Desenvolver alternativas de transportes público e pessoal para o futuro é o desafio das engenharias e das iniciativas que visam à realização de “Cidades Sustentáveis”. Há décadas, o planeta dá sinais de que os prejuízos ambientais causados pelos vários poluentes químicos, entre eles os combustíveis fósseis, têm provocado mudanças drásticas, muitas delas irreversíveis. Outro problema sério é o sedentarismo, responsável por muitas doenças e condições que agravam a saúde humana, como a obesidade, o diabetes e as patologias cardiovasculares. Pensando nesses fatores, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) trabalham no protótipo de um veículo capaz de ajudar a vencer essas questões. Trata-se de um velomóvel, carro-bicicleta elétrico movido com auxílio de pedais assistidos por um motor elétrico com bateria carregada por painel solar.
“Conforme o condutor pedala, o motor elétrico é acionado para auxiliá-lo no torque necessário para vencer um determinado percurso. Isso é muito útil em subidas, por exemplo. A energia necessária para o funcionamento do motor elétrico é fornecida por uma bateria (normalmente de íons de lítio) que, por sua vez, pode ser carregada por um painel solar semelhante a esses que são usados em residências”, explica o professor Anderson Clayton, idealizador do projeto. O painel solar ficará no teto do veículo, e a bateria, instalada na base do chassi, deve ter uma autonomia de 30 a 60 quilômetros, dependendo do modelo.
Esse veículo híbrido se baseia em outras três iniciativas já disponíveis no mercado: o Pedilio, do pesquisador alemão Thomas Viebach, o Elf, da startup americana Organic Trasit, e o Bio-Hybrid, construído pela empresa alemã Schaeffler. Com a primeira versão esperada para 2023, o velomóvel potiguar visa a atender, inicialmente, demandas de micromobilidade dentro do campus da UFRN, embora possa ser expandido para outras regiões de Natal.
Em fase de projeto conceitual, a ideia está sendo desenvolvida dentro do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da UFRN, como pesquisa de mestrado dos estudantes Ana Carolina Ribeiro da Silva e Gabriel Gomes de Macedo Mendes. A orientação é dos professores Anderson Clayton Alves de Melo e Adilson José de Oliveira, ambos do Departamento de Engenharia Mecânica do Centro de Tecnologia (MEC/CT/UFRN). O processo deverá contar ainda com o apoio de servidores técnico-administrativos, estudantes voluntários e de uma possível parceria com empresas locais do setor de energia solar.
O desenvolvimento do carro-bicicleta será custeado pelo Programa de Apoio à Pós-Graduação (PROAP), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), mas o grupo necessitará de outras fontes de financiamento. De acordo com os pesquisadores, com a divulgação de seus resultados, para além da universidade, espera-se motivar a sociedade a buscar meios de transporte mais sustentáveis que, além de melhorar sua condição de mobilidade, saúde física e mental, ajudará a reduzir a emissão de gases poluentes para a atmosfera.
Muitas das partes do veículo serão adquiridas prontas, como motor elétrico, painel solar, rodas, freios, sistema de direção, entre outras. Entretanto, o chassi e todo o restante da estrutura, na qual serão montadas essas partes, serão fabricadas no Laboratório de Manufatura da UFRN, por meio de processos de corte, dobra, soldagem, usinagem e o que mais for necessário. Para esse chassi e a estrutura, o grupo está pensando em usar tubos de metalon, por serem resistentes e terem um baixo preço de aquisição. Para a carenagem, materiais recicláveis devem ser usados.