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Comitiva do Rio Grande do Norte conhece estratégias e cases de sucesso do turismo alemão

Conhecer as estratégias de gestão e desenvolvimento de destinos turísticos, em todas as suas facetas. Este foi o foco da comitiva de representantes do Rio Grande do Norte, liderada pelo presidente do Sistema Fecomércio RN, Marcelo Queiroz, que esteve por uma semana (de 17 a 24 de junho) visitando a região do Rio Mosel, a convite do governo do estado da Renânia-Palatinado e da Câmara de Comércio e Indústria da Cidade de Trier (IHK). A agenda incluiu workshops, palestras e visitas em cinco cidades.

O sucesso da região como destino turístico, com produtos diversificados, é atribuído principalmente à união dos setores público e privado na gestão e formação de profissionais que atendem ao setor, análise e aproveitamento de dados estatísticos e ações com foco na sustentabilidade ambiental, financeira e geográfica.

Os potiguares conheceram a fundo o trabalho realizado pela Agência de Promoção Turística da região do Rio Mosel (que inclui o trecho entre Trier e Koblenz). Ao todo são 132 municípios nos quais a atividade turística é plenamente integrada. Juntos, eles recebem por ano cerca de 2,5 milhões de turistas, que movimentam o equivalente a R$ 4,9 bilhões (1,3 bilhão de euros).

Na opinião do presidente da Fecomércio RN, Marcelo Queiroz, a simples comparação dos números com a realidade potiguar já ratifica o longo caminho que o estado brasileiro tem a percorrer. “O Rio Grande do Norte recebe número semelhante de turistas e fatura, com eles, cerca de R$ 1,7 bilhão, pouco mais de um terço do que a região alemã consegue”, compara, analisando também a geração de postos de trabalho. “Lá o turismo gera quase 23 mil empregos diretos, em uma região com cerca de 304 mil habitantes. Ou seja, se calcularmos a proporção com a população do RN (3,409 milhões) seria como se o nosso turismo gerasse mais de 232 mil empregos, quando gera apenas cerca de 100 mil”, explica Queiroz.

Formação

A comitiva potiguar encontrou também muitas diferenças entre a gestão do turismo na Renânia-Palatinado e a que é praticada pelos estados brasileiros. A principal delas diz respeito à formação profissional. A Alemanha é o país onde melhor funciona o Sistema Dual de Formação e Aperfeiçoamento, uma espécie de evolução do formato de aprendizagem/estágio vigente no Brasil.

O Dual tem como base a forte integração entre a sala de aula e a prática nas empresas, sobretudo nas áreas de comércio, serviços, turismo e indústria; além de total ausência do poder público no relacionamento entre empresas e alunos.

Por ele, são formados por ano 4.200 pessoas apenas na cidade de Trier e 780 mil na Alemanha inteira. Todas as formações são de, no mínimo, dois anos, podendo chegar a três. Um terço desse tempo é passado dentro das empresas, com os aprendizes atuando por até oito horas diárias.

“É muito importante ressaltarmos que o aprendiz do Sistema Dual não é tratado pelas empresas como mais um dos seus colaboradores. Há uma preocupação em, de fato, qualificá-lo para aquela profissão e, em muitas empresas, áreas inteiras específicas para a atuação dos aprendizes do Sistema Dual”, afirmou o consultor da IHK Trier, Christian Reuter.

A cada ano, dois mil novos alunos se inscrevem em algum dos cursos apenas nas cidades da região dos rios Mosel e Reno. São cerca de 180 profissões incluídas no modelo Dual, que tem entre suas caraterísticas um formato rígido de avaliação, incluindo até três avaliadores para cada exame final.  A absorção desses profissionais pelas empresas chega a quase 100%.

Alternativa para o Brasil

Para aplicar o Sistema Dual como ele é, o Brasil teria que adequar tanto a legislação trabalhista como o seu Ensino Médio. A normas brasileiras não permitem contratos de aprendizagem iguais aos que a Alemanha utiliza, por exemplo.

O Código Brasileiro de Ocupações, o CBO, também é extremamente rígido e pouco abrangente. É alto o nível de qualificação dos egressos do Sistema Dual. A maioria dos cursos, forma que chama de profissionais “multitarefa”. Um profissional que tenha um espectro mais amplo de atuação e qualificação estará sob ameaça do chamado “desvio de função”.  Apesar disso, a comitiva norte-rio-grandense vê possibilidade de trazer um sistema semelhante que se adeque à realidade local.

“Vamos continuar debatendo formas de trazer para o Rio Grande do Norte pelo menos uma versão adaptada do sistema, evoluindo alguns formatos que já temos no Senac”, diz Marcelo Queiroz, informando que para isso contará com a presença do especialista da Câmara de Comércio de Trier, Christian Reuter, em Natal no mês de dezembro.

Estratégias e estatísticas

A questão do controle estatístico como base para definição de estratégias de longo prazo é levada muito a sério pelos alemães. Para se ter uma ideia, eles dispõem de um banco de dados que remonta ao ano de 1981 até os dias atuais. Nele estão incluídos o  detalhamento de polos-emissores e gastos realizados pelos turistas em toda a cadeia turística.

Pesquisas sobre o perfil dos visitantes já são realizadas no RN, inclusive pelo Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Comércio (IPDC), da Fecomércio. “Ao conhecer o trabalho deles percebemos que podemos melhorar em muitos pontos e faremos isso de imediato. Em outras, vamos ainda conversar com os demais membros da missão e até com os poderes públicos e outros atores do setor”, pontua o presidente Marcelo Queiroz.

Na região do Mosel, uma agência privada, a Trier Tourism und Marketing (TTM), cuida das ações de marketing, gestão e planejamento turístico. A comitiva potiguar teve pelo menos duas reuniões e apresentações técnicas com esta empresa nas quais foram apresentadas as estratégias de relacionamento com os públicos-alvo desenvolvidas com o objetivo de consolidar a atividade turística como um motor cada vez mais importante para a economia.

Uma das estratégias é apostar em eventos e em visitas guiadas temáticas, aproveitando o perfil histórico da região que tem cinco monumentos declarados pela Unesco como Patrimônio Histórico da Humanidade, entre eles, monumentos romanos, Catedral de São Pedro e Igreja de Nossa Senhora em Trier.

A qualificação do atendimento também entra na lista de diferenciais utilizados, trata-se da “Costumer Journey”. A agência realizou pesquisas e traçou perfis que definiram cinco “personas”, que são clientes que se enquadram nos padrões do público alvo de cada destino. A definição dos perfis desses clientes foi feita com base em pesquisas qualitativas e que delinearam, entre outras coisas, pontos como os atrativos preferidos, o tipo de hospedagem, a distância da residência e o tempo de permanência pretendidos. 

De posse dos perfis do público-alvo de cada destino, a agência, em parceria com as entidades que a mantém, passou a monitorar clientes que se encaixassem neles e a ouvi-los de forma mais detalhada para saber, por exemplo, quando iam procurar comprar efetivamente o pacote, que motivos poderiam fazê-lo desistir da viagem. O material direcionado às “personas” leva em conta as características de cada um, por exemplo, com uma folheteria em letras maiores para o público da terceira idade ou uma base de comunicação mais personalizada para esportistas.

Outra ferramenta que impressionou os potiguares foi uma ampla e diversificada plataforma de comunicação, com site (www.rlp.tourismusnetzwerk.info), aplicativos e reuniões por videoconferência, desenvolvidos pela Agência Estadual Para o Desenvolvimento Turístico da Renânia-Palatinado (Rheinland-Pfalz Tourism Gmbh, a RPT).

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