O verbo “trucidar” apresenta os seguintes significados nos dicionários: matar com selvageria, matar com crueldade, exterminar, destruir, esmagar. Pois bem. John Rambo, em seu quinto filme, não mata simplesmente os vilões. Ele trucida dezenas deles, em algumas das sequências de violência mais estúpidas do cinema.
Um filme asqueroso. E aqui não está contemplada a questão de gostar de cinema trash, aquela categoria na qual “quanto pior, melhor fica”. “Rambo: Até o Fim” é um filme ignorante. Os únicos lampejos de inteligência são da equipe responsável por filmar cabeças explodindo e corpos despedaçados.
Um final triste para um personagem que tinha potencial. Se é que esta vai ser mesmo a última aventura de Rambo.
O primeiro filme, “Rambo – Programado para Matar” (1982), usa com engenho a situação de trauma dos soldados que voltam da guerra. John Rambo quer seguir sua vida, mas, provocado numa cidadezinha, reage com fúria.
Os outros três filmes ficaram gradativamente piores. Agora, chegou ao fundo do poço.
Aos 73 anos, Sylvester Stallone está horroroso, com o rosto deformado por plásticas e o físico bombado em que as veias saltadas parecem prestes a explodir. Mas como nada é tão ruim que não possa piorar, logo no início do novo filme ele é surrado implacavelmente, o que vai deixar seu rosto mais deformado ainda.
Resumindo a tentativa de roteiro: aposentado, Rambo vive numa fazenda com a sobrinha, que trata como filha. A garota viaja ao México e lá é raptada.
A partir daí, o filme é o confronto interminável entre Rambo e os caras maus. Mas ninguém deve esperar por lutas bem encenadas, com alguma emoção. O que surge é uma coreografia de massacre.
Rambo mata os sujeitos com facadas, tiros de espingarda que explodem cabeças, golpes de facão que cortam qualquer parte do corpo. Braços, pernas, tripas, tudo sai voando. E há o que se convencionou chamar de “requintes de crueldade”. Rambo está tão furioso que pode matar um mesmo bandido com facada, tiro e golpe de martelo. Violência no estilo “tudo ao mesmo tempo agora”.
Uma ou outra cena sangrenta pode até provocar risadas. Mas “Rambo: Até o Fim” nunca deixa de ser um insulto moral e intelectual para a plateia.
Folha de SP