É apenas cerca de um minuto de áudio. Resposta breve dada após 20 e poucos segundos de silêncio, olhando para o gabinete e a mesa que daqui a alguns dias não serão mais seus. Tudo embalado e amarrado com uma frase de efeito, palavras que vão ecoar, pelo menos, até 2026: “Quem não entender este recado (das urnas em 2024) vai pagar um preço alto como alguns já pagaram nesta eleição”.
O dono da declaração é o prefeito Álvaro Dias (Republicanos), principal responsável pela eleição do futuro prefeito de Natal, Paulinho Freire; e hoje um dos principais nomes na política do RN. O aviso foi dado na sexta-feira (6), quando ele aceitou fazer uma análise do quadro eleitoral para o NOVO Notícias.
Segundo o prefeito, os políticos precisam estar atentos ao que a população diz por meio das urnas. “Eu acho que cada eleição traz um recado do povo. E a gente precisa parar — todo mundo — parar para pensar e analisar qual foi o grande recado que as urnas trouxeram nesta eleição”, disse.
Na visão dele, essa mensagem foi muito clara e serve de alerta para aqueles que tentam ignorá-la. “O povo se pronunciou de uma maneira bem consequente. Dizendo que valoriza muito o trabalho, valoriza muito quem constrói e quem procura os melhores caminhos para o desenvolvimento”, afirmou.
E reforçou: “Eu acho que a grande decisão da população passou por aí. Passou por escolher aqueles representantes que ela entende que contribuem para desenvolver suas cidades. Contribuem para que elas possam avançar, se desenvolver e deu um recado duro aos que agem de forma diferente, em sentido contrário, que procuram atrapalhar, que procuram dificultar”, analisou, sem citar nomes.
Na visão do prefeito da capital, o resultado das eleições em Natal é um sinal muito forte e que não pode ser ignorado. “Essas pessoas devem olhar, observar, entender este recado e mudar essas posturas adequando-se ao que a população pensa. Quem não entender este recado vai pagar um preço alto como alguns já pagaram nesta eleição”, sublinhou.
Este último trecho da resposta de Álvaro Dias não requer muita experiência para entender que ele deve estar se referindo ao ex-prefeito Carlos Eduardo Alves (PSD), de quem foi vice-prefeito na eleição de 2016. Quando o filho de Agnelo Alves saiu da Prefeitura para disputar o Governo do Estado, em 2018, Álvaro assumiu o Executivo da capital.
Em 2020, o atual prefeito da cidade se candidatou à reeleição e teve ainda como seu apoiador Carlos Eduardo, que indicou a vice-prefeita na chapa eleita, Aíla Cortez, filha do ex-governador Cortez Pereira.
Em 2022, na campanha para governo e Senado, os dois já não foram mais aliados. Carlos Eduardo concorreu ao Senado com o apoio da governadora Fátima Bezerra (PT). A princípio, ele era tido como favorito, mas quem venceu a disputa foi o (hoje) senador Rogério Marinho, que teve o apoio de Álvaro Dias em Natal.
Agora, em 2024, na pré-campanha, o roteiro, a priori, se repetiu. Até então, Carlos Eduardo era visto como dificílimo de bater na capital, por conta das vitórias já alcançadas. Os dois antigos aliados chegaram a conversar na pré-campanha e tudo parecia bem. Até que uma marca da personalidade de Carlos Eduardo — dizem — falou mais alto, como na fábula do Escorpião e do Sapo.
Segundo fontes do Palácio Felipe Camarão e outras pessoas ligadas à campanha eleitoral, o filho de Agnelo Alves teria dito a Álvaro Dias que ganharia a eleição em Natal com ou sem o apoio dele. O prefeito não confirma essa conversa.
Mas a realidade é que, no correr da pré-campanha, a possibilidade de parceria (antes vitoriosa) tornou-se tão real quanto a ponte ligando Natal a Fernando de Noronha “criada” por Miguel Mossoró, que Deus o tenha.
O resto, as urnas contam: com o apoio de Álvaro Dias, Paulinho Freire obteve no primeiro turno 171.146 votos, passando na primeira colocação para o segundo turno e depois sendo eleito com 222.661 votos. A votação dele foi a 2ª maior da história das eleições em Natal desde a redemocratização.
Carlos Eduardo obteve no primeiro turno um total de 93.013 votos, ficando em terceiro lugar após ter liderado a campanha inteira, nas pesquisas. Ao som de “Vai cabeção” (jingle de campanha), o ex-prefeito sofreu a segunda derrota consecutiva para seu ex-vice e a terceira nas últimas três eleições que disputou. Amuado, Carlos Eduardo fechou-se em copas e optou pela neutralidade no segundo turno.
Álvaro Dias deixará a Prefeitura dia 31 de dezembro próximo. Vai encerrar o mandato promovendo um réveillon com shows na área da engorda da Via Costeira. A obra — assim como o Plano Diretor, o hospital que está sendo construído, a nova Felizardo Moura e o novo Mercado da Redinha — garante a ele hoje um ticket para o primeiro vagão do trem em direção a 2026. Se essa posição se manterá e se essa viagem terminará no Centro Administrativo ou não, só o tempo — e as urnas — dirão.
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