
DOUTOR BUMBUM, LOGO APÓS SER SOLTO. (FOTO: FÁBIO GUIMARÃES / AGÊNCIA O GLOBO)
Denis Cezar Barros Furtado, conhecido como Doutor Bumbum, conheceu o ex-governador Sérgio Cabral no período em que esteve preso no Complexo de Gericinó, na Zona Oeste do Rio, e dava aconselhamentos médicos a colegas de cela que pediam sua ajuda. Denis ficou preso na Cadeia pública Pedrolino Werling de Oliveira, mesmo presídio em que Cabral e outros presos da Operação Lava Jato cumprem pena. Em sua primeira entrevista após ser solto, na última quarta-feira, Denis afirmou ao EXTRA que recebeu parabéns de Cabral por ter conseguido a liberdade.
— Recebi parabéns de todos os meus colegas, inclusive o Cabral, por ter conseguido minha soltura por unanimidade (na 7ª Câmara Criminal). Fui muito bem tratado, com muito respeito, por todos eles — afirmou Dênis.
Segundo o médico, que responde na Justiça pelo homicídio da bancária Lilian Quezia Calixto de Lima, ele aconselhava colegas de cela que reclamavam de algum desconforto ou dor.
— Se estudei e tenho conhecimento para pegar ritmo cardíaco, pressão, saber se alguém está sentindo dor, tenho que ajudar. Não eram atendimentos, mas avaliações. Lá, não tem médicos dentro da unidade. O atendimento é precário. Por isso, aconselhava a procurarem a UPA (Unidade de Pronto-Atendimento, para onde são levados os presos doentes). Ninguém queria ir para a UPA, mas dizia que podia ser importante. Se um preso tinha enjoo, queda de pressão abrupta, já era um sinal de que essa pessoa precisava de um hospital. Essa avaliação inicial pode ser a diferença entre a vida e a morte, e pude ajudar meus amigos dessa maneira — diz Dênis, que ficou numa cela que comportava até seis presos.
O médico também se defendeu da acusação de que foi o responsável pela morte da bancária. De acordo com o médico, o procedimento feito em Lilian não precisava ter sido feito num hospital.
— Precisamos desmistificar a bioplastia. Dizem que o procedimento foi feito em local impróprio. Não é verdade. A bioplastia é uma injeção. É para ser feito em consultório. E um consultório pode ser montado em qualquer lugar. Não é um procedimento que se faz em ambiente hospitalar. Ela não morreu por causa do procedimento. O laudo feito pelo perito comprova que ela teve um infarto — afirma o médico.
Doutor Bumbum ficou cerca de seis meses preso em Gericinó, de onde saiu na tarde da última quarta-feira. A decisão de colocá-lo em liberdade foi tomada no dia anterior pelos desembargadores da 7ª Câmara Criminal.
A prisão de Denis foi trocada por quatro medidas cautelares: comparecimento periódico em juízo para informar e justificar atividades; proibição de se ausentar do Rio durante a investigação e recolhimento em casa à noite e nos dias de folga, enquanto estiver sendo investigado; proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos.
Relembre o caso
Lilian saiu de Cuiabá, capital do Mato Grosso, para fazer o procedimento estético com Denis em uma cobertura na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, em julho do ano passado. No dia seguinte à aplicação, passou mal e foi levada para o hospital pelo próprio médico, onde morreu horas depois, após quatro paradas cardiorrespiratórias. O laudo de necrópsia produzido pelo IML atestou que a causa da morte havia sido uma embolia pulmonar. Doutor Bumbum responde pelo crime de homicídio qualificado.
No último dia 15, um laudo elaborado a pedido da defesa de Denis foi apresentado à Justiça. De acordo com o documento, assinado pelo perito Leví Inimá de Miranda, Lilian foi vítima de um “enfarte miocárdico agudo”, sem relação com a aplicação de PMMA. Laudo do IML aponta que a morte foi provocada por embolia pulmonar.
No laudo produzido a pedido da defesa, que foi anexado ao processo, Inimá alega que o diagnóstico de embolia pulmonar é “errado e precipitado”. Com base num exame de sangue e num eletrocardiograma realizados na paciente, o perito afirma que “restou caracterizado um infarto miocárdico agudo. E esse infarto jamais foi visto, detectado e diagnosticado. Com os diagnósticos eletrocardiográfico e enzimático, a senhora Lilian tinha de ter sido encaminhada, de imediato, ao Laboratório de Hemodinâmica, para submetê-la a uma angioplastia coronariana. Porém, ela ficou o tempo todo em uma sala da emergência”.

