No jogo de interesses pelo comando da Câmara e do Senado, o presidente Jair Bolsonaro e os candidatos apoiados por ele parecem ter encontrado um meio-termo que agrada a todos os lados. Enquanto o mandatário recebeu a palavra do deputado Arthur Lira (PP-AL) e do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) de que nenhum pedido de impeachment contra ele será analisado e que as comissões parlamentares mistas de inquérito (CPMIs) que mirem o governo podem ser barradas, aos parlamentares foi feita a promessa de que eles poderão escolher nomes para integrar o Executivo, principalmente ministérios.
O tão condenado toma lá dá cá durante a campanha presidencial, agora, virou uma rotina para Bolsonaro. Desde o início do ano, foram diversas conversas com bancadas partidárias e frentes parlamentares para consolidar a campanha dos seus candidatos.
A interferência do presidente no processo eleitoral do Legislativo se intensificou em um momento em que cresce a rejeição de parte da população à sua gestão, sobretudo pelas atitudes dele no enfrentamento à pandemia da covid-19. Em paralelo, mais pedidos de impeachment contra o chefe do Planalto chegaram ao Congresso, inclusive, de setores que tradicionalmente o apoiavam, como os religiosos.
Além disso, uma parcela do Parlamento cobra a instauração de uma CPMI para investigar a atuação do governo diante da crise sanitária. Maia, inclusive, já defendeu, publicamente, que o Congresso apure se houve algum crime do Planalto. Preocupado com os possíveis reflexos para o seu mandato, Bolsonaro tem sido mais enfático no apoio a Lira e a Pacheco, que tendem a “blindar” o presidente, se forem eleitos, o que não é o caso de Baleia Rossi e da senadora Simone Tebet (MDB-MS) — agora, candidata independente.
“Esse assunto (pandemia) não pode ser motivo de embates políticos para trazermos para a discussão traumas, interrupções bruscas democráticas. Não é momento para divisão nem acotovelamento, não é momento para que a gente tensione politicamente”, ponderou o deputado do PP, nesta semana. “Não podemos claudicar, neste momento, para que o Brasil aprofunde a crise, porque é um problema mundial. Em qualquer matéria que tenha maioria, o debate será amplo, será democrático nesta Casa.”
Ministérios
Do outro lado da moeda, os parlamentares estão de olho na chefia de pastas importantes do governo, e Bolsonaro está disposto a ceder alguns ministérios como contrapartida. Um deles é o da Cidadania, que interessa aos congressistas porque controla os pagamentos de benefícios sociais, como o Bolsa Família. Diante das promessas do governo de revitalizar o programa, os parlamentares querem estar à frente do ministério para colher os frutos de um eventual sucesso da iniciativa.
Nesse cenário, Onyx Lorenzoni, atual chefe da pasta, poderia ser remanejado para outra. A mais cotada é a Secretaria-Geral da Presidência, que segue sem um ministro efetivo desde a ida de Jorge Oliveira para o Tribunal de Contas da União (TCU) — por enquanto, Pedro Marques é o interino.
O presidente cogita até aumentar a quantidade de ministérios para garantir que os seus candidatos no Congresso indiquem nomes para a administração federal. Incorporado à pasta da Economia, no início do governo Bolsonaro, o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços pode ser recriado.
Por enquanto, a única resistência de Bolsonaro tem sido a de se desfazer dos ministros da Saúde, Eduardo Pazuello, e das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Mantê-los no governo tornou-se uma questão de honra do mandatário, que tem aproveitado todo tipo de evento público para exaltar o trabalho dos dois.
Diário de Pernambuco