Por José Vanilson Julião – editor Jornal da Grande Natal
Em quase 40 anos de jornalismo esta é a segunda vez que me deparo com uma notícia sem ideia de como iniciar o primeiro parágrafo.
Mesmo tendo noticiado a internação do arqueiro Ubirajara Dias Ribeiro (Rio de Janeiro, 21/6/1947 – Duque de Caxias, 4/7/2021).
Fui pego de surpresa pelo falecimento do carioca titular do arco do América (1973/76), após complicações em decorrência d Covid-19. Ele foi trazido ao América de Natal pelo treinador carioca Maurílio José de Souza, o “Velha”.
No domingo a filha Lívea Alves Ribeiro me transmite informações oficiais do Hospital Municipal São José indicando a gravidade da situação sem previsão de alta do paciente.
Depois passei a madrugada da segunda-feira (05) trocando informações com ela sobre a carreira do pai.
E aproveitei para enviar fotografias de Ubirajara de alguns clubes que defendeu: Bonsucesso, Moto Club (São Luís/MA) e Ferroviário (Fortaleza/CE).
Como fui dormir por volta das cinco horas – ela confirma a conversa em rede social – acordo ao meio dia, passo a tarde com outros assuntos e a noite também.
À meia noite decido conferir duas redes sociais. Numa a notícia que não esperava: Ubirajara falecera no começo da noite do domingo, mas somente fora informada na manhã da mesma segunda-feira (05).
A última vez que falei com Ubirajara foi em 17 de julho do ano passado. Ocasião em que informei sobre a pesquisa que realizo sobre os jogadores americanos.
Posteriormente mais duas vezes. Em agosto informei que o levantamento estava caminhando. Em dezembro votos pelo período natalino.
Depoimento da filha do goleiro Ubirajara Dias Ribeiro
Lívea Alves Ribeiro (Facebook)
Eu me deitei ontem (4/7) depois de tomar meu antidepressivo. Sim, desenvolvi depressão durante essa pandemia e estou em tratamento.
Não consegui dormir e passei a madrugada conversando com o jornalista José Vanilson Julião, que me enviou muitas fotos da carreira do meu pai, e falando sobre o amor do meu pai pelo futebol.
Por volta de 6 horas da manhã, insisti e dormi um pouco e acordei com a notícia da desencarnação do meu pai. Fica a saudade, a dor da ausência física e a esperança de um reencontro em outro plano.
Há mais de cinco anos durmo com esse aparelho respiratório (CPAP); é uma imagem chocante, sim, pode ser, mas esse aparelho é meu companheiro salvador.
Tenho apneia, sem ele eu já poderia ter morrido, foi isso que um médico me disse quando eu descobri essa comorbidade, que afeta vários funcionamentos do organismo, em especial, os relacionados ao bom funcionamento do meu metabolismo. Cheguei a pesar 130 quilos. Continuo obesa, mas peso bem menos que isso hoje em dia.
Tendo esse problema respiratório sou alvo fácil para esse vírus maldito, que levou meu pai, meu sogro e mais de 500 mil pessoas no nosso país.
Nunca peguei COVID, meus cuidados são severos, pois sei que sou alvo fácil e seguramente fatal, se contrair esse vírus.
Um dos quadros que a pessoa com Covid passa é a falta de ar, eu convivo com essa possibilidade, diariamente, há mais de cinco anos. Depois dos antidepressivos a pressão do meu aparelho teve que ser aumentada e outros aparelhos tiveram que ser acoplados.
Um dos maiores pavores de meu pai era a solidão, a COVID proporciona isso as pessoas que a contraem, dentro outros sofrimentos e seqüelas para os que sobrevivem.
FALTA DE AR NÃO É LEGAL!
CUIDEM-SE!
USEM MÁSCARA!
POR AMOR A SI MESMO E POR SEU SEMELHANTE.
Meu pai disse que sua presença seria mais freqüente, assim que essa pandemia passasse. Ele estará presente na minha fisionomia, no meu coração, na minha história e na minha vida para todo o sempre.
Até mais pai.