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Divulgação de vídeos violentos pode ter efeito reverso e fortalecer agressores, diz psicóloga de Natal

FOTO: REPRODUÇÃO

A exposição irrestrita de vídeos que mostram agressões contra mulheres, como o que circulou nesta semana em Natal, pode causar um efeito reverso: em vez de gerar conscientização, reforça o sentimento de poder dos agressores. O alerta é da psicóloga Ingrid Oliveira, que criticou a forma como o material foi amplamente divulgado nas redes sociais sem censura dos momentos de violência.

“Infelizmente, esse tipo de vídeo não pode ser divulgado da forma como foi. Praticamente não tivemos a opção de não ver. Ele aparece nos stories, sem nenhum tipo de censura”, lamentou Ingrid, que relatou ter visto, sem querer, imagens do rosto da vítima após a agressão. “Não foi algo que eu procurei, foi algo que me apareceu”.

O caso que motivou o alerta envolveu Juliana Garcia dos Santos Soares, de 35 anos, brutalmente espancada pelo ex-namorado Igor Cabral, 29, dentro de um elevador, em um condomínio de Natal. As imagens da violência viralizaram, mas, segundo Ingrid, a forma como foram compartilhadas pode ter mais prejuízos do que benefícios. “Esse tipo de conteúdo tem um efeito reverso. Ele traz a possibilidade para outros agressores e faz crescer um sentimento de poder neles”, pontuou.

Além do risco de estimular comportamentos violentos, a psicóloga chama atenção para os danos psicológicos causados às próprias vítimas e outras mulheres. “Recebi muitas mensagens de mulheres dizendo que passaram mal vendo esse tipo de conteúdo. É um gatilho para nós, mulheres, que estamos tão suscetíveis a esse tipo de violência”, destacou.

Para Ingrid, existem outras formas mais eficazes e respeitosas de contribuir com a causa. “Uma delas é conhecer a rede de proteção à mulher, como o Centro de Referência da Mulher aqui em Natal, a delegacia especializada e outras instituições de apoio”, explicou. Ela também ressaltou a importância de não julgar a vítima. “Certamente nesses vídeos surgem comentários como: ‘como essa mulher se submeteu a isso?’ Mas a verdade é que fomos socializadas para naturalizar certos comportamentos abusivos”.

Ela citou a autora Valeska Zanello para reforçar o argumento: “Fomos criadas para entrar em relações tóxicas. Na nossa cultura, o ciúme é confundido com proteção e amor. Não temos como adivinhar que alguém será abusivo”. Ingrid reforçou o papel das redes de apoio e escuta ativa às vítimas. “Não é fácil sair de uma relação abusiva. Não é só querer. Às vezes a mulher nos conta algo brando, e já é um sinal. Precisamos ser rede de apoio e não reforçar o ciclo de julgamento”.

Agora RN

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