O senador Lindbergh Farias (PT) está na linha de frente da defesa da presidente afastada Dilma Rousseff no Congresso. Com um discurso afiado, Lindbergh acredita que ainda há chances de alguns senadores mudarem de ideia e votarem contra o impeachment. Para isso, o partido aposta todas as fichas no discurso que Dilma fará dia 29 em sua defesa no Senado. Nesta entrevista à repórter Julianna Granjeia, ele diz que essa fala de Dilma “será um dia histórico”. Certo de que ela não fez nada ilegal, ele se diz esperançoso em “virar o voto” de até “oito ou nove senadores”.
A poucos dias da decisão sobre o impeachment no Senado, o grupo pró-impeachment dá como certa a vitória, mas o sr. não diminui o ritmo de envolvimento com a defesa de Dilma. Quais os seus argumentos a favor da presidente?
Não há crime de responsabilidade cometido por ela. As chamadas pedaladas do Plano Safra não têm autoria da presidente. O plano é gerido por quatro ministérios, a perícia do Senado o comprovou. Em relação aos créditos suplementares, todos os presidentes fizeram isso, todos os governadores. Não era ilegal. E o TCU só mudou o funcionamento disso depois. Onde está o dolo?
Acha possível reverter ainda a atual maioria contra ela?
Estamos apostando todas as fichas no depoimento que ela dará dia 29 no Senado. Nesse dia achamos que o Brasil vai parar. Esse momento vai ficar marcado na história do País. E acho que ela vai conseguir mudar a posição de alguns senadores que no início votaram contra. A gente sabe de um grupo de oito, nove senadores que votaram pelo impeachment no início, mas não estão confortáveis. Há uma mudança grande no Nordeste, a pressão lá virou. Então, é errada essa história de que o jogo está perdido. E a fala dela pode reforçar esse movimento de virar os votos. As frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo estão organizando uma grande manifestação no dia da fala dela, com caravanas em todos os Estados.
Como a presidente está se preparando? Haverá alguma surpresa?
Ela está convicta de que não cometeu nenhum crime e vai explicar as motivações desse processo. A gente sabe que ela cresce na adversidade,. Que é vítima de uma conspiração.
Acredita que o PT falhou na defesa da presidente?
Aquele processo, na Câmara, foi conduzido com mão de ferro por Eduardo Cunha. Ele começou no dia em que o PT anunciou que ia votar pela cassação do deputado, então presidente da Casa. Não acredito que tenha havido falta de empenho do PT, até porque nas ruas a gentes conseguiu reverter muito. No Nordeste, a maioria já é totalmente contra o impeachment.
Como o senhor vê o cenário pós-impeachment?
Ela ganhando, como falou na carta, vai chamar um plebiscito com a hipótese de antecipação das eleições e a grande preocupação será como proteger os empregos e retomar o crescimento econômico. Nós vamos trabalhar para que ela volte porque, na hipótese de derrota, vamos entrar numa fase de luta de classes escrachada nas ruas do País. Porque com a derrota da Dilma eles vêm com um programa de muita retirada de direitos. Uma derrota dela vai ser ruim para o País e vamos entrar num período de muitos conflitos. Nessa hipótese, vamos resistir duramente. Não vamos aceitar um programa como esse de Michel Temer. Esse programa não foi eleito.
Qual a força e o papel que imagina para o PT depois de 2016?
Não se pode falar só do PT. Essa narrativa que eles estão construindo é um golpe sujo com as digitais do (deputado Eduardo) Cunha, um governo com figuras como Temer, Geddel Vieira Lima, Eliseu Padilha. Um programa como esse, sinceramente… Em muito pouco tempo a maioria da população brasileira vai perceber que nós podemos ter cometido nossos erros, mas izemos inclusão social, olhamos para o povo mais pobre e trabalhador. Vai ficar claro, em pouco espaço de tempo, que o que está por trás desse golpe é a tentativa de destruir todo esse processo de inclusão social que aconteceu no País. Quem acha que o PT e a esquerda saem avariados está enganado. Nós vamos retomar nossa narrativa a partir dessa resistência contra a retirada de direitos do governo Temer. E não há duvidas de que essa narrativa nós vamos vencer.