A chegada da covid-19 afetou de maneira impactante a renda dos trabalhadores do setor de turismo do RN. A pesquisa Trabalhador do Turismo e a covid-19 no Rio Grande do Norte, organizada por pesquisadores da UFRN e publicada nesta quarta-feira, 29, mostra que aproximadamente metade dos empregados do setor ficaram sem renda durante a pandemia, levando em consideração os que desenvolvem atividades formais e informais.
Os resultados divulgados pelos professores Cesar Sanson e Luana Junqueira Dias Myrrha, do Departamento de Ciências Sociais da UFRN, com o apoio da doutoranda em Turismo, Moema Hofstaetter, indicam que houve queda abrupta de renda entre os trabalhadores do setor.
“Antes da pandemia, apenas 0,6% não tinham nenhuma renda e, com a chegada da pandemia, tomando como referência o mês de junho, esse percentual passou para 48,8%, ou seja, quase a metade dos trabalhadores entrevistados ficaram sem renda. Antes da pandemia, 52,6% desses trabalhadores ganhavam de meio até dois salários mínimos, praticamente o mesmo contingente que ficou sem renda no mês da pesquisa”, aponta a pesquisa.
Outro dado importante pode ser observado na faixa dos trabalhadores que ganhavam de dois a cinco salários mínimos: antes da pandemia 36,4% dos trabalhadores se enquadravam nesta faixa salarial. Já durante a pandemia, apenas 6,2% de trabalhadores conseguiram manter esse rendimento. O levantamento mostra que “o impacto maior ficou entre os trabalhadores informais, pois 57,3% ficaram sem nenhuma renda. O dado é alarmante quando comparado com o percentual anterior a pandemia, no qual menos de 1% não detinha renda mensal. A chegada da pandemia também impactou a renda dos trabalhadores com carteira assinada. Se anteriormente 78,9% ganhavam acima de um salário mínimo, esse contingente se reduziu a 32,7%. Além disso, 23,1% dos formais declararam não ter nenhuma renda durante a pandemia”.
Durante a pandemia também é possível comparar a redução da renda entre as mulheres e homens do setor com o mesmo tipo de vínculo empregatício. As mulheres que estão na informalidade são as que apresentam a maior proporção de trabalhadoras sem nenhuma renda, fenômeno que também pode ser observado entre as que têm emprego formal. De acordo com o levantamento, os homens informais eram os que apresentavam maiores rendimentos antes da pandemia, 52,6% recebiam acima de dois salários mínimos. Em segundo lugar, estavam as mulheres formalizadas, com 38,2% delas recebendo acima de dois salários mínimos.
Pessimismo
Os participantes da pesquisa demonstraram pessimismo sobre o futuro do turismo no estado. Respondendo à pergunta “Você acha que o turismo no RN voltará a ser como antes?”, um terço dos entrevistados disse não ter ideia e um outro terço acredita que vai piorar. Apenas 21,5% acha que vai melhorar e menos de 11% crê que o setor voltará a ser como antes da pandemia.
A pesquisa entrevistou 209 trabalhadores e trabalhadoras do turismo, sendo 72% homens e 28% mulheres. A maioria atuava nas cidades de Natal, Extremoz e Tibau do Sul antes da pandemia. Destes, 24,9% se declararam trabalhadores formais com carteira assinada, 42,1% se declararam trabalhadores por conta própria sem carteira assinada e, 33% declararam ser trabalhadores por conta própria, mas que pagam contribuição previdenciária (MEI, outros).
O levantamento coletou dados através de questionários e circulou via redes sociais e whatsapp entre os dias 14 a 22 de julho deste ano. A metodologia de seleção adotada foi a técnica não probabilística de bola de neve (snowball sampling), onde um respondente indica o outro. A metodologia não utiliza a técnica de amostragem aleatória e é representativa apenas dos respondentes.
O setor de Comércio, Serviços e Turismo é responsável, segundo o Sistema Fecomércio, por cerca de 65% do PIB do Estado, sendo assim um dos mais importantes para a economia regional em função da quantidade de pessoas que dele vivem.