
O presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern), Roberto Serquiz, afirmou que o próximo governador do Estado terá a obrigação de enfrentar de imediato a crise fiscal que limita a capacidade de investimento da administração estadual. “Hoje se governa para pagar folha. Esse é o maior problema do Estado”, disse. Segundo ele, o desafio fiscal compromete diretamente obras, infraestrutura e atratividade econômica. “O próximo governante precisa colocar isso como prioridade já no primeiro mês de gestão.”
Durante entrevista à Band RN, Serquiz defendeu que o governo estadual busque apoio federal para viabilizar soluções, especialmente para áreas como infraestrutura e logística. Ele citou o caso do Porto de Natal, que, segundo estudo da Fiern, exige um investimento estimado em R$ 250 milhões. “A situação do nosso porto precisa ser resolvida. É uma questão de competitividade. Nossa produção está saindo pelo Pecém, no Ceará, por Suape, em Pernambuco, e agora pelo porto de Cabedelo, na Paraíba”, explicou. A perda de cargas para estados vizinhos encarece o frete e fragiliza a indústria potiguar.
O levantamento feito pela Fiern indica que, com investimentos em dragagem, guindastes e escâneres, o Porto de Natal poderia gerar uma movimentação financeira de até R$ 1 bilhão em apenas um ano. Para Serquiz, o custo da inércia é alto demais. “A Paraíba está fazendo uma ponte de Lucena para Cabedelo e olhando para a mercadoria que sai do RN pela BR-101. Eles se preparam. E nós?”.
O presidente da Fiern voltou a afirmar que a crise fiscal do RN precisa ser enfrentada com seriedade e urgência. “O Estado não pode mais ficar paralisado. A pauta da infraestrutura não pode esperar. Ou atacamos o problema ou vamos continuar perdendo oportunidades. Quem assumir o governo em 2027 vai ter que começar por aí.”
Ao tratar da relação com o Governo do Estado, o presidente da Fiern relatou que entregou à governadora Fátima Bezerra (PT) uma agenda propositiva em abril de 2024. O documento inclui temas como a modernização da legislação ambiental (Lei Complementar 272/2004), a criação de uma política industrial estadual e a regulamentação da transação tributária. Segundo ele, alguns pontos vêm avançando, como a Parceria Público-Privada (PPP) e a própria transação tributária, que pode reativar CNPJs e recuperar parte dos R$ 10 bilhões inscritos na dívida ativa estadual.
Serquiz afirmou que o Estado precisa garantir segurança jurídica, velocidade no licenciamento ambiental e previsibilidade fiscal para atrair novos empreendimentos. Ele defendeu que o Rio Grande do Norte invista não apenas em seus ativos naturais – como sal, fruticultura, petróleo e pesca –, mas também em indústrias de transformação, como confecção, móveis e plástico. “O RN tem riqueza, mas precisa transformá-la em qualidade de vida para as pessoas. Isso se faz com emprego e bem-estar”, afirmou.
Questionado sobre os efeitos da recente sobretaxa de 50% anunciada pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, Serquiz demonstrou preocupação. No caso do RN, a medida afeta diretamente os setores de pesca (especialmente atum), sal, fruticultura, petróleo e doces, como balas e caramelos. “Esses segmentos empregam 29 mil pessoas. É uma ameaça real à nossa economia.”
Segundo o presidente da Fiern, mais de 80% das exportações desses segmentos têm como destino o mercado americano. “É impossível migrar de imediato para novos mercados. Existe uma cultura de consumo que foi construída ao longo de anos. O impacto é devastador.” A Fiern vem se articulando com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Governo do Estado e o Governo Federal na tentativa de negociar uma prorrogação ou uma saída diplomática que evite prejuízos maiores.
Serquiz informou que uma carta conjunta dos setores produtivos está sendo elaborada para pressionar o Governo Federal a intervir nas negociações com os Estados Unidos. “Não houve qualquer motivação econômica para essa taxação. É um problema político. O Brasil precisa agir com moderação, mas com firmeza, para proteger seus setores produtivos”, defendeu.
Agora RN

