O jornalista Clóvis Rossi, de 76 anos, morreu na madrugada desta sexta-feira, 14, em São Paulo. Rossi esteve internado no Hospital Albert Einstein, na Zona Sul da capital paulista, entre sexta-feira, 7 e a quinta, dia 13, por causa de um infarto.
Rossi estava em recuperação, mas passou mal em casa nesta sexta, segundo relatou sua filha, Cláudia, ao também jornalista Juca Kfouri.
“Gigante pela própria natureza”, com quase 2m de altura, seu tamanho não era o único a torná-lo “deveras enorme”. O Rossi era grande em seu trabalho. Determinado, destemido, verdadeiro; não tinha como passar e não notado. Seus textos refletem luz à mente mais escura, esclarece até mesmo o mais abstrato.
Nascido em São Paulo em 25 de janeiro de 1943, dia do aniversário da cidade de São Paulo, Rossi exercia o cargo de repórter especial e era membro do conselho editorial do jornal “Folha de S.Paulo”. Estava na empresa desde 1980. Era colunista e escrevia às quintas e aos domingo.
Em sua coluna na Folha, na última quarta-feira, 12, ele explicou o motivo de não haver postado matérias no domingo, 9.
Leia a íntegra:
“Serve a presente coluna para explicar minha ausência desde domingo (9) nas páginas desta Folha.
É uma satisfação devida ao leitor, se é que há algum. Sofri um micro-infarto na sexta (7), fiz a angioplastia, recebi um stent e, na terça (11), outra angioplastia, com mais quatro stents.
Tudo correu perfeitamente bem, graças à extraordinária eficiência e rapidez de atendimento do hospital Albert Einstein, tanto em seu pronto-socorro no Ibirapuera como no próprio hospital, no Morumbi.
E, claro, graças ao dr. José Mariani, do setor de Hemodinâmica, que colocou os stents, ao meu médico de toda a vida, Giuseppe Dioguardi, e a meu irmão, também médico, Cláudio Rossi.
A alta está prevista para esta quinta-feira (13) e, como o músculo cardíaco não chegou a ser afetado, pretendo retornar à atividade profissional normal na próxima semana.
Agradecimento também aos companheiros da Folha que me ampararam e até mentiram dizendo que estavam sentindo minha falta”.
Trajetória
Formado na Faculdade Cásper Líbero, o jornalista tinha mais de 50 anos de carreira. Começou em 1963. Além da Folha, trabalhou também no “O Estado de S.Paulo” e no “Jornal do Brasil”. Antes teve passagens no “Correio da Manhã”, revistas “Isto É” e “Autoesporte” e pelo “Jornal da República”. Manteve blog em espanhol no “El País”.
Rossi foi editor-chefe no “Estadão” e correspondente em Buenos Aires e Madri pela Folha.
O jornalista tem textos publicados em todos os cinco continentes e trabalhou em coberturas de transição do autoritarismo para a democracia em Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Uruguai, Paraguai, toda a América Central, Espanha, Portugal e África do Sul.
Prêmios
Ganhou os dois mais importantes prêmios jornalísticos na América Latina: o Maria Moors Cabot, concedido pela Columbia University, e o da Fundação para um Novo Jornalismo Iberoamericano, pelo conjunto da obra, que recebeu das mãos do criador do órgão, o Nobel Gabriel Garcia Márquez.
Rossi é cavaleiro da Ordem do Rio Branco, conferida pelo governo brasileiro por decreto do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É também cavaleiro da Ordem do Mérito, atribuída pelo governo francês, durante a presidência de François Hollande.
Livros
Entre seus livros estão “O que é jornalismo” (1980), “Militarismo na América Latina (1990) e “Enviado especial: 25 anos ao redor do mundo” (1999). Clóvis é um dos grandes manuais de referência nas faculdades de comunicação, seus textos estão entre os mais indicados dentre as bibliografias obrigatórias aos futuros jornalistas.
Repercussão
Juca Kfouri, jornalista, em seu blog
“A um jornalista não é permitido dizer que lhe faltam palavras. Pois descobri agora mesmo que estou na profissão errada. Não sei o que dizer”.
Míriam Leitão, jornalista, no Twitter
“Morreu um dos grandes do jornalismo. Clóvis Rossi é um ícone, de alta competência. Suas análises tinham sempre muita informação porque permaneceu sendo repórter por toda a sua vida. Meu abraço aos amigos da @folha , aos seus familiares. Rossi era mestre e suas lições ficam. #RIP”
Sérgio Dávila, diretor de redação da Folha de S.Paulo
“A Folha e o jornalismo brasileiro perdem um de seus principais e mais premiados repórteres, certamente o mais experiente. Clovis era admirado por gerações de profissionais por sua independência de pensamento, disposição e rapidez de trabalho e qualidade de cobertura. Vai fazer muita falta”.
William Bonner, jornalista, no Instagram
“E, num momento desses, perdemos todos o o olhar atento e a voz firme de um sentinela das democracias.”
Com informações: G1