Indicado para comandar o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Marcus Vinicius Rodrigues, de 63 anos, diz que recebeu com muita honra o convite de chefiar o órgão responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). No entanto, deixa claro que mudanças na prova, que é hoje o maior vestibular do País, serão decididas pelo presidente Jair Bolsonaro.
“Ele é quem tem que dar as diretrizes, estamos aqui cumprindo uma missão do presidente. O dono do Enem termina sendo o nosso presidente, que é o único que teve 60 milhões de votos e é quem pode responder, mudar e realinhar (a prova). Ele tem esse aval”, diz Rodrigues.
Para que Bolsonaro tenha acesso prévio à prova do Enem, será preciso mudar as regras e procedimento de segurança do exame. Até o ano passado, nem mesmo os ministros de educação tiveram acesso à prova. A interferência do presidente na elaboração também configuraria uma mudança no modelo atual, já que o Inep é uma autarquia com independência para a elaboração de suas avaliações.
Para ele, a prova pode ter uma melhora de qualidade, com questões que avaliem de forma mais eficaz o que é “importante para o futuro profissional” do aluno que termina o ensino médio.
Por que a nomeação do senhor ainda não foi publicada? Isso atrasou o andamento dos trabalhos?
Por causa de uma burocracia. E me sinto até um pouco culpado pela minha nomeação ainda não ter saído. Eu sou dono de uma empresa e tive de me desligar dela para ocupar o cargo. Minha contadora fez a baixa de forma inadequada e, por isso, a demora.
A tradição no Inep é que seja primeiro nomeado o presidente e depois os diretores. Já estamos com a diretoria quase formada, temos uma equipe com excelentes nomes, ótimos currículos. Temos apenas uma diretoria a ser ocupada (Diretoria de Educação Básica, a única que teve nomeação, mas que foi anulada nesta sexta-feira), mas devemos fechar esse nome já na segunda-feira e, com aval do ministro, será divulgado.
Por que foi anulada a nomeação de Murilo Resende para a Daeb?
O professor Murilo é um dos grandes quadros do País, é um pensador. Ele faz parte de um grupo que busca pensar um Brasil novo. Eu sou um gestor e, como gestor, tenho de otimizar as competências, tenho de pensar em formar grupos que pensam um Brasil diferente e melhor.
O professor Murilo tem uma bagagem conceitual muito grande e faz parte desse grupo de pessoas que pensam. É fácil jogar pedra em quem pensa diferente de uma visão que vem sendo implementada no País há 12 anos, uma visão que pode ser mais simples ou fácil de entender, mas que está nos levando ao caos.
Então, a nomeação do Resende foi, infelizmente, um erro. Erro ao qual já se tomaram todas as providências cabíveis. O governo está chegando e precisa de um tempo para se adaptar. Estamos conhecendo a casa e houve um erro. Um erro natural, porque a indicação dele seria para uma assessoria especial.
As diretorias são grupos operacionais. Seria até um desperdício colocar um pensador ou pessoas que têm uma visão macro, como o Resende, dentro de uma diretoria em que ele seria tomado pelo serviço operacional.
A anulação não ocorreu por causa da repercussão ruim da indicação de Resende?
Nós temos uma responsabilidade muito grande nesse momento que é buscar uma nova forma de pensar. Temos a obrigação de gerenciar a entrada desse novo pensamento. Nós estamos mudando o Brasil. Eu ainda não tenho soluções, mas tenho perguntas.
Não foi por causa da repercussão (a anulação), mas porque desde o início está acordado que teríamos pensadores que nos levem a resgatar o que foi apresentado pelo nosso presidente Bolsonaro durante a campanha, que é resgatar alguns valores da sociedade. Desde o início está acordado que vamos ter assessorias especiais para pensar e repensar o que é feito. Eu não sou capaz de mudar o sistema inteiro sozinho. A posição que tem de imperar é a posição que nos foi confiada pelo povo com 60 milhões de votos.
A postura do presidente Bolsonaro em relação ao Enem é, sem dúvida nenhuma, de respeito a todos os brasileiros, não só a quem votou nele. Então, é ele quem tem de dar as diretrizes do exame. Nós estamos aqui cumprindo uma missão do presidente. O dono do Enem acaba sendo o nosso presidente, que é o único que teve votos e pode responder, mudar ou realinhar o exame. Ele tem esse aval.
O que o senhor pretende mudar no Enem?
Tudo pode ser mudado e melhorado. Estamos aqui há pouco tempo, mas há muitas possibilidades de se fazer melhorias dentro do Inep, de repensar os exames buscando melhor qualidade e menor custo. Como? Eu não sei ainda.
Estamos aqui cumprindo uma missão que 60 milhões de brasileiros confiaram a Bolsonaro. Podemos melhorar as questões do Enem para que apresentem uma medição mais eficaz do que é realmente importante para o futuro profissional do aluno.
O Inep é responsável pela elaboração de muitas provas (Enem, Enade, Prova Brasil, entre outras). O senhor avalia suspender alguma delas?
Todas elas têm sentido e motivo para acontecer, o que nós podemos fazer é uma análise de alguns desses produtos e ver o que podemos otimizar. Cada uma dessas provas tem um custo altíssimo. Eu não quero nunca comprometer a qualidade e a confiança dessas provas, mas vamos ter de repensá-las. Dentro de seis meses, eu vou poder responder essa pergunta. A intenção é analisar toda a estrutura.
Estadão