
Natal tem, proporcionalmente, o maior número de diabéticos entre as capitais do Nordeste. O índice é de 11,8% da população diagnosticada com a doença, segundo dados da pesquisa Vigitel Brasil, divulgada pelo Ministério da Saúde. No ranking nacional, Natal aparece na 4ª posição, atrás de Brasília (12,1%), São Paulo (12,1%) e Porto Alegre (12%).
A informação ganha destaque nesta sexta-feira 14, Dia Mundial do Diabetes, data dedicada à conscientização sobre a prevenção e a importância do diagnóstico precoce da doença.
O levantamento revela ainda que a prevalência da doença cresce em todo o País, passando de 9,1% em 2021 para 10,2% em 2023. Caso a tendência se mantenha, o índice pode chegar a 12% até o fim de 2025. De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), cerca de 90% dos casos são do tipo 2 – aquele em que o corpo desenvolve resistência à insulina.
A nutricionista Larissa Vasconcelos explica que o tipo 2 tem causas hereditárias, mas está fortemente associado ao estilo de vida. “Pode ser prevenido com mudanças de hábitos, como uma alimentação equilibrada e a prática regular de exercícios físicos”, afirmou.
Ela ressalta a importância do diagnóstico precoce para evitar complicações. “Identificar o diabetes em sua fase inicial é crucial para evitar complicações graves, como doenças cardiovasculares, neuropatia diabética, retinopatia e, em casos mais graves, problemas de fluxo sanguíneo e cicatrização que podem levar à necessidade de amputação”, alertou.
Entre janeiro e agosto de 2023, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 6.982 amputações de membros inferiores causadas pelo diabetes – mais de 28 por dia. Em 2022, foram 10.168 amputações, 3,9% a mais que em 2021. O Rio Grande do Norte registrou mais de 2.500 amputações em decorrência do diabetes entre novembro de 2022 e outubro de 2025.
O número exato foi de 2.509 cirurgias. Entre elas, estão 1.168 amputações de dedo, 5 de mão e punho, 928 de membros inferiores e 408 de pé e tarso, conforme os dados da plataforma Regula Vascular, mantido pela Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap).
Doença atinge mais mulheres e idosos
A pesquisa Vigitel Brasil 2023 também mostra que o diagnóstico é mais comum entre mulheres (11,1%) do que entre homens (9,1%). O índice cresce significativamente entre os idosos: 30,3% dos adultos com mais de 65 anos convivem com a doença. A escolaridade também é um fator: pessoas com até oito anos de estudo apresentam prevalência de 19,4%.
Esses dados reforçam a necessidade de campanhas educativas e de políticas públicas eficazes para prevenção e controle do diabetes, porque uma população bem informada pode se prevenir contra uma das formas da doença, de acordo com Larissa Vasconcelos.
A nutricionista também explicou as diferenças entre os tipos de diabetes. “O tipo 1 é uma condição autoimune em que o sistema imunológico ataca as células do pâncreas que produzem insulina. O tipo 2 está relacionado ao estilo de vida, com fatores como excesso de peso, sedentarismo e dieta inadequada. Já o diabetes gestacional ocorre durante a gravidez”, detalhou.
Especialistas alertam para crescimento da doença no Brasil
A endocrinologista Liana Viana, diretora da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia do RN (SBEM-RN), destacou que o diabetes é uma doença crônica e progressiva que vem crescendo de forma preocupante no País.
Ela relaciona o aumento ao estilo de vida atual. “O diabetes está muito relacionado ao estilo de vida. À medida que nosso comportamento piora – com aumento do sedentarismo, má alimentação e obesidade –, cresce o risco da doença”, alertou.
Liana explicou que “dez por cento dos pacientes diabéticos são do tipo 1”, geralmente diagnosticados na infância e adolescência, enquanto “noventa por cento de fato têm diabetes tipo 2, que é uma combinação genética com o ambiente”. Fatores como hipertensão, colesterol alterado, obesidade e doenças hepáticas também elevam o risco.
Sobre o tratamento, a médica destacou que, embora o diabetes não tenha cura, é possível alcançar a remissão em alguns casos. “Pacientes que fazem cirurgia bariátrica e perdem muito peso, dependendo do tempo e da intensidade do diabetes, podem remitir a doença e ficar com exames normais, sem necessidade de medicação”, explicou.
Ela acrescentou que novas terapias têm ampliado as possibilidades de controle. “Hoje, com o advento de medicações mais assertivas e eficazes, já estamos experimentando casos de remissão também entre pacientes que conseguem perder mais de 15% do peso”, afirmou, citando as chamadas canetas emagrecedoras (como Mounjaro), que necessitam de prescrição médica para serem administrados.
Pré-diabetes é reversível e precisa de atenção
A endocrinologista também fez um alerta sobre o pré-diabetes. “O diagnóstico de pré-diabetes não é uma condenação. Mas o tratamento é muito semelhante ao do diabetes”, explicou. Segundo ela, a condição é reversível, mas requer acompanhamento. “Mesmo nessa condição, posso ter complicações como neuropatia diabética. Por isso, precisa ser tratada”, reforçou.
Para Liana Viana, o controle precoce é essencial. “Quanto mais precoce for o controle, mais chance temos de retardar as complicações vasculares, como neuropatia, retinopatia e doença renal”, disse.
Prefeitura diz realizar ações educativas
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde de Natal (SMS) afirmou que realiza o diagnóstico e “ações educativas” voltadas ao tratamento do diabetes em unidades de saúde. A assistência aos pacientes ocorre principalmente na rede que abrange as Unidades Básicas de Saúde (UBS), as Equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF), equipes de Atenção Primária, de Saúde Bucal e a Academia da Saúde.
A pasta informou também que, até outubro de 2025, Natal contabilizava 24.654 pessoas cadastradas com diabetes nos serviços de Atenção Primária à Saúde (APS), divididos entre tipo 1 (19.524) e do tipo 2 (5.130), segundo dados do Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (Sisab).
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