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Para manter lucro alto, bancos aumentam tarifas para clientes e receitas aumentam quase 10%

Pacotes mensais de serviços, taxas para transferência de recursos para outros bancos e cobranças como segunda via de cartão de débito, entre outras. Tarifas sobre serviços renderam R$ 23,2 bilhões aos quatro maiores bancos brasileiros em 2017 — Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco e Santander. Essa cifra representa um aumento de 9,7% sobre as receitas com tarifas de conta corrente do ano anterior — enquanto a base de clientes dessas instituições financeiras encolheu 3%. Ou seja, os bancos estão cobrando mais de um número menor de consumidores.

O avanço nesse tipo de receita, que cresceu muito acima da inflação no ano passado — que, pelo IPCA, usado no sistema de metas do governo, ficou em 2,97% —, reflete uma estratégia adotada pelos bancos no início da crise, quando a demanda por crédito começou a dar sinais de fraqueza. Com menos ganhos nos financiamentos e enfrentando aumento da inadimplência, a estratégia dos grandes bancos foi reforçar outras fontes de receitas.

– Os bancos cresceram em cima da prestação de serviços, e não do crédito. Nos últimos dois anos, tiveram um aumento grande com as despesas com provisão para devedores duvidosos, mas as maiores receitas com serviços e o corte de gastos ajudaram a manter os lucros em patamares elevados — avalia Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante Investimentos.

‘Setor é muito Concentrado’

De fato, outras fontes de receitas, como administração de consórcios, gestão de fundos e cartões de crédito, também avançaram. Juntos, Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander conseguiram R$ 105,2 bilhões com a prestação de serviços em 2017, um avanço de 9,5%. Como resultado, o lucro conjunto dos quatro, que ainda contou com a ajuda da redução da provisão para devedores duvidosos, cresceu 21,3%, atingindo R$ 64,1 bilhões no ano passado.

— O crédito vai voltar a crescer, e, em tese, os bancos terão mais espaço para reduzir as tarifas. Mas, como o setor bancário é muito concentrado, isso não deve acontecer — adverte Bevilacqua.

Nas projeções para este ano, os quatro bancos estimam manter o crescimento das receitas com prestação de serviços, embora em patamar um pouco abaixo do observado em 2017. Mas não há um percentual específico para os serviços atrelados à conta corrente. O BB, por exemplo, prevê expansão entre 4% e 7%. O Itaú Unibanco, entre 5,5% e 8,5%, e o Bradesco, entre 4% e 8%. O Santander não divulga projeções.

O BB foi o que apresentou o maior crescimento nas receitas com tarifas de conta-corrente em 2017. Foram R$ 6,956 bilhões, 11,7% a mais que no ano anterior. O banco conta com 36,4 milhões de correntistas, o que, em uma conta simples, significa que cada um deles desembolsou R$ 191,10 para manter a conta. Entre os quatro grandes, o BB registrou a maior receita com tarifas.

Procurado, o banco estatal informou que o avanço nas receitas com tarifas se deve ao maior número de clientes que passaram a ser atendidos nos segmentos Estilo e Exclusivo, voltados para a renda mais alta. “Essas duas estratégias de atendimento apresentam como resultado um consumo maior de produtos e serviços por cliente, se comparadas ao modelo tradicional de atendimento, o que permite ao BB aumentar suas receitas com tarifas”, justificou o banco.

Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating, destaca ainda que o ganho maior com as tarifas de conta-corrente ocorre no momento em que os bancos reforçam suas estratégias digitais, dando prioridade às operações feitas pelo internet banking, autoatendimento e celular, cujo custo operacional é inferior ao das agências bancárias.

— Ao explorar mais os canais digitais, os bancos até conseguem uma redução dos custos. Seria bom que houvesse uma reciprocidade, com queda das tarifas. Mas não é isso o que vemos. Os bancos estão se apropriando de um custo operacional mais baixo e não repassam isso para as tarifas — afirma Santacreu.

A redução ocorrida na base de clientes, ressalta o analista, deveu-se ao desemprego — contas vinculadas ao recebimento de salário foram fechadas — e à inadimplência, que também acarreta o encerramento de contas. No caso do Bradesco, o número de correntistas caiu 3,7% em 2017.

Para este ano, os bancos preveem recuperação nas concessões de novos empréstimos, em especial nas linhas destinadas a pessoas físicas e a pequenas e médias empresas. O mais otimista é o Itaú Unibanco, que estima uma expansão entre 4% e 7%. O Bradesco espera algo entre 3% e 7%, enquanto o BB prevê um crescimento entre 1% e 4%.

— O crédito será retomado em 2018. Mas os bancos já realizaram esse trabalho de diversificação das receitas com tarifas nos últimos dois anos, e isso não vai ser revertido — diz Santacreu.

Para Alberto Ramos, economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs, o crédito tende a ganhar força à medida que a economia dê sinais mais claros de crescimento, com queda no desemprego:

— Esperamos que as condições de crédito continuem a crescer apoiadas pelos sinais de uma recuperação gradual da economia, melhora nas condições do mercado de trabalho e do ciclo de flexibilização dos juros pelo Banco Central.

Fonte: O Globo

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