Por César Santos / defato.com
No terceiro dia deste ano, o ex-senador Garibaldi Alves Filho tornou público o rompimento político-familiar com o primo ex-deputado federal Henrique Alves. Naquele mesmo dia, por meio de suas redes sociais, Henrique publicou uma nota em que descartou qualquer possibilidade de confronto com Garibaldi: “Quando um não quer, dois não brigam”, ilustrou.
Na prática, o sentimento de Henrique se revela diferente. Ele pretende, sim, brigar com Garibaldi dentro do MDB por uma vaga à Câmara dos Deputados. O ex-parlamentar está caminhando o Rio Grande do Norte como pré-candidato nas eleições 2022, para confrontar Garibaldi, que na primeira semana de janeiro confirmou que disputará uma vaga à Câmara.
A briga entre os líderes da família mais tradicional da política potiguar, iniciada em 2018, quando Henrique se colocou contra o deputado federal Walter Alves, filho de Garibaldi, promete se acirrar ainda mais na hora da definição de candidaturas do MDB. O partido é presidido no estado por Walter, e Henrique depende da legenda para ser candidato. A possibilidade de o MDB negar esse direito é considerável, embora as partes envolvidas tenham evitado declarações até aqui.
Enquanto o momento decisivo não chega, Garibaldi e Henrique disputam a preferência dos prefeitos e lideranças regionais do MDB. É uma espécie de pré-campanha para medir o termômetro dentro do partido, como uma prévia do que pode acontecer na convenção da legenda que definirá os candidatos para as eleições deste ano.
Garibaldi tem recebido apoio dos emedebistas que já apoiavam Walter Alves e as reuniões, que reafirmam esse apoio, são reveladas ao público por meio de fotos nas redes sociais. Nesta semana, Garibaldi posou com os prefeitos Alan Silveira, de Apodi, que preside a Juventude MDB no RN; Luciano Santos, de Lagoa Nova; Joãozinho Gomes, de Brejinho; e Osivan Queiroz, de Lagoa Salgada.
“Fico muito honrado e feliz com as declarações de apoio que estou recebendo ao longo dos últimos dias, tanto de prefeitos do nosso MDB como da população em geral”, enfatizou Garibaldi, por meio de sua assessoria.
Já Henrique tem procurado respaldo nos “bacuraus” mais antigos, do aluizismo tradicional. Foi assim na recente visita ao Seridó, quando ele foi recebido pelos prefeitos Aníbal Pereira (São João do Sabugi) e Galego Paiva (Ipueira). Henrique lembrou das lutas do “verde da esperança” ao lado de nomes como Manoel Torres (ex-prefeito de Caicó falecido em 15 de janeiro de 2012), aliado fiel do aluizismo. Henrique mostrou-se determinado em buscar o 12º mandato na Câmara dos Deputados, onde foi presidente no auge de sua carreira política.
Dessa forma, o confronto dos primos que fizeram política juntos por 51 anos, e agora inimigos, parece inevitável. De fato, como diz Henrique, “quando um não quer, dois não brigam”, mas, no ringue do clã Alves, os dois querem brigar.
Derrocada começou em 2014 com derrota de Henrique para Robinson
Os primos Garibaldi Filho e Henrique Alves construíram carreiras vitoriosas na política do Rio Grande do Norte ao longo de cinco décadas juntos. Garibaldi foi eleito deputado estadual, governador, senador. Henrique cumpriu 11 mandatos de deputado federal e foi presidente da Câmara. Colecionaram votações consagradoras.
Nas eleições de 2010, por exemplo, Garibaldi entrou para a história como o primeiro candidato ao Senado da República no RN a quebrar a marca de 1 milhão de votos. Ele foi reeleito com 1.042.272 votos (35,03%).
Henrique Alves também obteve votação expressiva em 2010. Ele conquistou o 11º mandato na Câmara com 191.110 votos (11,56%), sendo o terceiro mais votado no RN, ficando atrás apenas de Fátima Bezerra (PT), que foi reeleita deputada com 220.355 votos (13,33%) e João Maia (PL) reeleito com 217.854 (12,18%).
Essas eleições foram as últimas vitoriosas dos primos. Quatro anos depois, em 2014, Henrique tentou realizar o sonho de se eleger governador do RN, mas sucumbiu nas urnas. Ele perdeu a disputa para Robinson Faria (PSD), no segundo turno. Henrique recebeu 734.801 (45,58%) contra 877.268 (54,42%) de Robinson.
Nas eleições de 2018, Henrique não concorreu porque estava enrascado com a Operação Lava Jato, inclusive chegando a ser preso. Garibaldi foi à luta, tentou renovar o mandato no Senado, mas teve performance sofrível. Ele foi apenas o quarto colocado, com 376.199 votos (12,93). Garibaldi ficou atrás dos senadores eleitos Styvenson Valentim (Podemos), que teve 745.827 votos (25,63%) e Zenaide Maia (Pros), com 660.315 votos (22,69%), e do ex-senador Geraldo Melo, terceiro colocado, com 382.249 votos (13,14%).
Agora, divididos, Garibaldi Filho e Henrique Alves tentarão voltar à cena da política do RN.
De Fato