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Depois de trabalhar em três censos, mãe divide com filha missão de retratar o RN em 2022

GRÁVIDA DE ANNABELA, JUPIARA FOI RECENSEADORA PELA PRIMEIRA VEZ NO ANO 2000. FOTO: GUSTAVO GUEDES

Um dos objetivos do Censo Demográfico é ir à casa de toda a população do Brasil. Mas no lar de Jupiara Tavares de Souza, 59 anos, o Censo chegou há 22 anos e não saiu mais. Com três operações censitárias (Censo 2000, Contagem da População 2007 e Censo 2010) na bagagem, a engenheira florestal está na sua quarta jornada como recenseadora neste ano. Dessa vez, a filha Annabela Souza, de 21 anos, virou colega de trabalho em Parnamirim.

Annabela circulou pela primeira vez por ruas e casas de pessoas diferentes em Itaguaí no estado do Rio de Janeiro. Porém, nessa oportunidade, ela não falou com ninguém. Detalhe: Annabela estava com sua irmã gêmea na barriga da mãe recenseadora no Censo 2000. “Comecei no Censo feito no papel. No final de agosto, descobri que estava grávida e ainda era o primeiro setor”, contou Jupiara.

Depois de 22 anos, a história quase se repetiu. Annabela fez a prova de seleção para o Censo 2022 ainda grávida. “Se fosse pra ter um trabalho, eu teria que ter um que intercalasse casa e trabalho pra poder ficar com ela [a filha]”, pontuou Annabela.  Hoje, ela divide o seu tempo entre o preenchimento de questionários da pesquisa com os cuidados de mãe com sua bebê Jade.

Jupiara usou a flexibilidade de horário como o principal argumento para convencer a filha a concorrer uma vaga de recenseadora. O IBGE orienta o recenseador a trabalhar, pelo menos, 25 horas numa semana. Os ganhos são por produção.

Família e trabalho

Apesar de serem mãe e filha, Jupiara e Annabela deixam claro os estilos de trabalho diferentes. “A gente não dá certo trabalhando juntas, cada uma tem uma postura”, explicou a mãe. “A gente tem pensamentos completamente diferentes”, a filha concordou.

Jupiara até foi com a filha para o setor de trabalho para passar um pouco da experiência de campo, mas só uma vez. “Até o jeito da pessoa dar bom dia faz a diferença. Tudo vai da estratégia”, destacou Jupiara. Annabela tem sua própria estratégia, entretanto admite, “puxei a ela. Sou teu espelho, gata”, exclamou.

Na verdade, elas se completam. “Quando começou o Censo, o que eu não sabia de DMC [aparelho de coleta das entrevistas], ela me ajudava. E o que ela não sabia de dica, tipo: Bela, fica na oportunidade que pode não ter ninguém em casa e aparecer. Isso ela ouvia”, comentou a mãe.

Censoterapia

Com formação superior em Biologia e Engenharia Florestal, Jupiara considera o fator humano o grande desafio da maior operação civil do Estado brasileiro. Os recenseadores encontram pessoas com experiências, idades, culturas, origens, histórias, valores e problemas diversos.

Ela passou por casas nas quais moradores se recusam a responder de cara, uma realidade em 1,5% dos domicílios visitados no Rio Grande do Norte até o final setembro. “Em um determinado momento, eu passo por você e você vai dar uma segunda olhada pra mim, se quiser, e vai me chamar pra conversar. Ou eu mesmo chego e dou um bom dia, porque não tá no coração. Aí, faço uma amizade”, ensinou.

Outros até respondem, mas aproveitam também para desabafar – agressivamente ou não. Essa é outra face marcante do Censo 2022, o primeiro depois de um longo período de isolamento social. “O recenseador tem que entender também que, como seres humanos, tem dia que você tá virado e tem dia que você tá alegrinho”, pontuou.

A voz, o olhar e os gestos de Jupiara não deixam dúvida do orgulho de ser uma das pintoras do retrato da população brasileira há mais de 20 anos. “Uma coisa é ficar assistindo no Youtube que a humanidade tá mudando, outra coisa é você presenciar. Não é ficar olhando na televisão o que está acontecendo, é você fazer parte do que está acontecendo”, comentou.

Recenseadora fora de casa não faz milagre

Também é comum o morador ficar calado quando o recenseador chama na porta. Mas isso ocorre nas melhores famílias, inclusive na de Jupiara. A irmã gêmea de Annabela ninava a sobrinha nos braços quando uma recenseadora chamou na porta de casa. Bela e Jupiara estavam trabalhando. “Quando cheguei em casa que Carolina falou isso, eu disse: é exatamente isso que passo!”.

No dia seguinte, a recenseadora-mãe ouviu sua colega na rua de casa e não perdeu tempo. Chamou a moça e contribuiu com as suas próprias respostas, como cidadã, ao Censo 2022.

Identificação

Os casos de assaltos, ameaças e agressões verbais contra recenseadores ganham repercussão na sociedade. No entanto, pessoas como o morador de Parnamirim Jordy Alisson dos Santos, de 27 anos, ainda são maioria.

“É super importante, porque vocês vão tá vendo quem está mais embaixo, precisando de ajuda. Se não forem feitas essas entrevistas, ninguém vai ficar sabendo, não vai ter como se tomar uma atitude sobre isso”, analisou a importância da pesquisa.

Ele respondeu o Censo na porta de casa em alguns minutos. Para Jordy, a insegurança pode levar pessoas a maltratar os profissionais do censo, embora reconheça não seja motivo justificável.

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