Vereador mais votado nas últimas eleições em Natal, Raniere Barbosa (PDT) está a um passo de abandonar o grupo que defende há 12 anos. Ontem (22), em pronunciamento inflamado na Câmara Municipal, o parlamentar criticou duramente o prefeito Carlos Eduardo, chamou de antiética e truculenta a forma como foi destituído da liderança do governo e sinalizou que deixará o partido, assumindo um posicionamento de independência em relação à gestão de Carlos Eduardo, que até então defendia.
Raniere contou que o prefeito reuniu os vereadores da base aliada na semana passada e ordenou que deixassem de votar nele para a presidência da Câmara para apoiar o ex-diretor do Procon Municipal, Kleber Fernandes (PDT), principal nome que o prefeito defendeu na campanha eleitoral para o Legislativo. Como não teria obtido êxito na investida com os vereadores aliados e Raniere não desistiu da disputa, o prefeito resolveu destituí-lo da liderança da bancada e anunciou o vereador Júlio Protásio (PDT), seu ex-líder, para assumir o posto.
“O que motivou o prefeito (a agir dessa forma) foi não aceitar que estou buscando a presidência da Câmara, já que ele queria outro candidato e a maioria dos vereadores tem me apoiado e dado essa demonstração. Isso gerou desconforto. Soube que ele estava insatisfeito por eu ter me lançado sem comunicá-lo”, disse.
O prefeito Carlos Eduardo é o presidente estadual do PDT e foi duramente criticado pelo ex-líder, que destacou ter sempre estado à disposição para ajudar o grupo.
Raniere foi eleito em 2008 para a Câmara, mas naquele ano Carlos Eduardo defendeu como principal nome do grupo a então secretária de Saúde Aparecida França. Já em 2012, o prefeito se elegeu defendendo o nome de Sávio Hackradt, outro auxiliar próximo. Raniere também se elegeu para a Câmara, mas licenciou-se do cargo para assumir a Secretaria de Serviços Urbanos (Semsur).
Por dois anos permaneceu na Semsur e só deixou a pasta porque Carlos Eduardo ficou sem líder na Câmara, já que Júlio Protásio, que volta a ser o líder, entregou a função. Desde então Raniere liderava a bancada e articulava em nome da gestão do prefeito os debates da casa. Neste ano foi novamente reeleito e, dessa vez, o mais votado da cidade, mas o nome que o prefeito defendeu foi o de Kleber Fernandes. “Nunca reclamei disso, fazia meu trabalho e conquistava meus espaços”, ressalta.
Para ele, seu grupo se incomodou com a ascensão política que tem conquistado, até porque o parlamentar alimenta intenções de ir além e até disputar a prefeitura em 2020, se o ambiente político estiver favorável. Mas este desejo, de acordo com sua versão dos fatos, estaria fora dos planos do grupo. “No momento em que eu lanço meu nome e a maioria dos vereadores defende meu nome pelo meu perfil e experiência para assumir a presidência do Legislativo, isso incomoda a alguns. Fui o vereador mais votado porque a população confia no meu trabalho e cheguei aonde cheguei mostrando trabalho”, reafirma.
O ex-líder de Carlos Eduardo denunciou que a iniciativa do prefeito em tentar interferir no processo sucessório da presidência da Câmara é perigoso para a autonomia do Legislativo. “Entre o vereador dar apoio ao prefeito e votar no presidente há diferença. Me surpreende a forma às escuras e ocultas que o Poder Executivo está tentando trabalhar aqui na Câmara. Isso é prejudicial para o trabalho dos vereadores, que devem ter autonomia nas suas decisões”.
Até ontem, apenas Raniere Barbosa e Franklin Capistrano (PSB) anunciaram interesse em disputar a presidência da casa. Raniere diz que já conta com o apoio de 19 parlamentares, inclusive novos vereadores e nomes da oposição. Um deles é o da ainda vice-prefeita, Wilma de Faria (PT do B), que já declarou publicamente votar nele para a presidência.
Independência sem a presidência
A relação de Raniere Barbosa com o prefeito azedou, mas não ao ponto do vereador decidir fazer oposição à gestão municipal. Apesar de insatisfeito, Barbosa declarou que não compõe mais a base aliada, nem mudará para a oposição, contudo, assumirá uma postura independente.
“Sinto-me até emocionado por ter dedicado 12 anos da minha vida a um grupo que sempre me preteriu. A um partido que deixou de me apoiar há muito tempo, mas agora a máscara caiu e eu não uso máscaras. De qualquer forma, não preciso agora me tornar oposição, mas também não serei da situação. Farei um mandato independente em consonância com a vontade da população”, declarou.
Ele disse que foi surpreendido com a decisão do prefeito em mudar o líder. “Defendi interesses do povo e defendi interesses do governo, mas dentro dos meus princípios. Fiquei surpreso com a forma truculenta e antiética com que me foi tirada a liderança. Mas cada um dá o que tem”, criticou, alegando que pensa em mudar de legenda, visto que a permanência no grupo se tornou difícil. “Minha situação fica totalmente desconfortável, no momento em que o partido me destitui do cargo de líder e, por trás, articula para que não votem em mim, mas ainda vou pensar sobre a mudança de partido”, revelou.
O novo líder do prefeito, vereador Júlio Protásio, disse que acredita que sua nomeação para a liderança do prefeito na casa seja apenas pontual. “Apenas para que não houvesse interferências no processo de eleição para a presidência e o debate dos projetos. Creio que o que ocorreu foi uma falta de diálogo sobre isso, mas pretendo trabalhar para recuperar esse diálogo”, declarou.
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