
A secretária municipal de Trabalho e Assistência Social de Natal, Nina Souza, saiu em defesa do empréstimo de US$ 50 milhões que a Prefeitura vai buscar junto ao Banco Mundial para realizar investimentos na assistência social. Segundo ela, a iniciativa surgiu diante do abandono financeiro por parte do Governo Federal e da ausência de emendas parlamentares destinadas à área.
Segundo Nina, o município está arcando praticamente sozinho com os custos da rede de proteção social da capital. “Sabe quantos reais a Prefeitura do Natal recebeu do Governo do Estado e do Governo Federal para matar a fome do povo de Natal? Zero, zero”, declarou ela, em entrevista ao programa Central Agora RN, da TV Agora RN (YouTube).
Durante a entrevista, Nina enfatizou a falta de apoio federal para Natal. “Os financiamentos são imprescindíveis, porque nós não temos de onde tirar. Só neste ano, 2025, até o dia 21 de outubro, o Governo Federal deixou de passar para a assistência R$ 345 milhões”, registrou, comparando 2025 com 2024.
A gestora explicou ainda que a assistência social de Natal enfrenta um cenário crítico. Dos 45 imóveis usados para atendimento à população vulnerável, apenas dois são do patrimônio municipal – todos os demais são alugados, gerando um custo anual de R$ 4 milhões. Ela destacou que esse gasto “é jogar dinheiro no ralo”, pois não gera nenhum tipo de investimento permanente.
Com os recursos do empréstimo, a expectativa é viabilizar a construção de uma rede completa e própria de equipamentos socioassistenciais. O projeto “Natal Integra” prevê a implantação de centros de assistência, cozinhas comunitárias, equipamentos de acolhimento de crianças, adolescentes e idosos, espaços de capacitação profissional e estruturas de combate à fome e à pobreza.
Além de substituir todos os prédios alugados por estruturas próprias, a gestão municipal prevê ampliar a rede de assistência, passando dos atuais 12 para 20 Cras. “Esses equipamentos vão tirar as pessoas da pobreza, vão ter oficinas de treinamento, capacitações diversas… É algo muito grandioso”, resumiu a secretária.
Boicote e disputas políticas
A secretária afirmou ter receio de interferência de opositores em Brasília para barrar o financiamento internacional. “Conhecimento eu não tenho (de algum movimento já realizado). Agora, medo eu tenho muito”, disse. Segundo ela, setores da oposição estariam tentando associar o empréstimo à sua pré-candidatura a deputada federal, o que é impossível, segundo afirmou, por se tratar de recurso vinculado diretamente a investimentos públicos e fiscalizados pelo Banco Mundial.
“O problema do Rio Grande do Norte é este: as pessoas dão R$ 1.000 para que ninguém ganhe R$ 100. Em vez de todo mundo unir forças e trabalhar, ficam boicotando o trabalho para que as pessoas vulneráveis não tenham a oportunidade de ter uma vida melhor. Isso a gente não vai aceitar e nem vamos ficar calados”, declarou a secretária.
Vereadora licenciada de Natal e primeira-dama do município, Nina rechaçou as críticas de que os recursos seriam desviados para fins eleitorais e acusou os opositores de agirem com má-fé: “Ficaram dizendo que o dinheiro era para a minha pré-campanha. Isso é achar que o povo é burro”. Ela lembrou que o próprio Banco Mundial não permite a aplicação de recursos fora do objeto contratado e que o projeto continuará mesmo após sua desincompatibilização do cargo, prevista para abril de 2026.
Em um dos momentos mais fortes da entrevista, Nina Souza relatou ser alvo de ataques constantes por exercer papel de protagonismo político. Ela afirmou ser vítima de violência de gênero e disse sofrer tentativas diárias de deslegitimar seu trabalho.
“Eu sou a mulher que é mais vítima de violência política no Rio Grande do Norte”, declarou. Segundo ela, as agressões partem de setores que não aceitam uma mulher ocupando posição de liderança na gestão pública. A secretária classificou as ações como direcionadas para “diminuir o meu trabalho, como se eu não tivesse capacidade nenhuma”.
Pressão sobre a assistência e aumento da demanda
Ao contextualizar a urgência do “Natal Integra”, Nina Souza destacou que a rede de assistência social está sobrecarregada. Quando assumiu a pasta, havia uma fila de 38 mil pessoas aguardando atendimento no Cadastro Único; hoje, mais de 45 mil já foram atendidas. O público assistido pela Secretaria de Trabalho e Assistência Social (Semtas) ultrapassa 280 mil pessoas, o equivalente a mais de 30% da população de Natal.
Programas como Alimenta Natal, Banco de Alimentos, aluguel social e voucher gestante foram ampliados, com recursos do orçamento geral do município. “Nós quadruplicamos a capacidade do Banco de Alimentos”, disse. No entanto, Nina advertiu que, sem o apoio federal, a expansão da rede não pode avançar no ritmo necessário. Segundo ela, a ausência de repasses afeta diretamente a segurança alimentar e o combate à extrema pobreza: “Nenhum deputado do PT colocou emenda de 2025 para assistência”.
Chamamento público e expansão da equipe
A secretária também esclareceu o chamamento público publicado no Diário Oficial nesta semana para contratação de 79 profissionais por meio de uma Organização da Sociedade Civil (OSC). Segundo ela, não se trata de terceirização, mas de complemento de mão de obra para atuação em áreas de média e alta complexidade, especialmente no atendimento à população em situação de rua.
Nina criticou duramente parlamentares que acusam a medida de substituir concursados. “Eles engoliram fumaça e granada nessa história das fake news deles”, afirmou. De acordo com a secretária, os servidores efetivos serão mantidos, e a nova equipe permitirá atuação 24 horas, com foco em abordagens noturnas e enfrentamento da exploração infantil em regiões como a praia de Ponta Negra.
Carreira Suas deve ser enviada à Câmara
Outro ponto abordado foi o plano de cargos, carreiras e remunerações dos servidores da assistência, conhecido como Carreira Suas. A secretária confirmou que o projeto será enviado à Câmara Municipal até o fim de outubro. Ela destacou que o plano foi construído em conjunto com os servidores e representa o início de uma valorização histórica da categoria. “Eles merecem muito mais do que vai ter ali, mas é um início”, disse.
Agora RN

