Líder nacional na produção de energia eólica, o Rio Grande do Norte recebeu nesta quarta-feira (15) a abertura de uma especialização técnica voltada exclusivamente para mulheres, com foco em manutenção e operação dos parques de produção da energia dos ventos. Essa é a primeira formação do tipo no estado.
O curso é voltado para mulheres que já têm pelo menos formação técnica na área. Caso de Thaysa Mota, de 28 anos, que é técnica em mecânica e está concluindo a graduação em engenharia elétrica pela Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa), em Mossoró.
Ela afirmou que soube do processo de seleção pelas redes sociais. Casada, mãe de duas meninas, concluindo uma graduação e ainda trabalhando em uma indústria de outro segmento, ela não abriu mão de dedicar tempo para a especialização.
“Tem tudo a ver com meu sonho e a carreira profissional que estou construindo”, afirma.
De acordo com a profissional, a atuação no setor é desafiadora especialmente para as mulheres. Ela conta que desenvolveu interesse pelas energias renováveis desde a época do ensino médio.
“Estamos aqui para provar que temos capacidade para ocupar esses espaços. Passei por ambientes que diziam que esse não era meu lugar. Que não não poderia estudar por ter filhos. Mas nunca aceitei determinações sociais, de que não poderia ter uma carreira. É uma luta diária”, disse.
Formação
Ao todo, foram selecionadas 76 mulheres com formação em áreas como eletrotécnica, mecânica e segurança do trabalho. Elas são de 18 municípios potiguares diferentes. O curso tem carga horária de 460 horas – o equivalente a aproximadamente seis meses – e será oferecido gratuitamente, com aulas online (ao vivo) e um encontro presencial, no Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGas-ER), do Senai-RN.
A formação é realizada em uma parceria com a empresa de energias renováveis AES Brasil e tem objetivo de ampliar a participação feminina no setor, que ainda tem maioria de profissionais homens.
No evento de abertura do curso, a empresa anunciou que deverá contratar pelo menos parte das profissionais que concluírem a formação para a operação do Complexo Eólico Cajuína, que está em fase de construção na região Central potiguar.
De acordo com Clarissa Sadock, CEO da AES Brasil, 100% da equipe de operação e manutenção do parque será formada por mulheres.
“Para esse parque nós vamos precisar de de um time para operar. Naturalmente precisamos fazer um curso de especialização para preparar esse time e aí veio a ideia de aproveitar a oportunidade do fato de a companhia estar crescendo, de estar contratando novos colaboradores, para trazer mais inclusão para o time de operação, que é um time historicamente majoritariamente masculino”, afirmou Clarissa.
“Nada melhor para acelerar essa transformação, acelerar o processo de diversidade, que aproveitar essas novas vagas para trazer mulheres para dentro da operação. E aí surgiu também a ideia de ser um parque 100% operado por mulheres”, declarou.
O Complexo Eólico Cajuína é o terceiro empreendimento da AES Brasil no Rio Grande do Norte e poderá chegar a uma capacidade instalada total de 1,6GW. A primeira fase do complexo terá 324,5 MW de capacidade instalada, com 55 aerogeradores. A segunda fase terá 370,5 MW. Esses 695 MW do empreendimento já se encontram em fase de construção.
Ainda de acordo com a diretora, uma equipe de operação e manutenção conta com cerca de 30 profissionais, além da central de operações da empresa. Portanto, de acordo com ela, a participação no curso não garante a contratação.
“De todo modo, a gente deixar como legado mulheres prontas para operar nossas próximas fases ou outros parques, visto que a região do Rio Grande do Norte é uma das mais fortes na indústria de energia eólica”, considerou.
O curso recebeu cerca de 600 currículos e o número de vagas original, que era 60, foi ampliado para 76, devido ao alto nível das candidatas interessadas, segundo as instituições envolvidas.
Participação feminina
Diretor do Senai, Rodrigo Mello explica que, além de fomentar a paridade entre sexos, a ação visa incluir a mulher em um mercado que tem uma média salarial maior que outros setores da indústria.
Ele também ressaltou que há um crescimento da procura do público feminino por formações na área, embora ainda seja minoria. “Em 2015, apenas cerca de 7% das matrículas nos nossos cursos eram de mulheres. No ano passado, essa marca superou os 14%”, pontua.
Ainda de acordo com Rodrigo, as mulheres representam atualmente aproximadamente 20% da mão de obra do setor de energia eólica. Nas renováveis, como um todo, o percentual é próximo dos 32%.
“A sociedade está buscando maior igualdade, melhor qualidade de vida das pessoas, no assunto ambiental, econômico, de infraestrutura, de acesso a condições básicas para a vida. E certamente a empregabilidade e a oportunidade na vida profissional é uma delas, para que todos tenham as mesmas condições. E o Senai busca dar essa contribuição para o setor industrial para que mais pessoas tenham acesso a essas oportunidades”, considera.
G1RN