Com a repentina renúncia de Bayard Gontijo à presidência da Oi na semana passada, o executivo que o substituiu, Marco Shroeder, corre contra o tempo para buscar consenso entre credores e acionistas. Ele tem 40 dias para aprovar um plano de reestruturação da dívida da companhia. Caso contrário, avalia-se que a empresa não honrará a parcela de € 231 milhões que vence em 26 de julho, elevando a chance de a Oi buscar proteção judicial.
A Oi tem dívida de cerca de R$ 50 bilhões e vem negociando sua reestruturação há meses com os credores. Um grupo importante nessa negociação é o dos chamados bondholders, que reúne mais de 50 investidores donos de títulos emitidos, em sua maioria, no exterior. Ao fim do primeiro trimestre, eles tinham R$ 34 bilhões em mãos ou 68% da dívida.
No plano que está sobre a mesa, aproximadamente dois terços desses R$ 34 bilhões seriam convertidos em ações, e o restante seria mantido em títulos cujos vencimentos seriam renegociados. Assim, os bondholders passariam a mandar na telefônica, e a empresa não teria de desembolsar dinheiro em julho. Originalmente, o vencimento no mês que vem seria de € 400 milhões, mas a Oi recomprou títulos ano passado, restando € 231 milhões no mercado. A Oi não comenta.
— Não é que a empresa não tenha dinheiro para pagar os investidores. Mas chega uma hora em que é preciso preservar o caixa para manter a operação. O que deve acontecer, caso não se chegue a um consenso, é que a Oi não honre esses títulos, aumentando a chande de recuperação judicial — disse uma fonte envolvida nas negociações.
Pelo plano, a dívida de quase R$ 14 bilhões com bancos públicos e comerciais seria alongada. A proposta foi apresentada por Bayard em reunião do Conselho de Administração semana passada. Na ocasião, os representantes da Portugal Telecom (PT) foram duros com o executivo, segundo fontes. O maior temor da PT seria a diluição de suas ações A PT detém 22% da empresa por meio da Bratel, subsidiária integral da Pharol (novo nome da PT), sendo o maior acionista individual da companhia.
AÇÃO CAI 6,47%
A resistência em aprovar o plano levou à renúncia de Bayard, que estava na linha de frente das negociações, na última sexta-feira. Ontem, foi a vez de a conselheira independente da Oi Robin Bienenstock renunciar ao cargo.
A saída de Bayard teve forte repercussão no mercado. Entre as ações brasileiras, o principal destaque negativo do pregão ontem foi a Oi. A operadora de telefonia chegou a despencar mais de 10% durante o dia. No fechamento, a ação ON (com direito a voto) caiu 6,47%, a R$ 1,66.
— Quando os executivos começam a desistir, a empresa fica mais exposta — avalia Juarez Quadros, sócio da Orion Consultores.
O Globo