Em seu primeiro sermão de sexta-feira, 17, feriado semanal nos países de maioria muçulmana, em quase 8 anos, o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, chamou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de um “palhaço” que finge apoiar o povo iraniano, mas que “enfiará uma adaga venenosa” em suas costas.
A autoridade religiosa máxima da República Islâmica também disse que os manifestantes que tomaram as ruas do país em repúdio ao abate acidental de um avião ucraniano, no último dia 8, não passam de “fantoches dos EUA” que “não levam em conta o interesse nacional”.
O aiatolá apenas lidera as orações de sexta-feira em tempos de crise — a última aconteceu em fevereiro de 2012, em meio à Primavera Árabe e a tensões sobre o programa nuclear iraniano. A reza desta sexta-feira ocorre após as semanas de crise que seguiram o assassinato do poderoso general Qassem Soleimani em um ataque ordenado pelo presidente Donald Trump e a represália iraniana contra bases que abrigam soldados americanos no Iraque.
Khamenei buscou unir o país frente aos protestos que tomaram às ruas após o abate “por erro humano” do Boeing 737-800 da Ukraine International Airlines — dentre as 176 vítimas, 82 eram iranianas. Por três dias, o governo negou sua responsabilidade, afirmando acreditar que a aeronave pudesse ter sofrido problemas mecânicos.
A imagem do regime se complicou ainda mais após o chefe da Força Aérea da Guarda Revolucionária dizer que alertou o alto comando militar sobre o ocorrido, mas o Estado-Maior das Forças Armadas formou sua própria equipe de investigação, excluindo todos os envolvidos no incidente. O general Amir Ali Hajizadeh também disse que solicitou o fechamento do espaço aéreo do Irã, dado o nível máximo de alerta após a operação militar contra os americanos, que ocorreu cinco horas antes do abate. Os responsáveis por isto, no entanto, teriam optado por não fazê-lo.
Referindo-se ao acidente, Khamenei disse que seu “coração doía” pelas vítimas, mas acusou os inimigos do Irã de se capitalizarem do “acidente amargo” para ofuscar o assassinato de Soleimani e a represália iraniana. Referindo-se aos protestos, Khamenei disse que os manifestantes não passam de “fantoches dos EUA” que “não levam em conta o interesse nacional” e “fazem o jogo do inimigo”.
“Essas duas semanas foram extraordinárias e agitadas. O povo iraniano passou por muita coisa. Nós demos um tapa na cara da imagem dos EUA de superpoder”, disse Khamenei. “A bofetada causada pelos mísseis contra as bases americanas mostra que Deus está do nosso lado”, concluiu.
Ao chamar o presidente Donald Trump de um “palhaço” que finge apoiar o povo iraniano, mas que “enfiará uma adaga venenosa” em suas costas, o líder supremo referia-se indiretamente a uma série de tuítes do líder americano, em farsi e inglês, em que o presidente dizia estar ao lado do povo iraniano desde o início de seu governo. Khamenei também mirou a França, o Reino Unido e a Alemanha, que anunciaram a ativação de um mecanismo de disputa do acordo nuclear de 2015 para tentar obrigar o Irã a voltar a cumpri-lo. Segundo Khamenei, os três países têm governos desprezíveis que atuam como servos dos EUA.
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