O presidente Michel Temer já sabia que os pedidos de investigação autorizados pelo relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, atingiriam oito de seus 28 ministros. Com isso, preparou com antecedência um plano de redução de danos para enfrentar o agravamento da crise. Na tentativa de proteger o governo, Temer pediu aos auxiliares que preparem suas defesas e não se manifestem antes de conhecerem o conteúdo das delações da Odebrecht.
Por enquanto, o presidente não fará demissões na equipe, mas não esconde a preocupação com o que está por vir. Se algum dos ministros for denunciado, será afastado temporariamente e, se virar réu, terá de deixar o cargo. O parâmetro para a linha de corte foi definido por ele ainda em fevereiro. Na lista de Fachin estão os dois mais próximos ministros de Temer: Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil, e Moreira Franco, da Secretaria-Geral da Presidência. Trata-se do coração do governo.
Em conversas reservadas, auxiliares do presidente avaliam que o desgaste ainda vai aumentar muito. Há receio de que o ambiente conturbado provoque instabilidade política, afete a recuperação da economia e prejudique o andamento dos temas de interesse do Palácio do Planalto no Congresso, como as reformas da Previdência e trabalhista.
O novo adiamento da votação do projeto que prevê socorro aos Estados endividados – após esvaziamento da Câmara, na esteira da divulgação da lista de Fachin – foi visto nesta terça-feira, 11, no Planalto como um sintoma da turbulência provocada pelos pedidos de investigação.
Embora Temer soubesse que uma bomba cairia sobre o Planalto com a abertura do sigilo de ex-executivos da Odebrecht, a forma como a lista de investigados apareceu causou contrariedade no governo. A expectativa é de que todos os detalhes das delações sejam conhecidos o mais breve possível para que se possa saber quem fez o quê.
“Todo mundo está sendo tratado da mesma forma e isso não está certo”, disse um auxiliar de Temer, sob a condição de anonimato. “O que tem de sair é a conduta de cada um, o que cada um fez.” Nos bastidores, assessores do presidente dizem que é preciso diferenciar “caixa 2” em campanhas eleitorais de recebimento de propina.
O governo havia sido informado que a abertura do sigilo das delações ocorreria somente após a Páscoa. Apesar de o número de ministros citados ser conhecido, Temer ficou surpreso com a quantidade de senadores envolvidos: 24 dos 81. Questionados sobre o impacto das investigações sobre a base aliada do governo no Congresso, assessores do presidente faziam questão de citar os petistas da lista de Fachin.