CURSO TÉCNICO EM APICULTURA EM INSTITUTO FEDERAL EM PAU DOS FERROS, RIO GRANDE DO NORTE — FOTO: REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Na região de Pau dos Ferros, no Grande do Norte, divisa com o Ceará, uma escola técnica se tornou marco na paisagem e símbolo de esperança. Lá é ministrado o primeiro – e único – curso de apicultura de um instituto federal do país.
A estrutura é de fazer inveja. Grande parte da eletricidade que consome é gerada lá mesmo, captando luz solar. O Instituto Federal Rio Grande do Norte (IFRN) tem ainda ar condicionado e aparelhagem completa de data show, com telão e controle remoto para os professores, em todas as salas.
As turmas fazem Ensino Médio completo, incluindo aulas de língua estrangeira. Mas os estudantes não recebem apenas a educação padrão, aprendem junto uma profissão. Além do curso de apicultura, eles podem escolher o curso de tecnologia de alimentos e de informática.
Dos 1 mil alunos do instituto, 250 cursam apicultura. A seleção é concorrida e, do total de vagas, 50% são reservadas para alunos de escolas públicas.
Segundo a diretora Antonia Francimar da Silva, de cada dez alunos, sete vêm de classes mais populares.
A instituição provoca na região uma transformação parecida com a que acontece quando chove na caatinga, quando a vida explode e fica tudo verdinho. Com educação de excelência, a juventude floresce e a cidadania frutifica.
Apicultura do campo à indústria
O curso de apicultura simula a vida real das profissões, para que o aluno já possa, se for o caso, ter um ganha pão longo que conclui o Ensino Médio. Por isso, as aulas práticas são intensas.
Em dos experimentos práticos, por exemplo, os estudantes desenvolvem estruturas que simulam ninhos para que os apicultores possam criar as abelhas solitárias, sem ferrão e que não formam enxames, que polinizam com mais eficiência algumas culturas e também têm papel importante na preservação da vegetação nativa da região. Já foram coletadas no instituto cerca de 300 dessas abelhas, de 15 espécies diferentes.
Além de técnicas de produção, propriamente, o curso oferece também uma formação mais científica sobre os chamados aspectos físico-químicos dos derivados da abelha, com muita pesquisa de laboratório. É que só uma análise técnica pode indicar a qualidade do mel.
“Por que ter aulas com todo esse conhecimento de análise? Porque enquanto técnicos eles podem prestar consultoria aos produtores, para já dividir e classificar (o mel)”, diz a química e professora do instituto Luciene de Mesquita Carvalho.
Poderão também prestar consultoria para solucionar um desafio que, na caatinga, é maior que em outras regiões do país, a falta de pasto apícola causada pelos longos períodos de estiagem.
Educação que amplia horizontes
Mas nem todos os alunos do instituto pretendem abraçar a profissão aprendida ali. Segundo a diretora, pela qualidade do ensino, muita gente procura o curso profissionalizante como plataforma para a universidade.
O José Kelvin, por exemplo, quer ser psicólogo. Há mais de 50 alunos que saíram do IF para fazer medicina e mais de cem fazendo engenharia.
“A qualidade do ensino que é ofertado aqui é que proporciona isso. Ele (o estudante) pode até não ser o apicultor (…) mas ele vira um engenheiro agrônomo, um engenheiro de produção, um médico, um enfermeiro, um advogado”.
Porém, boa parte da turma de apicultura sonha em trabalhar com as abelhas, como João Victor.
“Antes de entrar no curso de apicultura, eu não me via como apicultor, eu não sabia, na verdade, a definição de apicultura. Hoje eu posso afirmar que sou apaixonado pela apicultura.”
Fonte: G1