Nos últimos anos, a saúde mental no ambiente de trabalho tem se tornado uma pauta central em discussões sobre produtividade, inovação e bem-estar, especialmente para os empreendedores. Em entrevista ao Tribuna Livre, da Jovem Pan News Natal, Thalles Medeiros, gerente Agência Sebrae Grande Natal, falou sobre a falta de atenção à saúde mental e como isso pode acarretar sérios problemas, tanto para o indivíduo quanto para a empresa.
Empreendedores enfrentam desafios únicos que impactam diretamente sua saúde mental. A pressão por resultados, incertezas financeiras, isolamento e sobrecarga de responsabilidades são apenas alguns dos fatores que os tornam particularmente suscetíveis a transtornos psicológicos. Um estudo realizado pela Universidade da Califórnia, em São Francisco, apontou que 49% dos empreendedores sofrem de, ao menos, uma condição de saúde mental, como ansiedade, depressão ou transtornos de atenção.
Thalles ressaltou que o ato de empreender, por si só, já é um grande desafio para a estrutura psicológica, devido ao alto risco envolvido. No Brasil, essa pressão é intensificada pelo grande número de empreendedores que entram no mercado por necessidade, buscando apenas pagar suas contas, o que aumenta ainda mais a ansiedade e o estresse.
Além de cuidar de si, é importante que empreendedores promovam uma cultura organizacional que valorize a saúde mental. Empresas que implementam políticas de bem-estar, como flexibilidade de horários, pausas regulares e acompanhamento psicológico para suas equipes, tendem a ser mais produtivas e inovadoras.
Essa realidade coloca um peso adicional sobre os empreendedores, que precisam gerenciar equipes, lidar com questões burocráticas e ainda garantir sua própria estabilidade emocional. “Eu acho que a pandemia também ampliou os nossos sentidos a respeito disso, ampliou não só os sentidos, mas também a ansiedade, uma série de outras coisas. Veio tudo junto”, comentou o gerente, ao destacar como a pandemia exacerbou problemas emocionais, especialmente para quem empreende.
No Brasil, esses números refletem uma realidade ainda mais preocupante. Segundo a International Stress Management Association (ISMA-BR), cerca de 32% dos trabalhadores brasileiros sofrem com algum nível de estresse crônico, muitas vezes levando ao esgotamento profissional (burnout). A realidade do empreendedor, com jornadas exaustivas e grande cobrança pessoal, coloca-os em um grupo de alto risco.
Thalles Medeiros destacou que muitos adultos só começam a lidar com questões emocionais quando a situação já está crítica. Ele destacou que, para superar o burnout, é necessário primeiro retornar a um estado de exaustão antes de gradualmente atingir um nível de cansaço gerenciável, ressaltando a importância de uma gestão mais equilibrada da vida em busca de saúde mental.
“É interessante porque nós temos um problema muito grande ainda de dar nome às coisas. E o campo das emoções é uma dificuldade que a gente tem. […] A ansiedade, a OMS declara que o Brasil é o país mais ansioso do mundo. Isso antes da pandemia. Imagine agora”, ressaltou o gerente ao abordar os desafios emocionais enfrentados pelos brasileiros.
O profissional destacou que, no Sebrae, são realizados esforços contínuos para abordar a saúde mental, tanto com a disseminação de conteúdo, como no Setembro Amarelo e Abril Verde, quanto em eventos e jornadas internos. Ele mencionou que um dos grandes desafios é a necessidade de capacitações mais específicas e de apoio de profissionais de saúde, já que as questões de saúde mental nas empresas não podem ser resolvidas apenas com ferramentas de gestão técnica.
“Hoje, o que a gente tem feito muito, na verdade, qualquer campo que a gente vai fazer de saúde mental, dentro das organizações, você precisa fazer um trabalho muito grande de sensibilização e de cultura organizacional. Porque isso é um tabu muito grande. Especialmente para uma ideia de autoprodutividade, tudo o que a gente imagina de desempenho, quando chega alguém com um adoecimento psíquico, a gente sempre encara aquilo ali como uma fraqueza”, explicou Medeiros.
O cenário da saúde mental no Brasil é alarmante, especialmente no contexto profissional. Dados recentes do Ministério da Saúde apontam que transtornos mentais, como ansiedade e depressão, são a terceira causa de afastamentos do trabalho no Brasil. Além disso, o Brasil é o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo, afetando cerca de 9,3% da população, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Estudos apontam que empresas com uma cultura de saúde mental têm até 12% mais produtividade e apresentam menor rotatividade de funcionários. Portanto, ao promover um ambiente saudável, o empreendedor não só cuida de sua saúde, mas também impulsiona o crescimento sustentável de sua empresa.
Thalles explicou que o empreendedorismo, por sua natureza de alto risco, torna o ambiente mais insalubre para a saúde mental. Ele também destacou a necessidade de desenvolver competências ao longo da vida para lidar com essas complexidades e gerenciar riscos adequadamente. “Ele já cria, na verdade, um ambiente um pouco mais insalubre, em termos de complexidade em termos de saúde mental, dentro do ato do empreendedorismo”, afirmou o gerente, destacando os desafios emocionais envolvidos na atividade empreendedora.
Tribuna do Norte