O pesquisador da UFRN Cristiano Prestrelo fez um alerta contundente sobre a gravidade da crise climática global. “Estamos próximos de entrar na UTI. A situação não é muito favorável, é extremamente grave”, afirmou, em entrevista ao programa CBN Natal. Prestrelo explicou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) já classifica a emergência climática como uma pandemia global, dada sua escala e impacto na humanidade.
Prestrelo destacou que o distanciamento da humanidade em relação à natureza agrava o problema. “Hoje, o nosso meio ambiente é a cidade. É um ambiente em que a árvore suja o chão, e a natureza é vista como perigosa. Essa desconexão dificulta a proteção do que ainda resta”, explicou o pesquisador. Ele também lembrou que os níveis de consumo global estão muito acima da capacidade do planeta.
“Atualmente, a Terra já precisa de 1,7 vezes sua capacidade para atender à demanda de recursos. Se todos consumissem como um americano médio, seriam necessárias seis Terras.”
Apesar do cenário alarmante, o pesquisador adota um tom otimista. “A ciência precisa ser o farol disso. Ainda há tempo, sim, para reverter essa condição, mas o tempo é urgente. Precisamos cobrar nossos tomadores de decisão para que acordos ambientais sejam colocados em prática imediatamente”, defendeu. Ele destacou a necessidade de mitigar gases de efeito estufa para evitar o agravamento do aquecimento global.
Prestrelo enfatizou a importância da educação ambiental para crianças e jovens como uma das soluções de longo prazo. Ele citou um estudo britânico publicado na revista Science, no qual crianças demonstraram mais facilidade para identificar personagens do desenho Pokémon do que espécies naturais. “Isso mostra que, se ensinarmos as espécies naturais com a mesma dedicação, as crianças terão a mesma capacidade de aprender”, afirmou.
Para o pesquisador, a educação ambiental deve começar no ensino básico e ser complementada com leis e políticas públicas. “Se não tivermos legislação eficiente e sua aplicação, a população continuará fazendo o que tem sido feito até hoje”.
Outro ponto destacado por Prestrelo foi o impacto do modelo de consumo atual. “Se continuarmos com a ideia de que o americano pode consumir como consome, estamos levando o planeta ao limite”. Ele defendeu o investimento em tecnologia e ciência para aumentar a produtividade agrícola sem desmatamento. “Não precisamos de mais um metro quadrado de floresta desmatada. Podemos nos desenvolver com uma matriz energética mais limpa e preservando nossos recursos naturais”.
Prestrelo também abordou a importância da preservação da Amazônia e outros biomas brasileiros, como Caatinga, Cerrado e Pantanal. “A ausência da Amazônia no sistema climático global gerará colapsos no planeta inteiro. Precisamos garantir sua proteção para manter condições climáticas mais saudáveis”.
Ele chamou atenção para o impacto das queimadas e desmatamentos. Entre 2023 e 2024, o desmatamento na Amazônia caiu 45,7%, mas as queimadas criminosas aumentaram 79%, ultrapassando 30 milhões de hectares, a maior área desde o início das medições do MapBiomas em 2019.
“Comemoramos a redução do desmatamento, mas lamentamos o aumento das queimadas. Isso mostra que a gestão dos recursos ainda é falha”, apontou.
O pesquisador alertou que as condições climáticas extremas vivenciadas hoje – secas severas, inundações e ondas de calor – se tornarão permanentes se ações drásticas não forem tomadas. Ele também mencionou o Acordo de Paris, que estabelece um limite de 1,5°C no aumento da temperatura média global. “Em 2024, ultrapassamos 1,6°C. Não esperávamos atingir esse número tão rapidamente. Isso é alarmante”, afirmou.
Prestrelo finalizou com um apelo. “A proteção do meio ambiente exige conscientização em todos os níveis – da educação infantil à ação política imediata. Estamos em um ponto crítico, e a ação de hoje determinará o mundo que queremos deixar para as próximas gerações”.
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