O Ministério da Fazenda admitiu oficialmente nesta segunda-feira (21) que a economia brasileira vai crescer menos em 2017 e anunciou a revisão de sua estimativa de alta do Produto Interno Bruto (PIB) para o próximo ano de 1,6% para 1%.
O governo também anunciou que prevê um encolhimento ainda maior da economia em 2016. A previsão, que era de queda de 3%, passou para 3,5%.
“O que realmente causou essa recessão foi uma queda de confiança causada por questões fiscais [problemas nas contas públicas]. O empresário retrai investimento. O mais importante que a gente tem de resolver é a questão fiscal. É o âmago de tudo”, declarou o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Fabio Kanczuk.
As novas previsões do governo para o PIB estão em linha com o que projeta o mercado financeiro, conforme mostra o mais recente levantamento feito pelo Banco Central e divulgado nesta segunda. A expectativa do mercado é que a economia encolha 3,4% em 2016 e cresça 1% em 2017.
O PIB é a soma de todos os bens e serviços feitos em território brasileiro, independentemente da nacionalidade de quem os produz, e serve para medir o comportamento da economia brasileira.
Impacto no orçamento
Quando uma economia cresce menos que o previsto o governo também arrecada menos impostos que o esperado. Portanto, a mudança na projeção para o desempenho do PIB também deve afetar os cálculos do governo para suas receitas em 2017.
Essa situação é especialmente complicada para o Brasil, que vem registrando seguidos déficits fiscais (despesas acima da arrecadação), justamente uma das razões para a crise econômica.
Para o próximo ano, o governo já propôs que seus gastos superem a arrecadação com impostos em até R$ 139 bilhões. Entretanto esse valor, que se confirmado já será o segundo maior rombo fiscal da série histórica, leva em conta o crescimento de 1,6% do PIB em 2017.
Nesta segunda, o secretário de Política Econômica, Fabio Kanczuk, não quis fazer uma projeção sobre a arrecadação de 2017. Segundo ele, esse número será divulgado somente no fim do primeiro trimestre do próximo ano.
“Se tudo mais está constante e o PIB tem uma projeção menor, a projeção de receita cai. Mas tem um monte de outros fatores acontecendo ao mesmo tempo, como [mudanças no patamar do] câmbio, inflação, massa salarial. Tem um monte de detalhes que a gente tem de apurar com cuidado para ver o que vai acontecer”, declarou ele.
Demora no enfrentamento da crise
Na semana passada, em Nova York (Estados Unidos), onde se reuniu com investidores, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que a economia crescerá menos do que o previsto anteriormente em 2017 porque houve demora no enfrentamento da crise financeira.
“Essa crise, começamos a enfrentá-la a partir de maio [quando Michel Temer assumiu a Presidência, ainda interinamente], quando entramos no governo. Isso fez com que a saúde geral da economia já estivesse afetada, empresas negociando com bancos. Por tudo isso demora mais um tempo para recuperar, mas já está em andamento”, declarou ele na ocasião.
De acordo com análise de Henrique Meirelles, a recuperação, porém, é “sólida”. “Gradualmente vai aumentar a taxa de crescimento, porque estamos trabalhando em outras reformas para aumentar o nível de produtividade da economia, como por exemplo, nos investimentos em infraestrutura”, declarou ele na semana passada.
Inflação em 2017
O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda também informou que o governo baixou de 4,8% para 4,7% a sua estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial.
Com isso, a estimativa oficial do governo para o comportamento da inflação no próximo ano permanece abaixo do teto de 6% fixado para 2017 – mas ainda não atingiu o objetivo central de 4,5% para o IPCA no período.
A previsão do governo continua acima do valor projetado pelo mercado financeiro. De acordo com levantamento feito na semana passada pelo BC com os analistas dos bancos, o IPCA deverá ficar em 4,93% em 2017.
O BC tem informado que buscará “circunscrever” o IPCA aos limites estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 2016 (ou seja, trazer a taxa para até 6,5%), e também fazer convergir a inflação para a meta de 4,5%, em 2017.