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Deputado do Conselho de Ética pagou R$ 92 mil a empresa ligada a filha de Cunha

DEPUTADO ANDRÉ FUFUCA (PP-MA), ALIADO DE EDUARDO CUNHA NA CÂMARA. (FOTO:AGÊNCIA CÂMARA)

DEPUTADO ANDRÉ FUFUCA (PP-MA), ALIADO DE EDUARDO CUNHA NA CÂMARA. (FOTO:AGÊNCIA CÂMARA)

O deputado federal André Fufuca (PP-MA), recém-chegado ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, pagou R$ 92 mil a uma empresa ligada à publicitária Danielle Dytz da Cunha Doctorovich, filha do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), entre abril de 2015 e março de 2016. Fufuca é membro titular do Conselho de Ética e deverá votar na próxima terça-feira (7) o parecer sobre o processo que apura se Cunha quebrou decoro parlamentar ao dizer que não tinha contas no exterior.

De acordo com o cadastro de empresas da Receita Federal, a Popsicle Digital foi fundada em março de 2008. Entre seus acionistas estão Michell Yamasaki Verdajo (sócio-administrador), Paula Tanaka Ito (sócia) e Cristina Akemi Yamasaki (sócia). Danielle Cunha presta serviços para a empresa e atua na prospecção de clientes.

Danielle Cunha atua como publicitária e conselheira de empresas no ramo digital, entre elas, a Popsicle Digital. A informação foi confirmada, por e-mail, pela assessoria de imprensa de André Fufuca. “Em alguns momentos no passado, ela (Danielle Cunha) prestou serviços esporádicos à empresa devido a sua qualificação e formação profissional, e atualmente presta serviços esporádicos para a Popsicle focada em outras ramificações fora da política”, diz parte do e-mail encaminhado pela assessoria de Fufuca à reportagem do UOL.

Os pagamentos feitos pelo gabinete de André Luiz Carvalho Ribeiro, nome completo de Fufuca, à Popsicle começaram em abril de 2015, dois meses depois de Eduardo Cunha vencer a eleição para a Presidência da Câmara. Os pagamentos, em parcelas mensais de R$ 9,2 mil, seguiram até março de 2016, com interrupções nos meses de julho e dezembro de 2015. Os dados referentes aos pagamentos estão disponíveis no site da Câmara dos Deputados.

Segundo o conteúdo das notas fiscais emitidas pela empresa, a Popsicle foi contratada pelo gabinete de Fufuca para fornecer serviços de “assessoria de imprensa com foco no gerenciamento de conteúdo e imagem das mídias sociais, elaboração e revisão de textos concernentes à divulgação do trabalho parlamentar em sites, rádios, televisões e jornais”.

A relação entre a Popsicle, Daniella Cunha e André Fufuca chama atenção porque o deputado do PP será um dos que deverão votar o parecer contra o deputado Eduardo Cunha no Conselho de Ética da Câmara.

Cunha é alvo de um processo por quebra de decoro parlamentar por ter dito em seu depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Petrobras, em março de 2015, não possuir contas no exterior. Documentos enviados por autoridades suíças à PGR (Procuradoria Geral da República) indicam, porém, que Cunha mantinha ao menos quatro contas no país europeu. Segundo a PGR, algumas dessas contas foram utilizadas para receber dinheiro de propina do esquema investigado pela Operação Lava Jato.

Em outubro de 2010, Danielle Cunha passou a ser formalmente investigada por seu suposto envolvimento no esquema.

Segundo a PGR (Procuradoria-Geral da República), Danielle aparece como beneficiária de um cartão de crédito de uma das contas atribuídas a Cunha no exterior e que, ainda de acordo com a PGR, é suspeita de ter sido abastecida por dinheiro de propina do esquema de desvios na Petrobras.

Cunha, sua mulher, a jornalista Cláudia Cruz (que também é investigada), e Danielle negam irregularidades. No caso específico de Danielle Cunha, seus advogados argumentam que “o fato de a agravante (Danielle) figurar como dependente em determinado contrato de cartão de crédito […] não corresponde a nenhuma das figuras típicas objeto da investigação”.

A investigação contra Danielle e Cláudia Cruz foi encaminhada ao juiz Sérgio Moro.

CONTRATO MOSTRA PAGAMENTO DO DEPUTADO ANDRÉ LUIZ CARVALHO RIBEIRO (ANDRÉ FUFUCA) À EMPRESA POPSICLE

CONTRATO MOSTRA PAGAMENTO DO DEPUTADO ANDRÉ LUIZ CARVALHO RIBEIRO (ANDRÉ FUFUCA) À EMPRESA POPSICLE

Cassação

A aprovação do relatório de Marcos Rogério pelos integrantes do Conselho de Ética é vista como crucial para que Cunha possa ter o mandato cassado. Se o relatório for aprovado, ele ainda precisará ser referendado plenário da Casa. Do contrário, o caso é arquivado.

Fufuca assumiu em maio a vaga de titular no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados após a renúncia de Cacá Leão (PP-BA). Ele chegou à titularidade do Conselho poucos dias antes de Marcos Rogério entregar seu parecer pedindo a cassação de Cunha.

O deputado maranhense é conhecido por ter feito declarações apoiando Eduardo Cunha ao longo dos últimos meses. Em uma das sessões, ele comparou as acusações contra Cunha à situação de Tiradentes.

Em outro episódio, no dia 19 de maio, quando Cunha foi ao Conselho de Ética para apresentar sua defesa, Fufuca discutiu com deputados contrários ao presidente afastado. O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) acusou o colega de chamar Cunha de “papi”. O parlamentar rebateu e chamou Delgado de “moleque”.

Outro lado

O deputado André Fufuca confirmou as relações comerciais com seu gabinete e a Popsicle e disse que a empresa lhe foi apresentada por Michell Verdejo, e que o contrato com a agência pode ser renovado a cada três meses.

Fufuca disse ainda que a ligação com a Popsicle não compromete o seu voto. “O deputado se sente completamente livre para embasar seu voto, de acordo com os dados e provas apresentadas pelo relator […] As relações com o dono da empresa, Michell Verdejo, não representam qualquer obstáculo ao deputado”, afirmou o parlamentar.

Na última terça-feira (31), a reportagem do UOL conversou, por telefone, com a advogada de Danielle Cunha, Fernanda Tortima. A reportagem enviou perguntas sobre a participação de Danielle Cunha na empresa Popsicle Digital à advogada. Às 18h02 da última terça-feira, ela informou à reportagem que não havia conseguido contatar sua cliente para comentar o caso.

Questionado sobre as atividades empresariais de Danielle Cunha junto a Fufuca, Eduardo Cunha disse, por meio de sua assessoria de imprensa, desconhecer “o assunto” e não participar “de nada dessa natureza”.

UOL

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