“A grande sacada do momento é que o Brasil, que é enxergado pelo mundo como exportador de commodities de baixo valor agregado, vai incrementar a balança comercial com a commodity mais estratégica para a humanidade no momento: a energia”, diz o diretor do SENAI do Rio Grande do Norte e do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), Rodrigo Mello, apontando para a plateia repleta de representantes de empresas e outras instituições relacionadas ao setor que os futuros complexos eólicos offshore, esperados para ‘o mar do país’, serão uma poderosa fonte de suprimento dessa demanda. “Haverá um boom, uma necessidade enorme de pessoas qualificadas e um grande volume de investimentos na região costeira”, projetou Mello.
As declarações foram parte da exposição que fez no painel de abertura do 15º Fórum Nacional Eólico, em que representou o presidente do Sistema FIERN, Amaro Sales de Araújo. O Sistema, liderado pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte, também engloba SENAI, SESI e IEL no estado.
Na ocasião, temas como o crescimento da atividade, novas fronteiras que despontam no horizonte e desafios do ponto de vista regulatório foram discutidos, com mediação do presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), Darlan Santos.
O diretor do SENAI dividiu a mesa com a Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (ABEEólica), com o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema) do Rio Grande do Norte e com a produtora de energia e prestadora internacional de serviços na área, Voltalia.
Durante a apresentação, ele frisou o que chamou de crescimento vertiginoso da indústria eólica e o efeito que a atividade tem gerado na economia de pequenos municípios do interior do estado. “O Brasil tem hoje 25 Gigawatts (GW) instalados de eólica, dos quais cerca de 30% estão no RN, estado líder em produção nacional, ofertando à sociedade energia limpa desmistificada, ou seja, sem os problemas que os pessimistas diziam que iriam acontecer, de oscilação, de qualidade de energia”, observou Mello. “Qual foi o setor que em apenas 15 anos evoluiu 10 vezes? Qual foi o setor que nesse período teve redução de custo de cerca de 70% no valor do seu produto?”, lançou ao público.
Resultados de uma análise realizada pelo MAIS RN – Núcleo de Gestão Estratégica da FIERN – a pedido do SENAI, foram citados por ele como exemplos dos impactos dessa indústria. De acordo com os dados, municípios com parques eólicos no Rio Grande do Norte deram um salto nos últimos anos em geração de riquezas, empregos e criação de negócios. Para o Nordeste, complementou o diretor, “este é, certamente, o setor que mais atrai investimentos”.
E as projeções são de “muita expansão”. “Considerando só o onshore, ainda tem muitos parques a serem construídos. Isto irá acontecer, numa revolução no interior do estado, na área de menos opções econômicas pujantes, o Semiárido – a grande área de produção no Brasil.
Offshore
Outra frente de expansão é enxergada por meio da indústria de energia eólica offshore, no mar, que já existe na Europa, na Ásia e nos Estados Unidos, mas, no Brasil, está em fase de desenvolvimento.
“Em 2012 começamos a discutir com a Petrobras a perspectiva da eólica offshore e muitos diziam, naquela época, que éramos loucos, porque o offshore certamente seria algo discutido e seria importante para o Brasil, mas em 2050, para os nossos filhos e netos. E nós insistimos nisso. Fizemos o primeiro levantamento com dados medidos do Brasil, levantando o recurso eólico offshore na área que engloba o RN e o Ceará, medindo recurso capaz de gerar 140 GW, o que representa 10 Itaipus”, disse Mello, se referindo a usina que se apresenta como a maior hidrelétrica do mundo.
“Nós estamos, claramente, entrando numa nova fronteira, que será uma fronteira para exportação de energia e essa exportação se dará através do hidrogênio e de seus combustíveis avançados derivados”, frisou Rodrigo Mello, afirmando que o Rio Grande do Norte sai na frente mais uma vez nesse contexto. “Segundo os dados que levantamos, o estado tem a melhor qualidade do evento também no offshore, um dos fatores decisórios para investimentos”.
Entre as contribuições que o Sistema FIERN tem dado a essa indústria, ele citou “o Atlas eólico e solar de melhor precisão da América Latina”, desenvolvido pelo ISI-ER, por meio de cooperação com o governo do Rio Grande do Norte; a implantação, no estado, da maior torre do Brasil para medição de dados meteorológicos, de forma a ampliar as informações disponíveis e a confiabilidade para esse setor, além da Bravo, “Boia Remota de Avaliação de Ventos Offshore”, tecnologia inédita no país, em fase de desenvolvimento para a nova fronteira do setor de energia. O projeto, da Petrobras, é realizado com o Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis, sediado no Rio Grande do Norte, e o Instituto SENAI em Sistemas Embarcados (ISI-SE), de Santa Catarina.
A área de educação profissional também foi exaltada pelo diretor. “Junto com vários parceiros também temos incrementado a formação de pessoas através do CTGAS-ER, do SENAI, como centro de referência para o Brasil todo, não só para o RN, nesta área, e, na área de Pesquisa, desenvolvimento e Inovação (P,D&I) através do ISI”.
O Fórum Nacional Eólico começou nesta quarta-feira (31) e será encerrado nesta quinta (1º). O evento é promovido pelo Cerne, em parceria com a Viex, empresa brasileira especializada na realização de conferências, cursos e eventos.