Uma pesquisa recém-publicada por pesquisadoras da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) estuda os impactos da pandemia da covid-19 no emprego doméstico. O estudo foi publicado na Revista da Associação Brasileira de Estudos do Trabalho (Abet), e foi realizado entre maio e junho de 2020, momento crítico para os casos de incidência e óbito por covid-19. A pesquisa mostra que babás e cuidadoras de idosos em atividade continuaram, em sua maioria, trabalhando, enquanto as diaristas foram as mais demitidas.
Esses são os primeiros dados de uma pesquisa mais ampla, que segue em desenvolvimento e cujo objetivo é compreender as contratações durante a pandemia em comparação ao período que antecedeu o distanciamento social, decretado pelas autoridades sanitárias. A pesquisa foi realizada em campo com contratantes de trabalhadores domésticos e coletou 1.857 respostas.
Elas identificaram ainda que o perfil no trabalho doméstico, em sua maioria, é composto por um grupo que vivenciou grande vulnerabilidade social, econômica e riscos à integridade física e mental durante a pandemia. De acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), apresentados no estudo, no ano de 2018, 6,2 milhões de brasileiros tinham como ocupação o trabalho doméstico. Desse total, 92,7% correspondiam a mulheres e 65% delas eram negras. Atrelado a isso, até o fim de 2019, 51% das trabalhadoras domésticas representavam o papel de principais provedoras do sustento familiar.
O estudo constatou também dois fatores importantes nesses grupos. Um deles é o risco à saúde, visto que, em 2019 e 2020, 46% das trabalhadoras domésticas no país tinham mais de 45 anos, faixa etária em que as comorbidades começam a ser mais presentes. O outro é a importância da renda dessas mulheres para suas famílias, em sua maioria (66,9%) compostas por marido e filhos.
A manutenção do profissional no serviço, mas com alteração do transporte, a necessidade de residir na casa do patrão ou de pedir demissão foram dinâmicas frequentes observadas durante o levantamento de dados. Durante a primeira onda da covid-19, momento da pesquisa, foi observado que quase metade (49%) das trabalhadoras domésticas contratadas pelos respondentes da pesquisa teve o direito de praticar o distanciamento, com os recursos necessários. No entanto, as pesquisadoras desconfiam que essas respostas podem ter incidência de questões morais, uma vez que, por terem sido coletadas dos próprios contratantes, a pergunta se refere a uma relação de trabalho, envolvendo a percepção do que é certo ou errado.
De acordo com a pesquisadora Luana Myrrh, houve situações em que a trabalhadora doméstica passou a residir com os patrões, o que limitou suas vivências com seus familiares e, em alguns casos, as expôs a relações de exploração do seu tempo de trabalho e até mesmo a violências. Além disso, “a necessidade do isolamento social, principalmente em 2020, e a permanência das mulheres no ambiente doméstico, onde geralmente também se encontra o possível agressor, aumentou a exposição à violência e dificultou o pedido de ajuda. A diminuição da renda também reduziu o empoderamento das mulheres em seus lares, o que pode ter contribuído para o aumento da violência doméstica para essas trabalhadoras”, completou.
AGORA RN