O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, disse que o MAS (Movimento ao Socialismo, partido de Evo) vencerá as próximas eleições, mas que não tem certeza se no 1º ou no 2º turno. O líder indígena está impedido de concorrer ao pleito e o novo candidato da sigla permanece incerto. As declarações foram feitas em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, divulgada nesta segunda-feira, 2.
Morales voltou a afirmar que sua renúncia foi resultado de uma conspiração. Um parecer preliminar da OEA (Organização dos Estados Americanos) dizia ser impossível validar a vitória de Evo no 1º turno. “Por que não disseram ‘vamos ao 2º turno’? Por que sugerem novas eleições? Isso é golpe”, queixou-se Morales.
Cobra ainda a demora em um informe final da OEA, que não divulgou novas informações sobre a auditoria. O ex-presidente afirma que organiza “uma comissão da verdade” com investigações conduzidas por outras entidades.
Evo aponta dois fatores que levaram ao “golpe”que culminou na sua saída do cargo. O ex-presidente afirma que as melhorias promovidas pelo seu governo criaram uma “nova classe média” que não se identifica tanto com ele. “Foi crescendo a mentalidade de luxo, lucro. E ela tem preconceitos.”
Outro elemento, de acordo com Morales, foi a influência norte-americana. O reconhecimento da presidente autoproclamada Jeanine Áñez pelos Estados Unidos seria “prova de que participaram do golpe de Estado”. Os EUA, de acordo com Evo, também teriam parte no parecer da OEA.
Já a violência dos protestos teria relação com o fortalecimento do fascismo. “Não sei se, depois [da eleição do presidente Donald] Trump nos EUA, essa onda não começou a crescer”, pondera o líder indígena.
ELEIÇÕES
Ainda não há data para a nova corrida eleitoral. O Supremo Tribunal Eleitoral precisa ser renovado antes de convocar novas eleições, que devem ocorrer em até 120 dias após a chamada.
O líder da direita conservadora, Luis Fernando Camacho, já anunciou sua intenção de concorrer à Presidência. Ele ganhou projeção durante aos manifestos ao pedir a intervenção dos militares na deposição de Evo. À época dos protestos, Camacho disse que não sairia candidato.
Já Morales afirmou que abrir mão da candidatura é uma decisão política e que é o “sacrifício” que faz “para pacificar a Bolívia”. O nome que substituirá o de Evo nas eleições ainda está sendo discutido com sindicatos e movimentos sociais. “Queremos, assim como os EUA e a direita dizem, eleições livres e transparentes”, afirmou o ex-presidente. Ele não descarta a possibilidade de concorrer no futuro.
Mesmo sem disputar as eleições, Morales quer voltar à Bolívia. Ele está refugiado no México desde 11 de novembro, onde chegou com uma muda de roupa e sem documentos. “Não sou corrupto, não sou nenhum delinquente. Tenho o direito de voltar”, declarou.
A renúncia de Evo aconteceu no seu 4º mandato consecutivo, quando a Constituição boliviana permite dois. Perguntado se cometeu um erro ao concorrer no último pleito, Evo respondeu que a sociedade disse “que o único candidato [a presidente em 2019] era Evo Morales. Se cometi algum erro, foi ter aceitado [a vontade] do povo”. E conclui: “Não sei se foi um erro no final. Houve uma eleição. Ganhamos no 1º turno.”
Poder360