Em quase quatro décadas depois de iniciarem o sonho pessoal de circunavegação, a família Schurmann vem transformando esse projeto de vida em defesa da preservação ambiental, sobretudo dos mares.
O casal Vilfredo e Heloísa Schurmann e mais cinco tripulantes, inclusive um filho que é capitão e comandante do veleiro Kat, estão em Natal desde o dia 5 divulgando a expedição “Voz dos Oceanos”, que tem apoio global do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
A família Schurmann fica em Natal até o dia 15 de janeiro e eles já fizeram palestras na Marinha e no Iate Clube, onde o barco está ancorado. Também estavam previstas até lá encontros com cientistas da comunidade universitária e operações de limpezas de praias, mas as atividades foram suspensas em decorrência de dois tripulantes terem contraído Covid-19 e um terceiro, o vírus da Influenza.
“Desde o início sempre fomos ecológicos, mas naquela época quando se falava em Ecologia, chamam de ecochato”, disse Vilfredo, que estima em oito a dez milhões de toneladas o volume de plástico que é jogado no mar anualmente. “A tendência é de crescer até 2030 e quase duplicar isso, mas o grande problema é o microplástico, o plástico de uso único, porque 70% do plástico no mar vem dos rios, o pessoal pensa que é das cidades litorâneas”, acrescentou.
Vilfredo disse, ainda, que bate-se muito pela sustentabilidade da Amazônia, que representa 13% do oxigênio na Terra. “Todas as florestas tropicais junto com a Amazônia representam 34%, os oceanos são 60%, nós não somos alarmistas, mas os oceanos estão pedindo fôlego”, alertou.
Segundo Vilfredo, o Instituto Voz dos Oceanos tem uma parceria com o bloco Olodum em Salvador (BA), de colocar containers em bairros com renda baixa para coleta de lixo, “que vale dinheiro, o Brasil só para ter uma ideia, tem só 6% de reciclagem do lixo, a China 32%, Estados Unidos, 30% e a Europa muito mais, nós estamos jogando dinheiro fora e somos o quarto maior produtor de plásticos do mundo”.
Essa é a quarta expedição realizada pela família Schurmann, que partiu em agosto de 2021 do Balneário Camboriú, Santa Catarina e ainda passará por mais de 60 pontos no Brasil e no mundo, até desembarcar na Nova Zelândia em 2023.
A família Schurmann passou pela ilha de Fernando de Noronha, antes de aportar na capital do Rio Grande do Norte, primeiro ponto da ampliação da rota brasileira em consequência da nova cepa da COVID-19, Ômicron. “Diante desse desafio, decidimos minimizar ainda mais os riscos e transformar esse momento em uma oportunidade de ampliar nosso roteiro nacional, valorizando ainda mais o Nordeste e incluindo o Norte em nossa jornada, que permanece no País por mais 50 dias”, informou conta Vilfredo Schurmann.
“É muito triste saber que tantos animais morrem diariamente ao ingerirem plástico, incluindo tartarugas, baleias e aves marinhas. Afinal de contas, cerca de oito milhões de toneladas de plástico chegam aos oceanos todos os anos”, apontou Heloíusa Schurmann, para ressaltar que “essa é uma questão que já afeta também a nossa saúde. Por meio da cadeia alimentar, também estamos consumindo micro e nano-plástico. Precisamos mudar de atitude o mais rápido possível”.
A família Schurmann e a tripulação levaram, em 2021, a Voz dos Oceanos para 12 destinos nacionais: Balneário Camboriú, Santos, Ilhabela e Ubatuba (SP), Ilha Grande, Rio de Janeiro e Búzios (RJ), Vitória (ES), Abrolhos e Salvador (BA), Recife e Fernando de Noronha (PE.
De Natal, o veleiro Kat zarpa para a rota internacional, navegando por lugares como Caribe, costa atlântica dos Estados Unidos, arquipélago das Bermudas, México, canal do Panamá, Galápagos, Oceano Pacífico Sul, Polinésia e Nova Zelândia — onde a expedição conclui sua missão passando por mais de 60 lugares nacionais e internacionais em dois anos.
Ancorado no Iate Clube do Natal, o veleiro Kat possui seis cabines, duas salas, uma cozinha e três banheiros. Entre os diferenciais da embarcação está a quilha retrátil hidráulica e todas as soluções sustentáveis. O veleiro faz uso de energia limpa (eólica, hídrica e solar) e conta ainda com geradores de baixo consumo e sistema de tratamento de esgoto.
Para o projeto a Voz dos Oceanos foram efetuadas algumas melhorias, entre elas, ampliação da capacidade de geração de energia limpa de 75% a 100%, adoção de baterias de Lithium, mudanças no tratamento de águas com ultravioleta na fase final.
Além disso, todo o lixo produzido é devidamente tratado. O barco possui uma composteira para tratar o lixo orgânico, um compactador de lixo reciclável e uma trituradora de vidro. Vale destacar que, além de todas as inovações e soluções sustentáveis presentes no veleiro Kat, Voz dos Oceanos adota de medidas capazes de neutralizar a emissão de carbono gerada tanto nos preparativos como na expedição em si, não se restringindo apenas aos índices da embarcação, mas também do escritório em São Paulo.
Em parceria com a StarBoard, já estão sendo calculadas as emissões geradas para serem neutralizadas com o plantio de espécies típicas de manguezais que integram o ecossistema costeiro. “Estamos coletando água para análise aonde chegamos”, avisou Vilfredo Schurmann.
Tribuna do Norte