A charge Corrosão, concebida originalmente em 1975 com nanquim, aquarela, hidrocor e grafite, publicada seis anos depois no livro Desenhos, pela editora Raízes, resume o poder da boa caricatura. A tinta de Millôr Fernandes (1923-2012), espirrada na direção de um duque de ferro, tem o poder de manchá-lo e diluí-lo. Com este desenho sobre papel, o artista arranhava a arrogância do poderio militar em plena ditadura. E ele desancaria o autoritarismo com outro entre seus talentos, o de formular as grandes frases: “Fiquem tranquilos os poderosos que têm medo de nós: nenhum humorista atira pra matar”.
Millôr: Obra gráfica é a primeira retrospectiva dedicada aos desenhos de um dos maiores humoristas brasileiros, igualmente dramaturgo e tradutor. Os 500 originais, escolhidos pelos curadores Cássio Loredano, Julia Kovensky e Paulo Roberto Pires, foram subdivididos em cinco conjuntos. Millôr por Millôr traz as reflexões do artista sobre si mesmo, autorreferido em terceira pessoa.
Pif-Paf, o Laboratório expõe seu trabalho como colunista da revista O Cruzeiro, entre 1945 e 1963. Brasil, em que está exposta a charge publicada nesta página, percorre a vida do País e de seus habitantes, assim como a seção Condição Humana. O último núcleo, À Mão Livre, traz os exercícios visuais de Millôr, feitos usualmente quando se postava ao telefone, sem o compromisso de publicar.
Informações: Carta Capital