O projeto de instalação da primeira planta-piloto de energia eólica offshore do Brasil – unidade de pesquisa concebida para nortear investimentos no mar e prevenir impactos com a chegada dessa nova atividade industrial ao país – avançou nesta semana, no Rio Grande do Norte, com uma série de discussões que envolveram a população, empresas e o setor público.
Em reunião técnica na última terça-feira (06), o SENAI-RN apresentou infraestrutura prevista, estudos envolvidos, objetivos e resultados esperados em Areia Branca, município potiguar a 330 km da capital, Natal, escolhido pela instituição como sede do empreendimento.
Na terça e na quarta-feira (08), empresas nacionais e estrangeiras parceiras no projeto participaram de visitas na área e na sede do SENAI.
“Nós estamos mostrando aqui algo que não é mais só uma ideia. É um projeto que está extremamente maduro e que vemos como oportunidade que nasce para a comunidade local, para os trabalhadores do mar, para o Ibama conhecer as condições do ambiente, para as indústrias fortalecerem seus negócios, e para o SENAI poder desenvolver tecnologia e formar pessoas”, disse o diretor do SENAI-RN e do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), Rodrigo Mello.
A geração de energia eólica offshore, ou seja, com turbinas instaladas no mar, é uma atividade industrial que começou há menos de 10 anos no mundo, observou o executivo.
No Brasil, o desenvolvimento do setor está em estágio inicial, à espera de regulamentação, mas pesquisas e sinalizações de investimentos ganham cada vez mais corpo.
“Ainda não existe, no país, nenhum aerogerador instalado no mar. E nós estamos, assim como a população, ansiosos para aprender mais a respeito. Com os estudos que já realizamos, conhecemos as condições físicas, as condições da nossa economia, as condições biológicas e o vento, mas precisamos ir além. É uma oportunidade que nasce em Areia Branca para dar respostas ao Brasil”, complementou o diretor.
Planta-piloto
A planta-piloto é um sítio de testes, em condições reais de operação, para futuros aerogeradores que serão implantados no mar do Brasil.
O projeto está em fase de licenciamento ambiental no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
A expectativa do SENAI-RN é que a licença saia ainda este ano e que o início da operação ocorra em 2027.
Estudos ambientais para avaliação do Ibama foram entregues em julho, com levantamentos de dados do meio físico da região – o que inclui relevo, clima e oceano – do meio biótico (fauna e flora marinhos) e de aspectos socioeconômicos envolvendo população, paisagem, infraestrutura pública e atividades como a salineira, a pesca industrial, a artesanal e a mariscagem, de Areia Branca e dos municípios de Grossos e Tibau, que estão no entorno.
O documento contém mais de 600 páginas e foi elaborado por geólogos, geógrafos, biólogos, engenheiros civis, ambientais, navais e oceanógrafos que compõem a equipe de pesquisadores do ISI-ER, principal referência do SENAI no Brasil em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) em energia eólica, solar e sustentabilidade, e braço da instituição à frente do projeto.
A reunião técnica em Areia Branca é uma etapa prevista no processo de licenciamento. O principal objetivo, segundo o Ibama, é a apresentação de informações que trazem impacto à população e a coleta de ideias que serão utilizadas para balizar a tomada de decisão sobre o licenciamento.
Pescadores que atuam na área e outros representantes da comunidade com os quais o ISI-ER dialoga há aproximadamente um ano para construção do projeto participaram do evento. Em meio ao grupo, Chicão do Mel, presidente da Colônia de Pescadores de Areia Branca, ressaltou a importância da discussão e citou o SENAI como um “elo entre o setor pesqueiro e os empreendimentos que venham a ser instalados na região”.
“Eu tenho dito para os pescadores que é em reuniões como essas que a gente vai conseguir diminuir a dificuldade e a distância do pescador. Eu vejo como de suma importância o envolvimento do setor”, frisou ele.
A reunião também contou com a presença do Ibama, da Marinha do Brasil, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico (Sedec), do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), do Conselho Global de Energia Eólica (GWEC), da Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern) e de empresas anunciadas como parceiras no projeto: a Goldwind Brasil, de origem chinesa, a espanhola Esteyco, a potiguar Dois A Engenharia, a italiana Prysmian e a Intersal, consórcio que opera o Porto-Ilha de Areia Branca – terminal salineiro ao qual a planta-piloto estará diretamente conectado.