É de causar repúdio ver diariamente o outrora famoso “Destino Natal” se transformar num museu de grande inutilidade, e se constatar que o futuro do nosso turismo não conseguirá sequer repetir o passado. Houve uma época em que Natal era considerada a “princesa do Nordeste” e se destacava sob os holofotes do mercado nas feiras segmentadas do setor, como a icônica Exposição da ABAV. Atualmente, sob o silêncio da omissão dos poderes constituídos, a nossa indústria sem chaminés encontra-se em estado vegetativo e entubada, na esteira de uma sequência de decretos que levou empresas, empresários e trabalhadores para o fundo do poço da economia. Em outros estados turísticos, como a vizinha Paraíba, a praga da COVID-19 não tem sido tão letal para o setor produtivo como no Rio Grande Norte, onde o direito ao trabalho virou sinônimo de crime.
São assustadoras as notícias diárias veiculadas nos meios de comunicação sobre a falência do turismo potiguar e das demais atividades que giram ao redor de sua cadeia produtiva. Nos últimos dias, aliás, a mídia foi bombardeada por informações que retratam o quadro de caos: “Demissões no setor de turismo respondem por quase 40% do desemprego em Natal, indica pesquisa”, “Empresas do setor de eventos no RN têm prejuízo estimado de R$ 191 milhões”, “Artesanato potiguar agoniza e pede socorro”, “Hotelaria do Rio Grande do Norte já demitiu mais de 5 mil trabalhadores na pandemia, diz Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do RN”, “Secretária de Turismo do RN não faz e nem defende o setor, diz líder empresarial”, “Estados dão aula de como salvar o turismo e a gestão do RN é incompetente”.
Essas são apenas algumas das manchetes que vão além de mostrar a falência do setor, mas que também sintetizam a queda da autoestima de empresários e dos cidadãos potiguares.
A situação do turismo é trágica. Porém, é muito mais do que trágica a omissão dos poderes.
Do Judiciário, que tem um caixa bem azeitado, não se ver sair uma única proposta de ajuda financeira para as empresas e trabalhadores do setor de turismo que estão em dificuldades. Trata-se do mesmo Tribunal de Justiça que no passado recente, de forma cidadã, se mobilizou para repassar R$ 100 milhões para o governo do Estado investir em saúde e segurança.
No Legislativo estadual, além de poucas vozes que discursam e apresentam preposições a favor da ressuscitação do setor, também não se vê uma articulação mais efetiva em prol das empresas, empresários e trabalhadores do turismo que estão morrendo à míngua. Não seria também papel dos parlamentares se reunir com a governadora Fátima Bezerra (PT) e a ela cobrar de forma contundente medidas que permitam a cadeia produtiva do turismo voltar a operar? Estamos falando da mesma Assembleia Legislativa que em 2018 teve o altruísmo de investir milhares de reais para doar ao governo e municípios ambulâncias e viaturas para as forças policiais. Por qual motivo, quando se trata do turismo, não se vê a mesma abnegação?
No Executivo estadual, já carimbado por trabalhadores e empresários, como “inimigo” do setor, não se vê nenhuma atitude de boa vontade, com relação a flexibilização dos decretos que impulsionam o setor de turismo para o abismo da falência.
Pelo contrário.
Mesmo diante das manchetes arrasadoras sobre a situação do turismo potiguar, o governo parece desprovido de qualquer impulso de sensibilidade.
Embora diante do caos, o secretário Cipriano Maia (Saúde) já sinaliza que o chumbo continuará sendo grosso, com o endurecimento das medidas restritivas para o setor de turismo. Segundo Maia, em declaração dias atrás, “o conjunto dos dados atuais não indica que seja para manter abertos ambientes que tenham alto risco de transmissão”.
Certamente, na cabeça dele, bares e restaurantes e similares representam um perigo para a população.
Infelizmente, a falência das atividades produtivas e do setor de turismo não está sendo encarada com a seriedade que a gravidade da situação exige.
A banalização da crise tem tudo a ver com a poesia de Caetano Veloso: “Enquanto os homens exercem seus podres poderes, morrer e matar de fome, de raiva e de sede, são tantas vezes gestos naturais”.
Assim sendo, um brinde ao caos!
1 Comentário
Excelente editorial. Um retrocesso para nosso Estado.