O Rio Grande do Norte foi o estado do País com o maior percentual de famílias inadimplentes em abril, de acordo com dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O índice, conforme o levantamento, é de 55,9%.
Segundo a Fecomércio-RN, em números absolutos, esse percentual equivale a 149.418 famílias potiguares com contas em atraso. Além disso, uma pesquisa do SPC Brasil aponta que o número de pessoas na inadimplência cresceu 4,42% no RN no mês passado. A alta é superior à elevação média do Nordeste (0,77%) e do Brasil (2,84%) no mesmo recorte.
Além disso, segundo o SPC, cujos dados foram fornecidos pela CDL Natal, a quantidade de dívidas em atraso no Estado cresceu 10,75% no comparativo entre abril de 2023 e o mês passado (no mesmo período, as dívidas em atraso cresceram 4,67% no Nordeste e 5,24% no Brasil). O economista William Eufrásio Nunes explica que, para alguns órgãos como o SPC, dívidas atrasadas são aquelas que o consumidor não conseguiu pagar no prazo de vencimento. Se ele não conseguir quitar em cerca de 30 dias, geralmente, passa a ser inadimplente (negativado).
A pesquisa da CNC não faz essa distinção – a dívida em atraso no mês já caracteriza inadimplência. O levantamento da Confederação indica, contudo, que em abril 2% das famílias potiguares afirmaram que não irão conseguir pagar as contas em atraso nos meses seguintes. Já o número de famílias endividadas (aquelas que contabilizam contas que não estão atrasadas, mas que exigem comprometimento de renda de três meses, no mínimo), segundo a PEIC, ficou em 88,3% em abril no Rio Grande do Norte, o sétimo maior do País e o segundo do Nordeste (o Ceará teve índice de 88,9%). No Brasil, o índice foi de 78,3%.
Para o professor William Eufrásio, ao analisar o Estado de forma isolada, observa-se que o cenário tem a ver, dentre outros aspectos, com as taxas de emprego aliadas ao comportamento dos consumidores, curiosamente. “Isso se explica porque, geralmente, quando a pessoa está desempregada, ela não compra, mas quando se insere no mercado de trabalho, passa a comprar e a parcelar, o que aumenta as chances de atrasos [para quitar as dívidas]”, detalha.
Em comparação com os outros estados, no entanto, o professor afirma que o fato de o RN liderar o percentual de famílias com dívidas atrasadas tem a ver com dois fatores: um desenvolvimento maior dos índices de emprego, bem como uma melhor valorização de salários nas demais unidades federativas.
“Mesmo se a gente comparar com estados maiores, nós percebemos que, nesses locais gerou-se mais emprego e maior renda do que aqui no RN. Os fatores que levam ao processo de atraso [de dívidas] e inadimplência não são somente o desemprego e os baixos salários, mas também a própria retomada do crescimento quando o indivíduo começa a recompor aquele consumo que antes não tinha”, esclarece o professor.
A estagiária de pós-graduação Patrícia Lima, de 28 anos, endossa os dados sobre inadimplência no RN, mas garante que tem se organizado para reverter a situação. “Tenho dívidas vencidas de mais de cinco anos, outras de cerca de um ano, além de contas que eu parcelei. Geralmente, se referem a compras em lojas, com valores que somam cerca de R$ 1 mil. A que eu parcelei é de R$ 800. Confesso que acabei me descontrolando mesmo e, por isso, adquiri as dívidas”, conta Patrícia.
No RN, segundo a Fecomércio, são 236.296 famílias endividadas. Deste total, além das mais de 149 mil inadimplentes, 5.230 alegam não ter como quitá-las. Entre os principais tipos de dívidas informados, o cartão de crédito (94,8%), os carnês (20,3%) e o cheque especial (17%) continuam sendo os mais frequentes. O professor William Eufrásio Nunes afirma que, para reverter o cenário de endividamento, é preciso fazer uma contenção radical de consumo.
“A dica é observar tudo aquilo que efetivamente é supérfluo, fazer cortes para gerar superávit e assim começar a pagar as dívidas. Mesmo não tendo essa possibilidade, digamos, se a pessoa acha que não pode cortar mais, tem a negociação independente, que é sempre um passo importante para reduzir preços, dilatar prazos e conseguir melhores taxas de juros. Então a negociação e a pechincha são fundamentais para os endividados”, orienta o economista. “Fiz um planejamento, observando a dívida que tem mais juros e que pode causar mais prejuízos e estou me organizando para pagar”, garante Patrícia Lima.
Números
– 10,75% é o crescimento do número de pessoas com contas em atraso no em abril de 2024 (comparado a abril de 2023) no RN;
– 4,42% é o crescimento do número de inadimplentes em abril de 2024 (comparado a abril de 2023) no RN;
Famílias endividadas no RN
– 236.296 (88,3%) Famílias com contas em atraso
– 149.418 (55,9%, maior percentual do País)
– Não têm condições de pagar 5.230 (2%)
Tribuna do Norte