O juiz federal Sérgio Moro declarou que é preciso agir com racionalidade e não ter “rancor ou ódio no coração” sobre momento político pelo qual passa o país. A declaração foi feita na noite de quarta-feira (11) durante uma palestra a alunos e professores da Universidade Estadual de Maringá (UEM), no norte do Paraná, onde o magistrado se formou em 1995 no curso de direito.
“É importante, num momento político talvez conturbado, que nós pensemos essas questões apartidariamente e com espírito de tolerância. Nós temos que tratar essas questões com racionalidade e sem rancor ou ódio no coração”, destacou. “Devemos continuar sendo intolerantes em relação a esses esquemas de corrupção sistêmica, não pra dirigir rancor ou ódio a pessoas que eventualmente recaiam na tentação de cometer esse tipo de crime, mas no sentido de nós atuarmos para a resolução desse problema e que eles não voltem a acontecer”, completou Moro.
Na plateia, as declarações do juiz responsável pelas investigações da Lava Jato em primeira instância foram acompanhadas por cerca de mil pessoas, entre elas a mãe de Moro.
“Quando falamos em crimes praticados pela administração pública, é necessário em especial que estas questões sejam levantadas a público”, destacou o juiz. Um dos episódios mais polêmicos em relação a confidencialidade de informações diz respeito às escutas telefônicas envolvendo a presidente Dilma Rousseff um dia antes da posse do ex-presidente Lula como ministro da Casa Civil.
Durante os 40 minutos de explanação sobre a Operação Mãos Limpas – desencadeada na Itália na década de 1990 -, Sérgio Moro também fez referências a casos já julgados na Lava Jato e explicou como a operação teve início.
“No decorrer das investigações surge uma possível relação com um ex-diretor da Petrobras. O caso foi evoluindo e paulatinamente as provas e evidências foram aumentando, como num efeito dominó”, lembrou.
As investigações, continuou, levaram à descoberta de um esquema de corrupção sistêmica. “Eu interroguei diversas testemunhas e diversos acusados. Não foram poucos desses interrogados que se referiam ao pagamento de propina em contratos com a Petrobras como uma regra de mercado e o custo disso chegou a R$ 6 bilhões”, enfatizou ao apontar que o prejuízo não é apenas financeiro, mas também moral.
“Esse quadro de corrupção sistêmica, o vilão não é unicamente o poder público. A corrupção envolve quem paga e quem recebe. Ambos são culpados e ambos, se provada a sua responsabilidade na forma do devido processo penal, têm que ser punidos na forma da lei. Tenho aceitado esses convites para palestras para dar mais ou menos esse recado óbvio: você quer mudar o país, você quer superar esse esquema de corrupção sistêmica, não pague propina”, reforçou.
Sobre quando a Operação Lava Jato, iniciada há dois anos, deve ser encerrada, o juiz disse que não é possível prever. “A Lava Jato tem cerca de dois anos. Ela não está encerrada. E, não temos poderes premonitórios de saber o resultado final, embora se possa dizer que muito foi feito pelas instituições envolvidas.”
G1