A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, negou sofrer pressão para afastar o procurador Deltan Dallagnol da coordenação da força-tarefa da Lava Jato, na esteira do conteúdo das mensagens publicadas pelo site The Intercept Brasil com diálogos dele.
Nessa sexta-feira, 2, a Folha de S.Paulo noticiou que, após requisitar à Polícia Federal as mensagens hackeadas de autoridades, ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) passaram a articular o afastamento de Deltan do comando da Lava Jato, em Curitiba, e que Dodge tem sido pressionada a tomar essa medida.
Em nota, a Procuradoria-Geral da República negou. “A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, não sofreu qualquer pressão de qualquer tipo para determinar a medida de afastamento referida na matéria, de quem quer que seja”, diz o texto.
Ainda segundo a nota, Dodge não convocou reunião de emergência na PGR para discutir o assunto. “Mais do que isso, [a PGR] esclarece que o princípio constitucional da inamovibilidade é garantia pessoal do procurador Deltan Dallagnol, […] de não ser afastado dos processos da Lava Jato, dos quais é o promotor natural, na condição de titular do ofício onde tramitam todos os processos deste caso”, sustentou.
A reportagem da Folha, contudo, não tratou de afastamento dos processos da Lava Jato, mas apenas do comando da força-tarefa da operação.
“Em suma, a procuradora-geral da República não convocou, nem fez reunião na quinta-feira [1º], nem em qualquer outra data anterior ou posterior, com o propósito de afastar o procurador Deltan Dallagnol de seu ofício ou da Lava Jato”, conclui o texto divulgado pela PGR.
Na noite da quinta-feira, o ministro Alexandre de Moraes determinou que as mensagens apreendidas pela PF com os suspeitos de terem hackeado celulares de autoridades, como o ministro da Justiça, Sergio Moro, sejam encaminhadas ao tribunal em 48 horas.
Assim, o caso dos hackers deve passar a estar também sob a alçada do Supremo. A reação do STF se deu no mesmo dia em que mensagens publicadas pela Folha de S.Paulo, em parceria com o Intercept, revelaram que, em 2016, Deltan incentivou colegas a investigar o ministro Dias Toffoli, hoje presidente do Supremo.
Conforme as mensagens noticiadas, Deltan buscou informações sobre as finanças pessoais de Toffoli e sua mulher, Roberta Rangel, e evidências que os ligassem a empreiteiras envolvidas com o esquema de corrupção na Petrobras.
De acordo com relatos feitos à Folha, ministros da corte criticaram duramente a atuação de Deltan, que, na avaliação deles, passou a usar a operação de combate à corrupção como instrumento de intimidação.Nesta sexta, a Justiça Federal em Brasília, responsável pela investigação dos hackers, informou que o juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal, determinou à PF que atenda o requerimento de Moraes e envie as mensagens apreendidas.
O prazo de 48 horas, no entendimento da Justiça, deve se esgotar neste fim de semana.
FOLHAPRESS