
A pandemia do novo coronavírus, as ações da Polícia Federal contra o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, o aumento exponencial de mortes e infectados em São Paulo e a aproximação do governo com o Centrão fazem com que oponentes do presidente Jair Bolsonaro percam força no cenário político. A oposição ao governo está fragmentada e resiste em apoiar propostas conjuntas para fazer frente às decisões do Executivo e às críticas que Bolsonaro tem feito às instituições.Embora ainda faltem dois anos para as eleições gerais, o cenário que se desenha começa a solidificar uma disputa entre o presidente e seu ex-ministro da Justiça Sergio Moro, ambos com apoio do eleitorado mais conservador, de direita.
As pesquisas mais recentes apontam que o presidente tem 30% de aprovação e vem sofrendo uma deterioração da imagem junto à população. No entanto, ainda se mantém como forte candidato para as próximas eleições. Outros nomes cotados para concorrer ao Executivo enfrentam entraves, como é o caso do governador do Rio, que foi alvo de uma operação da Polícia Federal em decorrência das suspeitas de desvios de verba na compra de respiradores para hospitais de campanha. Witzel alega que é alvo de perseguição política e chegou a chamar o presidente de ditador.
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva era o grande nome da oposição, e havia a expectativa de que ele liderasse a construção de uma candidatura de esquerda competitiva depois de deixar a prisão. Porém, logo nos primeiros dias fora do cárcere, Lula posicionou-se contra o pedido de impeachment do presidente. O petista lembrou que o chefe do Executivo foi eleito democraticamente. Embora tenha feito críticas ácidas a Bolsonaro, o ex-presidente não lidera articulação política na oposição. Chegou-se a cogitar que ele iria até o Congresso conversar com parlamentares, contudo, esses planos foram adiados em razão da pandemia. Lula continua com sólida base eleitoral e apoio popular e político. Mas uma condenação na segunda instância de Justiça impede que ele se candidate.
A última declaração do ex-presidente sobre o assunto é de que ele não será candidato. Com isso, Lula deve apoiar um nome lançado pelo PT. O mais provável no momento é o do ex-governador de São Paulo Fernando Haddad, que, embora tenha perdido o último pleito, conquistou 47 milhões de votos e chegou a disputar o segundo turno, mesmo tendo se lançado nos momentos finais da campanha. Há menos de duas semanas, o PT assumiu o papel de oposição política e decidiu apoiar o impeachment de Bolsonaro, mesmo que isso tenha ocorrido em um manifesto que envolve diversos partidos e centenas de entidades sociais e sindicais.
A aposta da esquerda é de que Moro esfacele a base eleitoral do presidente da República. O primeiro baque ocorreu quando o ex-juiz deixou o governo fazendo acusações graves de que o chefe do Executivo tentou interferir na Polícia Federal. Mas, sem articulação política, e longe de Brasília, Moro perde força no meio político. Por ora, ele alega que não é candidato, embora já se fale nos bastidores que ele estará no próximo pleito e que pretende formar uma base de articulação com entidades jurídicas, políticas e que pregam o combate à corrupção para se lançar concorrente ao Planalto.
Correio Braziliense
