O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse na sexta-feira (24) em uma palestra no Rio Grande do Norte que a empresa tem “uma máquina de proibir coisas”, e afirmou que, na última gestão, a companhia tomou “alguns caminhos” de forma racional e “apolítica”. Segundo ele, isso levou a resultados “equivocados, exagerados ou pelo menos estranhos”.
Prates também criticou os lucros da companhia, que considera “muito discrepantes” em relação ao total de investimentos, e comparou as vendas de refinarias e das outros ativos realizadas pela petroleira no passado à atitude de “um herdeiro que herda uma grande fortuna e passa a vender parte dessa fortuna que não faz tanto sucesso com os amigos e com as festas”.
Hoje o lucro anual da Petrobras está em R$ 107 bilhões e os investimentos previstos são de US$ 9 bilhões por ano, ou R$ 45 bilhões.
As declarações foram feitas na cerimônia de comemoração dos 70 anos da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte, Fiern.
Embora Prates já tenha sido empossado, só nos próximos dias o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai enviar à companhia os nomes dos novos indicados para o conselho, que serão submetidos para à Assembléia Geral em abril – e que, por sua vez, chancelará os diretores já indicados pelo novo presidente da Petrobras.
Por enquanto, ele ainda convive com a diretoria nomeada no governo Bolsonaro. No evento em Natal, embora tenha dito que essa convivência é harmônica, ele deixou bem claras suas diferenças.
A primeira foi a preocupação com as normas do mercado de capitais. Logo no início, Prates disse ter sido alertado pela equipe da Petrobras de que não poderia fazer palestras nos dias que antecedem a divulgação do balanço, marcado para a próxima quarta-feira (1).
Prates não falou sobre os resultados a serem divulgados na quarta-feira, e nem comentou a reunião que terá nesta segunda-feira com o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a desoneração de impostos federais cobrados sobre os combustíveis.
Fez, porém, críticas a gestões passadas, e deu indicações sobre o que pretende fazer no futuro.
Em sua opinião, a empresa fez cortes radicais de despesas e de pessoal que não necessariamente trouxeram mais eficiência. “Hoje a Petrobras tem mais de 38 mil funcionários, mas já foram 70 mil”, afirmou. “Isso não é medida de eficiência nenhuma, não é mérito nem demérito. Apenas para a gente entender que a empresa passou por um enxugamento mas também por uma dita ‘eficientização’ – que eventualmente pode ser boa para um lado, mas tem os seus percalços também”.
Para ele, as mudanças feitas no atual governo são resultado de uma “ressaca” em relação ao que ele chamou de “processo de cooptação por cartéis, por empresas” — referência ao escândalo do petrolão, que segundo Prates teve um julgamento que também “saiu dos limites”.
Prates afirmou que essa “ressaca” fez com que a empresa cortasse “coisas que não precisavam ser cortadas” . São esses os resultados estranhos a que Prates se referiu na palestra. “Estranhos não no sentido de desconfiar da honestidade de ninguém não. Mas no sentido de ‘por que fazer isso’?”, questionou, já respondendo: “As pessoas que estavam ali eventualmente não entendiam o que é a vantagem de ser verticalizada no setor de petróleo.”
Com informações de O Globo