A importância do exercício físico como fator de melhora da imunidade e seu possível efeito modulador das formas mais graves da Covid-19 foram avaliadas no artigo de revisão “The Relevance of a Physical Active Lifestyle and Physical Fitness on Immune Defense: Mitigating Disease Burden, With Focus on Covid-19 Consequences” (“A relevância de um estilo de vida ativo físico e aptidão física na defesa imunológica: atenuação da carga de doença, com foco nas consequências da Covid-19”), publicado no jornal científico Frontiers in Immunology.
O artigo científico foi coordenado pelo professor e pesquisador do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika) da UFPE Fabricio Souto e contou também com a participação de Tayrine Filgueira, Angela Castoldi, Lucas Santos, Matheus Fernandes, Weydyson Anastácio, Eduardo Zapaterra e Tony Santos, todos pesquisadores da UFPE. E ainda teve participação do médico Geraldo Amorim, preceptor da Residência de Nefrologia do Hospital das Clínicas da UFPE, unidade vinculada à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
“O sedentarismo é uma das condições que agravam a Covid-19 por manter o corpo inflamado. Essa inflamação crônica presente também em obesos, renais crônicos e diabéticos compromete a resposta imunológica, favorecendo não só a infecção pelo vírus como também a hiperinflamação, responsável pela gravidade da Covid”, explica Amorim.
O artigo cita estudos que demonstram que o exercício feito de forma aguda ou crônica atua como agente imunomodulador, ou seja, ele age equilibrando a resposta das células inumes contra os invasores, como o vírus da Covid-19, minimizando os sintomas. É importante pontuar a diferença entre o conceito de atividade física (qualquer ação diária que faz o corpo gastar energia, como subir escadas, lavar pratos, varrer a casa etc.) e o conceito de exercício físico, que é a atividade física repetida e periodizada por um profissional da área.
“Pesquisas demonstram que o exercício físico crônico reduz em até 30% as manifestações clínicas em infecções respiratórias, como a gripe, por exemplo. O exercício pode não impedir diretamente a infecção pelo novo coronavírus, mas pode atenuar o aparecimento das formas graves, como o acometimento pulmonar, pelo seu efeito anti-inflamatório”, salienta Geraldo Amorim, que também é especialista em Medicina do Esporte.
A publicação defende a prática de exercícios durante a pandemia e durante o isolamento social, explicando os seus benefícios para a saúde física e mental e para a preservação da massa muscular, em especial em indivíduos idosos. “O exercício físico feito em casa ou ao ar livre libera substâncias analgésicas, sedativas e que promovem o bem-estar e melhoram a musculatura, órgão muito afetado pela Covid-19. A perda de massa muscular nesses pacientes é elevada, pioram a qualidade de vida e geram altos custos com a reabilitação desses indivíduos”, completa Geraldo Amorim.
O protocolo de exercício, recomendado pelo Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM, da sigla em inglês) e chancelado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), orienta de 150 a 300 minutos de atividade cardiorrespiratória de intensidade moderada a vigorosa e duas sessões de treinamento de força muscular por semana para a população em geral, com supervisão e periodizado.
“O importante, nesta pandemia, é conscientizar a população a começar a ‘se mexer’. Se o indivíduo é sedentário deve iniciar uma caminhada 30 minutos três vezes por semana e ir aumentando a quantidade de dias de forma gradativa. Essa pequena mudança já começa a trazer benefícios para a saúde”, afirma o médico.