
Insatisfeitos com as condições de trabalho, entregadores por aplicativo do Rio Grande do Norte irão se juntar aos profissionais de outros Estados nos próximos dias para protestar por melhorias. As ações passam, principalmente, por campanhas de conscientização cujo objetivo é chamar a população para aderir ao movimento Apagão dos Apps, que se articula para pedir o boicote dos clientes aos aplicativos de entrega. A data para a execução do movimento, contudo, ainda não está definida.
Em Natal, segundo estimativas da Associação de Motos e Bikes Entregadores do Rio Grande Norte (Ambern), existem cerca de 4 mil trabalhadores na área. A rotina é puxada, conforme relatos de trabalhadores ouvidos pela TRIBUNA DO NORTE. “Trabalho como entregador por aplicativo há um ano e meio. Meu expediente começa às 8h e nunca tem hora para terminar. Dependendo da demanda, vai até de noite”, conta Fagner Roberto, de 36 anos.
A decisão de trabalhar na área surgiu com o advento da pandemia, que resultou em uma situação curiosa para ele. Fagner é contratado como auxiliar de serviços gerais de uma empresa que presta serviços terceirizados. Com a crise sanitária, ele conta que aguarda, sem salário, a rescisão de seu contrato junto à empresa. “Me falaram para esperar em casa, mas aí, sem salário, fica difícil”, relata.
A chegada do entregador José Clementino Júnior, de 26 anos, aos serviços por aplicativo também está relacionada à falta de renda para conseguir pagar as contas. Depois de ser demitido de um shopping da capital, onde trabalhava como manobrista, ele conta que precisou fazer alguns bicos para pagar as despesas mensais. Hoje, Júnior trabalha quase 15 horas por dia como motoboy. As folgas são escassas, mas, segundo ele, é a forma que encontrou para evitar prejuízos.
“Começo a trabalhar às 8h e sigo até 22h ou 23h. Minhas folgas são a cada 15, 17 dias. Não consigo tirar mais de 24 horas de descanso. Se eu passar dois ou três dias sem trabalhar, o aplicativo joga minha pontuação lá para baixo”, comenta. O entregador também reclama dos custos altos com combustível e manutenção da moto. “Estou gastando quase R$ 140 por semana com gasolina. Isso, porque a gente tem gastos com outros equipamentos para a moto”, diz. Apesar do sufoco, ele afirma que tem conseguido pagar as contas no final do mês. “Graças a Deus, está dando para me virar”.
Francisco Luceni Filho, de 47 anos, já trabalha como entregador há pelo menos seis anos. A exemplo dos colegas, a rotina também é extenuante. “Já cheguei a esticar até a madrugada, por volta de 1h”, diz ele, que costuma iniciar no trabalho às 9h. “Minha folga é às segundas-feiras, mas quando o movimento na semana é ruim, acabo trabalhando de domingo a domingo”.
Na hora de quitar as dívidas, ele confessa que é preciso fazer malabarismos, porque, às vezes, a conta não fecha. “Tem dias que eu faço R$ 100 de entrega, mas em outros faço apenas R$ 20 ou não faço nada. Aí, tem mês que consigo pagar minhas contas e tem mês que não”, conta Luceni.
Com informações da Tribuna do Norte

