A Justiça de São Paulo determinou que a Corregedoria da Polícia Militar investigue possíveis crimes cometidos pelo ex-PM Norberto Florindo Júnior enquanto integrante da tropa. Conforme denunciado pela Ponte, o agora professor da Alfa Concursos, escola para concurseiros, admite e se vangloria de ter matado mulheres, bebês e suspeitos feridos enquanto os socorria ao hospital.
O MP (Ministério Público) de São Paulo confirma que a Justiça solicitou a abertura de investigações após as reportagens divulgadas pela Ponte. O promotor de Justiça Militar Edson Correa Batista concordou com o pedido e, assim, a Justiça encaminhou a investigação para a Corregedoria da PM. A série de reportagens também mostrou que a AlfaCon possui como acionista a Somos Educação, controlada pela Kroton, maior grupo privado de educação do Brasil e como o fundador da empresa, Evandro Guedes, exalta tortura cometidas quando agente penitenciário federal.
Corregedor da PM paulista, o coronel Marcelino Fernandes ainda não havia recebido a determinação quando questionado pela Ponte. No entanto, explica que existe, sim, a possibilidade de Norberto responder por atos cometidos enquanto policial militar. “Se não estiver prescrito, os crimes são apurados”, explica Marcelino.
Nas gravações, o professor de Direito ensina aos aspirantes a policiais militares técnicas de tortura e execução. Entre as práticas, mostra como se deve matar um suspeito baleado. “Bandido ferido é inadmissível chegar vivo ao pronto-socorro. Só se você for um policial de merda. Você vai socorrer o bandido, como?! Com esta mão, você vai tampar o nariz e, com esta, a boca”, diz Norberto, revelando ter prestado “100 socorros, eu nunca perdi um paciente [risos]. Todos que socorri chegaram mortos, todos”.
O ex-PM ainda afirma aos aspirantes que “nada como uma tortura bem aplicada” para as pessoas confessarem crimes. Em outro vídeo, ele vai além: confessa ter praticado chacinas, inclusive de bebês. “Por isso quando eu entrava chacinando eu matava todo mundo: mãe, filho, bebê, foda-se! Eu já elimino o mal na fonte”, afirma, se vangloriando de ter sido contatado pelo deputado federal por São Paulo Eduardo Bolsonaro (PSL), filho do presidente Jair Bolsonaro. “[Eduardo] Passou um zap [WhatsApp]. ‘Capitão, fiquei sabendo que o senhor matou um monte de gente?! Queria agradecer suas matanças’”, segue Júnior.
O corregedor Marcelino Fernandes detalha que os possíveis crimes de apologia à violência e tortura, conforme avaliado por especialistas que analisaram as aulas de Norberto, não são de competência da Corregedoria por ele não compor mais os quadros da Polícia Militar. Casos de policiais aposentados são de responsabilidade da Corregedoria.
Norberto Florindo Júnior foi demitido da corporação no dia 22 de setembro de 2009, quando condenado por posse de cocaína no alojamento da Diretoria de Ensino da PM. Àquela época, ele dava aulas de Direito aos militares de patente inferiores, como sargentos.
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A PM avaliou que sua atitude violou artigo sobre atitude “moral e profissionalmente idônea” ou “revelar incompatibilidade para o exercício da função policial-militar”. Norberto ainda recebeu condenação de um ano e seis meses de reclusão em regime aberto.
A Ponte solicitou à AlfaCon posicionamento sobre as falas de Norberto e obteve como resposta a mesma nota publicada pela empresa em seu site oficial. A reportagem reforçou o pedido de entrevista com o ex-PM, no entanto, também não houve um posicionamento.
Com informações YAHOO