Uma das formas de saber mais sobre a memória de um lugar é percorrendo as primeiras ruas e bairros que deram início à sua construção. Em Natal, essa história começa a ser contada nos bairros Cidade Alta, Ribeira e Rocas, onde diversos imóveis foram palco de acontecimentos sociais, econômicos e políticos importantes no passado.
Tombado como Patrimônio Cultural do Brasil em 2010, o Centro Histórico natalense abrange os três bairros citados e não pode sofrer reformas de forma arbitrária, tanto no traçado de suas ruas, quanto nas fachadas e estruturas das edificações.
Ciente da importância da preservação desse sítio histórico urbano, em 2019, a arquiteta e docente da Estácio Cintia Viegas deu início ao projeto “Inventário da Arquitetura de Valor Patrimonial do Centro Histórico de Natal” na instituição de ensino superior. Hoje, já são aproximadamente 20 construções compiladas em maquetes eletrônicas e 64 fichas registradas em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
“Nesses dois anos, construímos um banco de dados das edificações que a população atribui maior destaque, como Teatro Alberto Maranhão, Palácio Felipe Camarão, Memorial Câmara Cascudo, Grande Hotel, Sobradinho, por exemplo, e também de imóveis mais modestos, de diferentes filiações estilísticas, que tem valor patrimonial seja por ter tido suas características preservadas, seja por ter sido cenário de um acontecimento importante ou residência de alguma importante personalidade local, por exemplo”, relata a pesquisadora.
O trabalho é feito com a exploração de dados históricos e iconográficos, unida à análise dos estilos arquitetônicos remanescentes — desde a arquitetura colonial até edificações pré-modernistas — para preenchimento da ficha do Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão (SICG) do Iphan, que reúne em um cadastro unificado os dados sobre o patrimônio cultural de estados e municípios.
O sistema tem abrangência nacional e permite acesso a qualquer pessoa que necessite realizar pesquisas ou futuras restaurações.
Cíntia conta que, antes da pandemia, a pesquisa era feita in loco pelos alunos participantes do projeto, mas no último ano, o trabalho foi feito por meio de visitas virtuais com o Google Earth e Google Street View, além de pesquisa bibliográfica.
“Estamos na fase de escrita de relatório final na nossa pesquisa, e essa parte do trabalho é muito importante porque a falta de preservação está diretamente relacionada à falta de informação. Nós, como população, só vamos cuidar daquilo que conhecemos, e se ninguém conhece o Centro Histórico, não é criada uma identificação e não haverá preservação. Essa é a maior contribuição do projeto, a educação patrimonial que estamos incentivando”, destaca a arquiteta.
A pesquisa feita pelos alunos da Estácio reúne dados de identificação, propriedade, localização, análise do estado de conservação e preservação, além de histórico de possíveis transformações e reformas que as edificações possam ter sido submetidas ao longo dos anos. Todo esse material poderá ser utilizado pelo poder público para estabelecer critérios de intervenção e normas de preservação para o conjunto do Centro Histórico como um todo em um possível processo de restauração no futuro.