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Mercado e custo podem ditar extração de petróleo em novos poços do RN, afirma economista

FOTO: REPRODUÇÃO

Com a descoberta de petróleo em águas ultraprofundas da Bacia Potiguar, no poço Anhangá, próximo da divisa entre o Rio Grande do Norte e o Ceará, a Petrobras já anunciou que pretende perfurar ao menos 16 poços na chamada Margem Equatorial, que vai do RN ao Amapá. O investimento anunciado pela estatal para esta região é de US$ 3,1 bilhões. Para a Federação Única dos Petroleiros (FUP), a descoberta é considerada importante e deve trazer novo panorama de desenvolvimento ao estado. Economista afirma que mercado internacional pode ditar extração ou não do petróleo devido aos custos.

Localizado a 250 km de Natal e a 190 km de Fortaleza, o poço está a uma profundidade de 2.196 metros e é a segunda descoberta na Bacia Potiguar neste ano, que já teve comprovação da presença de hidrocarboneto também no Poço Pitu Oeste, a 24 km de Anhangá. Segundo a estatal, as descobertas ainda precisam de avaliações complementares.

Para Pedro Lúcio, diretor da Federação Única dos Petroleiros e do Sindicato dos Petroleiros do Estado do Rio Grande do Norte (Sindipetro/RN), defende que a descoberta é um passo importante para o Rio Grande do Norte. “A Petrobras de dezembro para cá, já perfurou dois poços, os dois com formação de hidrocarbonetos comprovada. Então a Petrobras agora deve seguir para novos estudos para testar ou não a viabilidade comercial desses poços e espero que sim, estamos torcendo muito para que esses campos sejam viáveis comercialmente, porque isso vai trazer um novo panorama de desenvolvimento e produção de petróleo e gás para o RN”, disse.

William Eufrásio, economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), vê a descoberta como algo positivo. “É sempre uma boa notícia você ter uma grande quantidade de petróleo. Espero que seja muito grande mesmo. Em situações favoráveis, ou seja, com a extração desse petróleo, você traz muita gente para cá, seja da Petrobras, já empregado e recebendo o salário, mas você cria e chama os empregos, com o que está conectado ao aumento da exploração desse petróleo”, avalia.

Mas o especialista aponta que estes efeitos econômicos, como a geração de empregos, não serão imediatos. “Tem um tempo, um hiato. Todo o petróleo ainda é fundamental para qualquer economia, são valores, são recursos. Mas ele é em águas ultraprofundas. Isso significa dizer que os custos são maiores do que quando é em águas rasas e isso vai ser observado. Ou seja, qual o custo para retirar esse petróleo dessas águas profundas”, avaliou.

A Petrobras acredita que as atividades exploratórias na Margem Equatorial representam um passo no compromisso da companhia em buscar reposição de reservas e desenvolvimento de novas fronteiras exploratórias que assegurem o atendimento à demanda global de energia durante a transição energética.

De acordo com Jean Paul Prates, presidente da Petrobras, a companhia tem histórico de quase três mil poços perfurados em águas profundas e ultraprofundas, sem qualquer tipo de intercorrência ou impacto ao meio ambiente, reforçando o compromisso da estatal com o respeito ao meio-ambiente. “Associado à capacidade técnica e experiência acumulada em quase 70 anos, habilitam a companhia a abrir novas fronteiras e lidar com total segurança suas operações na Margem Equatorial” afirma Prates.

“Com o avanço da pesquisa exploratória da Margem Equatorial brasileira, aumentamos o conhecimento desta região, considerada como uma nova e promissora fronteira em águas ultraprofundas, que será fundamental para o futuro da companhia, garantindo a oferta de petróleo necessária para o desenvolvimento do país”, afirma o diretor de Exploração e Produção Joelson Mendes.

Extração pode depender do mercado internacional

Ciente de que a Petrobras tem recursos para extração de petróleo em águas ultraprofundas, o especialista ainda afirma que o mercado internacional pode ditar o que será feito. “Ele é explorado ou não, dependendo da relação entre o custo de exploração desse petróleo em águas ultraprofundas e o preço do petróleo no mercado internacional. Quando o preço do petróleo internacional sobe demais e está muito acima do custo de extração, então esse poço será bem demandado, porque fica mais barato tirar o petróleo de lá do que comprar externamente. Agora, se o preço do petróleo cair a valores idênticos ou abaixo do custo de exploração desse petróleo, não compensa retirar o petróleo. É um processo de oscilação que vai depender muito dos preços do petróleo”, explicou.

“A gente tem visto o preço do petróleo, dependendo do tipo do barril, oscilando entre US$ 80 a US$ 100 dólares aproximadamente. No pré-sal,,ele era extremamente favorável quando o preço estava acima de 50 dólares. Então, como está perto aí dos US$ 80, US$ 90, US$ 100, o pré-sal é vantajoso. Se esse aí poço de ultra profundidade tiver mais ou menos o custo do pré-sal, que já é relativamente bom, a gente pode dizer que nesses próximos meses será favorável a estação desse petróleo”, esclareceu William.

Entre os fatores que podem interferir diretamente no mercado nacional, estão os conflitos entre a Ucrânia e a Rússia, um dos grandes países produtores de petróleo. “O preço do petróleo, ele tem também um elemento, um componente muito especulativo. São players internacionais que jogam bilhões de dólares, não é um jogo de criança. Esses conflitos internacionais, em particular o da Rússia e Ucrânia, estão falando da Otan entrar, ele gera complicadores grandes. A Faixa de Gaza é um conflito mais localizado, mas também chama a atenção pela capacidade que teriam os países árabes de retalhar Israel, e eles podem retalhar reduzindo a oferta de petróleo. E isso gera aumento nos preços. Dado o contexto de conflitos no mundo, esse preço do petróleo pode oscilar e criar implicações, eu diria, favoráveis, dado que o cenário [de redução de conflitos bélicos] não é muito positivo”, completou.

PETRÓLEO E ENERGIAS RENOVÁVEIS. Visto como um estado que foca nas energias renováveis, o RN terá no petróleo a possibilidade de gerar mais uma fonte de energia. No entanto, o especialista aponta que o petróleo não é utilizado apenas como matéria prima para combustíveis. “Embora ele seja muito utilizado na forma de combustíveis, o petróleo é um produto. Que serve para muitas outras coisas, para além da queima via combustível. Está na base da produção de plásticos, da produção de determinados insumos agrícolas. Então, ele tem mil e uma utilidades”, observou o professor da UFRN.

Para Eufrásio, as energias limpas são uma realidade e surgem como uma possibilidade de reduzir a demanda pelo petróleo. “Isso poderá provocar uma queda nos níveis de preço, favorecendo até outros setores que utilizam o petróleo ou componentes como insumos nas suas produções. Então, isso também será favorável para o RN. O que a gente precisa, evidentemente, é ter um polo científico produtivo que utilize de fato as novas tecnologias, não somente para gerar energia, e gerar também novos produtos. E é isso aí que está o gargalo. O empresariado, em geral, espera que o Estado crie as primeiras condições para que eles possam vir. E o nosso Estado ainda não tem, porque é um estado pequeno e com poucos recursos”, finalizou.

Agora RN

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