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Pesquisadores usam inteligência artificial para prever casos de dengue

ENTRE AS INFORMAÇÕES COLETADAS ESTÃO OS DADOS REFERENTES A INTERNAÇÕES HOSPITALARES E O NÚMERO DE CASOS CONFIRMADOS. FOTO: GATHANY

Cerca de 400 mil casos suspeitos de dengue foram registrados no Brasil, somente nos quatro primeiros meses de 2022. Os números, disponíveis no último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, revelam um aumento de 85,6% nas infecções por esse vírus, transmitido pela picada do mosquito Aedes aegypti, em relação ao mesmo período de 2021.

Por ser um problema antigo de saúde pública no Brasil – a dengue, e outras arboviroses, a questão chamou a atenção de pesquisadores brasileiros que buscam soluções viáveis para combater o mosquito transmissor. O grupo de cientistas desenvolveu um método baseado em inteligência artificial que analisou diversas fontes de dados. Os casos e as internações de pacientes que adoeceram com dengue no município de Natal, capital do Rio Grande do Norte, são exemplos destas fontes.

Entre as informações coletadas estão os dados referentes a internações hospitalares e o número de  casos confirmados. Porém, a maior inovação do método empregado pelos cientistas, além da inteligência artificial, foram os ovos dos mosquitos.

Para realizar o estudo, foram espalhadas armadilhas para coletar ovos, conhecidas como ovitrampa (que simulam um ambiente perfeito para a procriação do Aedes aegypti), nas quatro regiões de Natal, a cada 300m², formando uma malha de captura de mosquitos e ovos. “Essa técnica, conhecida como ovitrampa, foi implantada em Natal pelo então diretor do Centro de Zoonoses de Natal, Alessandre Medeiros (in memorian). O Centro de Zoonoses de Natal é vinculado ao Departamento de Vigilância em Saúde (DVS) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Natal”, explicou Ricardo Valentim, diretor do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN) e um dos pesquisadores envolvidos na pesquisa. 

Validação científica pelo Scientific Report da Nature

Todo o trabalho realizado pelos pesquisadores foi agora validado cientificamente, por meio da publicação do artigo “Data-driven computational intelligence applied to dengue outbreak forecasting: a case study at the scale of the city of Natal, RN-Brazil”. O trabalho foi publicado no Scientific Report, periódico do grupo Nature, um dos principais repositórios científicos do mundo. Com o título em português Inteligência computacional orientada a dados aplicada à previsão de surtos de dengue: um estudo de caso na escala da cidade de Natal, RN-Brasil, o trabalho é de autoria dos pesquisadores Ignacio Sanchez-Gendriz, Gustavo Fontoura de Souza, Ion Garcia Mascarehas de Andrade, Adrião Duarte Doria Neto, Alexandre de Medeiros Tavares, Daniele Montenegro da Silva Barros, Antonio Higor Freire de Morais, Leonardo Judson Galvão-Lima e Ricardo Alexsandro de Medeiros Valentim.

O artigo apresenta os resultados obtidos pelos pesquisadores que desenvolveram um algoritmo usando a técnicas de inteligências artificiais, como por exemplo, machine learning (aprendizagem de máquina) que ensina os computadores a aprenderem determinados padrões. Foram utilizados um grande volume de dados acumulados em fontes distintas em um período de quatros anos. “A publicação é importante, pois chancela a qualidade da pesquisa feita, o que garante o rigor científico e a revisão por pares, aspecto importante para ciência global, além de divulgar internacionalmente um importante resultado científico de cientistas potiguares”, reforça Ricardo Valentim.

Ainda de acordo com o diretor do LAIS, a grande inovação deste método computacional foi a utilização de ovos dos mosquitos. Com isso, o algoritmo consegue prever com seis semanas de antecedência um iminente surto de dengue no município de Natal, antes mesmo dos primeiros casos ocorrerem. “A precisão de acerto do algoritmo é superior a 90%”, completou.

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