Comprar um produto a preço de banana atualmente não significa dizer que o cliente irá pagar mais em conta. Isso porque a fruta, a depender do tipo, já acumula alta de mais de 20% no período de 12 meses encerrado em fevereiro deste ano. Os dados compõem Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE. A banana da terra foi a que registrou maior aumento de preço no período, de 24,16%. A banana d’água, com elevação de 15,9% no mesmo recorte e a banana prata, cujo preço subiu 15,79%, vêm em seguida. Já a banana maçã registrou aumento de 14,37% em valores de venda entre março de 2023 e fevereiro último.
Segundo o economista Robespierre do Ó, as chuvas registradas nas regiões produtoras são o principal fator de impacto para a alta. Ele também explica que, a depender do tipo da fruta, deve ser levado em conta o período de safra de cada um. “Se observarmos as principais regiões produtoras de banana, como São Paulo, Bahia e Minas Gerais, houve uma quantidade enorme de chuvas que provocou dois problemas: quebra de produção e dificuldade de escoamento dela”, explica o especialista.
Como boa parte dessa produção está em regiões de serra, as precipitações que provocam alagamentos, geram dificuldades para retirada da fruta. Também são comuns deslizamentos de terras nas áreas de produção que podem destruir plantações. “Ou seja, um dos fatores para essa alta é o reflexo do início das chuvas, provavelmente. A conseqüência é o aumento de custos. A entressafra também influencia, mas nesse caso é preciso olhar a particularidade do produto”, complementa Robespierre do Ó.
Quem vende a fruta diz que os clientes sentem os efeitos e reduzem o consumo. O feirante Joab Silva comercializa a banana prata e relata que está bem mais cara do que há 45 dias. “Eu comprava a unidade a R$ 0,17 e agora custa R$ 0,35. A gente repassa para o cliente a uma média de R$ 0,65. Eles reclamam muito. Quem compra de 30 a 40 unidades, está levando apenas 10, o equivalente a uma palma”, conta.
Para quem decidiu manter o consumo como antes, o jeito é colocar a mão no bolso sem receios. “Faz alguns meses que eu tenho percebido o aumento de preços. Só estou pesquisando para encontrar onde a banana esteja sendo vendida com melhor qualidade, mas não dá para deixar de levar. Religiosamente, tenho a fruta toda semana em casa, porque a outra opção seria não comer”, explica o comerciante Paulo Raposo.
A dona de casa Graça Bezerra também não dispensa o item, mesmo reconhecendo que está pagando mais caro. “O preço aumentou muito nos últimos meses, mas o pessoal lá de casa gosta, então, tem que levar”, afirmou ela, em tom de reclamação.
As queixas não passam despercebidas. Afrânio de Araújo, que é feirante há quase 40 anos, diz que os clientes não têm gostado nada da alta, mas pontua que é impossível deixar de repassar os custos para os consumidores. “Alguns tipos que a gente comprava por R$ 100 o milheiro (80 palmas), hoje compra na faixa dos R$ 170. A prata, a mais procurada, chega com uma média de R$ 300 a R$ 400. E aí, o jeito é repassar para os clientes, que reclamam muito”, diz.
Contudo, ele reforça que nas gôndolas dos supermercado está ainda mais caro. “Semana passada encontrei a palma a R$ 8. Aqui [na Feira das Rocas], a depender do tipo, chega a R$ 4. A partir de maio, começa a safra de algumas espécies, a situação melhora e a palma não passa dos R$ 2”, prevê Afrânio.
Situação transitória
Para o economista Robespierre do Ó, à medida que as chuvas se estabilizarem nas áreas de produção, os preços devem se normalizar. Ele sublinha que a redução no consumo também tende a empurrar os preços para baixo.
“Esta, provavelmente, é uma situação transitória. Quando a situação de escoamento melhorar, os preços se normalizam”, diz o economista.
Outro ponto é que a lei da oferta e da procura deve vigorar, visto que não há um produto natural que substitua a banana. “Por isso, as pessoas tendem a diminuir a compra do produto. Quem comprava uma dúzia, tende a comprar meia dúzia. Isso também faz com que os preços voltem a se estabilizar”, esclarece.
Números
Acumulados em 12 meses (período encerrado em fevereiro de 2024)
Banana da terra:
24,16%
Banana d’água:
15,9%
Banana maçã:
14,37%
Banana prata:
15,79%
Com informações da Tribuna do Norte