O governo Lula (PT) constituiu uma força-tarefa de ministros com a missão de desenhar e colocar em prática uma estratégia de aproximação com o público evangélico, ainda refratário ao presidente.
Segundo interlocutores, Lula foi convencido da necessidade de definição de uma tática específica para o segmento, cuja agenda é associada ao bolsonarismo.
Entre os integrantes desse time estão os ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais); Paulo Pimenta (Secom); Márcio Macedo (Secretaria-Geral); Jorge Messias (Advocacia-Geral); Waldez Goés (Desenvolvimento Regional) e Wellington Dias (Desenvolvimento Social).
O grupo se reúne, periodicamente, para se debruçar sobre estatísticas com o intuito de traçar o perfil desse eleitorado e definir políticas voltadas a ele. Para esta quinta-feira (20) está programado um almoço em que Pimenta apresentará dados de uma pesquisa.
Diante da diversidade de lideranças e agremiações religiosas, foi descartada a ideia de escolha de um único coordenador para abertura de diálogo com os evangélicos, optando-se pela montagem de um grupo.
A estratégia inclui o mapeamento de líderes do segmento, influenciadores digitais, comunicadores e canais de comunicação voltados ao setor.
Entre as tarefas está também a identificação de evangélicos que ocupam cargos no governo. A ideia é que, por exemplo, sejam escalados para agendas de apresentação de programas a este segmento religioso.
Uma das funções é garantir mais celeridade ao desmonte de fake news disseminadas nas redes sociais visando abalar a imagem do presidente. O trabalho inclui ainda a seleção de entidades religiosas dedicadas a projetos sociais ainda não atendidas em programas governamentais. A orientação é para que as mulheres estejam no foco dessas ações.
Segundo Wellington Dias, a proposta de união e reconstrução, encampada pelo governo, “também vale para uma boa relação e de cuidados, diálogo com os líderes e, principalmente, atendimento ao povo evangélico com os diversos programas”.
Casado com uma líder evangélica, o ministro cita como exemplo de ações a inclusão no Cadastro Único e no Bolsa Família de quem preencher requisitos, além dos programas Desenrola Brasil, e apoio para qualificação e ao empreendedorismo.
A mais recente pesquisa do Datafolha, de junho, mostra a dificuldade do petista no segmento. Enquanto sua administração é avaliada como boa ou ótima por 37% da população, esse número despenca para 20% entre os evangélicos. Na linha oposta, a reprovação é mais alta —38% contra 27% no eleitorado como um todo.
Para a elaboração de estratégias específicas, as agremiações foram divididas em quatro grupos: tradicionais, pentecostais; neopentecostais e de periferia.
A fórmula parte da constatação de que a amplitude de agremiações exige políticas diferenciadas. Por exemplo, a imunidade prevista na reforma tributária contemplaria apenas um setor.
A adoção de um discurso dirigido ao público evangélico foi fonte de um dilema durante a campanha presidencial. Pressionado por aliados, Lula resistia à ideia de apresentar uma carta de compromissos a evangélicos sob o argumento de que não gosta da ideia de misturar fé e política.
Finalmente convencido, lançou a carta no dia 19 de outubro, a apenas 11 dias do segundo turno eleitoral. Nela, se dizia contra o aborto, enquanto outro trecho afirmava “que o lar e a orientação dos pais são fundamentais na educação de seus filhos, cabendo à escola apoiá-los dialogando e respeitando os valores das famílias, sem a interferência do Estado”.
Lula também teve que negar que seu programa de governo previsse a instalação de banheiros unissex nas escolas.
Folha de São Paulo