do ponto de vista pessoal, mas reprovável do ponto de vista administrativo.
“Quem nos governa há quase seis anos é uma governadora que é professora, mas o Estado é o último colocado no Ideb (Índice de Desenvolvimento de Educação Básica). Do ponto de vista gerencial, ela é um desastre. É como se fosse um piloto de teco-teco no manche de um Boeing. Ela não sabe o que está fazendo. E quem está sofrendo são os passageiros. Somos nós”, disparou.
O senador afirmou que está trabalhando com sua equipe na elaboração de um projeto alternativo para o Estado, que será construído ouvindo a população. “Só fazer a crítica é muito confortável. Só jogar pedra na vidraça é muito cômodo, é muito conveniente. Então, por isso é que nós estamos tendo a responsabilidade de fazer um projeto para o Estado, ouvindo a população, identificando os problemas e apresentando as alternativas de resolução.
Disputa eleitoral de 2026 e alianças: “Direita tem um pré-candidato”
Ao falar sobre as eleições de 2026, Rogério Marinho reforçou que a direita já tem um pré-candidato no RN, referindo-se a si próprio, e diferenciou sua posição da do ex-prefeito de Natal Álvaro Dias (Republicanos) e do prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra (União). Segundo ele, Álvaro e Allyson são representantes do centro ou centro-direita.
“A direita tem um pré-candidato. A esquerda tem um pré-candidato, que é o Cadu Xavier (PT). E existem candidatos do centro e centro-direita, que são respeitáveis. O Allyson e o Álvaro estão nesse espectro da política”, afirmou.
Para ele, a união é bem-vinda, mas não pode ocorrer apenas em torno de nomes, e sim com base em projetos que rompam com a lógica atual. “Essa união é para chegarmos juntos. Nós queremos o apoio deles. Estamos dispostos a nos compor. Agora, não em torno de nomes. Em torno de um projeto”.
Marinho defendeu que os políticos assumam compromissos claros com mudanças estruturais e deixem de lado o “politicamente correto”.
“Só vou votar em alguém que esteja disposto a fazer a discussão comigo. Não dá mais para a gente fazer de conta que vamos votar em alguém que é muito bonito, que é muito simpático, que tem uma música interessante. Eu não vou ser aquele que vai dizer o que agrada ao politicamente correto”.
Ao ser questionado se abriria mão de um projeto estadual para disputar uma vaga nacional, o senador respondeu que já comunicou ao partido sua disposição de disputar o Governo do Estado, mas que a definição será feita no fim do ano.
“Eu já disse ao meu partido que estou imbuído da convicção da necessidade de me colocar na disposição do Estado para o governo do Estado. Agora, é evidente que no final do ano nós vamos fazer essa avaliação junto com a cúpula nacional e também vamos escutar o povo do RN”.
Ruptura com elites
Marinho declarou que só será candidato ao governo se puder apresentar um projeto de transformação capaz de enfrentar “castelos” e “corporações”. Ele disse que o Estado chegou a um nível de deterioração sem precedentes e que é preciso romper com o que chamou de cultura da “má gestão continuada” dos últimos 20 anos. E que a decisão de disputar o governo em 2026 dependerá da capacidade de construir um plano corajoso, com reformas profundas, e de reunir forças políticas capazes de sustentar essa proposta.
“O RN é hoje o 27º Estado em solidez fiscal, sustentabilidade ambiental, investimento público e desempenho na educação básica. Está em penúltimo lugar em eficiência da máquina pública e potencial de mercado. A situação se agravou extraordinariamente nos últimos seis anos, e quem epaga a conta é o povo”, afirmou.
Para o senador, o atual governo acelerou a decadência do Estado e o transformou em um local hostil para quem quer empreender. “A governadora comemora o pagamento de salário em dia enquanto os hospitais regionais estão sucateados, falta esparadrapo no Walfredo Gurgel, e as estradas estão destruídas”.
Marinho garantiu que não abrirá mão da responsabilidade de debater o futuro do RN. Ele disse estar disposto a construir uma alternativa com coragem para enfrentar privilégios e romper com práticas que considera anacrônicas. “É preciso ter coragem para quebrar castelos, mexer com corporações e fazer o que tem que ser feito. Nós temos cerca de dois mil imóveis públicos no Estado, e isso enquanto falta infraestrutura básica nas escolas, nas estradas, nos hospitais”, afirmou. Ele também criticou o modelo de gestão centrado apenas no funcionamento da folha de pagamento: “É gerir folha e deixar o Estado afundar”.
Marinho afirmou que, caso decida ser candidato, levará adiante reformas como a administrativa, já defendida por ele no Congresso. “Sou o mesmo que fez a reforma trabalhista, conduziu a previdenciária e defendeu o fim dos supersalários. Sempre defendi o equilíbrio das contas públicas e o respeito ao contribuinte”. Segundo ele, o próximo governador precisa ser alguém disposto a enfrentar pressões políticas e resistências corporativas, com respaldo popular. “É uma missão. Não é algo para alguém que só quer administrar o cotidiano”.
Apesar de aparecer nas primeiras posições em pesquisas recentes, o senador evitou confirmar a candidatura. Disse que ainda há tempo e que o foco do seu grupo é construir um projeto viável, com apoio de partidos e da sociedade. “Nós temos até as convenções de 2026 para definir, mas já estamos trabalhando. Realizamos 35 oficinas e cinco seminários no interior. Estamos ouvindo a população. O sexto seminário será em Natal, no dia 16 de agosto”.
Questionado se sua atuação nacional o afastaria da base potiguar, o senador respondeu que presença não é apenas física. “Não adianta estar em Pau dos Ferros e não resolver o problema do hospital regional. As pessoas precisam de água, emprego, escola funcionando, e isso só se faz com projeto, competência e capacidade de atrair investimento”. Ele defendeu um ambiente com previsibilidade, segurança jurídica e regras claras para atrair capital privado.
Marinho também criticou o uso político do Estado e o que chamou de “populismo administrativo”. Para ele, o desafio é devolver ao RN sua capacidade de investir e planejar o futuro. “A gente precisa reconciliar o Estado com a população. Isso se faz com um projeto firme, reformas profundas e enfrentamento. Se não for para isso, não contem comigo”.
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